sábado, setembro 30, 2023

REFLEXÃO PARA O 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 21,28-32 (ANO A)



O evangelho deste vigésimo sexto domingo é Mt 21,28-32, texto que compreende a chamada parábola dos dois filhos, cujo pai os ordena a trabalhar na sua vinha. É uma parábola exclusiva do Evangelho de Mateus, sendo a segunda de uma trilogia que emprega a imagem da vinha como representação do Reino de Deus, na respectiva obra. A primeira foi lida no domingo passado (dos trabalhadores da vinha – Mt 20,1-16) e a terceira será lida no próximo domingo (dos vinhateiros homicidas – Mt 21,33-43). Enquanto aquela do domingo passado foi contada ainda no contexto narrativo do caminho de Jesus com seus discípulos em direção à cidade de Jerusalém, a de hoje já é contada na “cidade santa”. Isso quer dizer que o texto se localiza na seção narrativa do ministério de Jesus em Jerusalém, e é dessa seção que será tirado o evangelho de cada domingo, de hoje até o final do corrente ano litúrgico. Como se sabe, foi em Jerusalém que Jesus viveu a fase mais tensa de seu ministério, confrontando-se diretamente com as autoridades religiosas e políticas da época. Tanto é que o desfecho desse confronto foi a condenação à morte de cruz. O evangelho de hoje já reflete esse confronto.

O texto retrata Jesus no templo de Jerusalém, um espaço que se tornou sinônimo de conflito e hostilidade para ele. Inclusive, o seu primeiro gesto em Jerusalém, logo após uma entrada triunfante (Mt 21,11), foi denunciar a situação deplorável em que o templo se encontrava, tendo se transformado em “antro de ladrões”, quando deveria ser uma casa de oração (Mt 21,12-17). Jesus não se conformou em ver o templo transformado em casa de comércio e o nome de Deus, o seu Pai, transformado em mercadoria e instrumento de exploração. Por isso, denunciou corajosamente aquela situação, desmascarando a classe dirigente, especialmente os sacerdotes, que exploravam o povo em nome de Deus. A denúncia do templo foi o estopim para o conflito de Jesus com as classes dirigentes, que passaram a vigiar cuidadosamente os seus passos e os seus ensinamentos. E o ensinamento de Jesus divergia completamente do magistério oficial da época. Sua mensagem libertadora visava a construção do Reino de Deus como sociedade alternativa à ordem vigente. Isso exigia uma transformação total, com a supressão de todas as estruturas de poder e exploração, começando pela religião que explorava e até matava em nome de Deus.

Apesar das divergências e hostilidades, em Jerusalém, Jesus ensinava no templo, pois era lá que havia grande concentração de pessoas e onde ele poderia questionar mais diretamente a classe dirigente. É claro que não era do púlpito que ele ensinava, mas nos diversos átrios, pois sua mensagem libertadora era insuportável para os dirigentes. Por isso, ele foi duramente questionado, como recorda o evangelista: «Jesus voltou ao Templo. Enquanto ensinava, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo se aproximaram e perguntaram: ‘Com que autoridade fazes tais coisas? Quem foi que te deu essa autoridade?’» (Mt 21,23). O trecho lido hoje faz parte deste confronto específico, quando Jesus teve a sua autoridade questionada pelos sacerdotes e anciãos, por causa da expulsão dos vendedores do templo, sobretudo, pois foi o seu primeiro gesto profético na cidade. E Jesus respondeu a esse primeiro questionamento denunciando a hipocrisia e a falsa autoridade que os dirigentes exerciam, o que serve de advertência aos seus discípulos e discípulas de todos os tempos para o risco de reproduzir o modelo de religião que ele denunciou. Como de costume, Jesus não dá uma resposta pronta, mas provoca em seus interlocutores a reflexão, buscando tirar deles mesmos a resposta. Ele parte do exemplo de João Batista, deixando os sacerdotes e anciãos embaraçados (Mt 21,24-24), até chegar na parábola lida na liturgia de hoje.

Como o início do próprio texto indica, através da pergunta introdutória «Que vos parece?», o que é dito em seguida visa reforçar algo já introduzido na discussão anterior. Na verdade, é a continuação de uma discussão em andamento, na qual Jesus afirma sua autoridade, após ser questionado pelos sacerdotes e anciãos, ou seja, os chefes religiosos e, ao mesmo tempo, denuncia a ilegitimidade deles. Essa fórmula de introdução em forma de pergunta já tinha sido utilizada na parábola da ovelha perdida (Mt 18,12), e funciona como uma chamada de atenção para o que vem a seguir; significa que se trata de um ensinamento de fundamental importância. Indica também que será exigida uma resposta e tomada de posição dos interlocutores, no final. Eis, então, o início do texto: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha’» (v. 28). A vinha é uma imagem clássica na tradição bíblica para designar o povo de Deus (Is Is 5,1-7), e adaptada por Jesus como imagem do Reino de Deus (Mt 20,1-16) por ele inaugurado. Os personagens da parábola – um pai e dois filhos – também são imagens bem significativas, muito valorizadas pelas tradições das primeiras comunidades, como sempre foram ao longo da história de Israel. Inclusive, essa parábola se aproxima daquela que em Lucas é chamada de “parábola do filho pródigo” ou do “pai misericordioso” (Lc 15,11-32).

Geralmente, quando aparece uma narrativa protagonizado por dois irmãos, na Bíblia, evidencia-se a contraposição de comportamento e conduta entre os dois. Vemos isso desde o início, com os exemplos de Caim e Abel (Gn 4,1-16), Esaú e Jacó (Gn 25,19–27,45). Tanto Jesus quanto o evangelista, portanto, se ancoram nessa tradição, sobretudo quando visam provocar uma tomada de posição dos interlocutores e dos discípulos, sobretudo. E o foco do ensinamento da parábola consiste exatamente na contraposição de comportamento dos dois filhos que receberam a mesma ordem, mas responderam e agiram de modo oposto. Ao pedir que os filhos trabalhassem na sua vinha, o pai queria que eles se sentissem colaboradores diretos da sua obra. Assim, fica claro, desde o início, que Jesus quer apresentar um pai que compartilha o que é seu com os filhos e pede que esses sejam seus colaboradores. Considerando que esse pai representa Deus, na parábola, Jesus está também denunciando a ilegitimidade da autoridade dos sacerdotes e anciãos, considerados na época como os únicos responsáveis pelas “coisas de Deus” na terra. O pai interage diretamente com os dois filhos, apresenta sua proposta, seu programa, sem necessidade de intermediários, como fez o proprietário da vinha na parábola do domingo passado, ao ir diretamente à praça em busca de trabalhadores. Tudo isso indica o jeito novo de Deus se comunicar com a humanidade, a partir de Jesus, o verdadeiro Deus conosco.

O pai fez a mesma proposta aos dois filhos, ou seja, convidou-os para trabalhar na vinha, e recebeu respostas diferentes. Eis a reação do primeiro destinatário da ordem/convite do pai: «Não quero». Apesar de brusca, é uma resposta sincera e direta, sem nenhum formalismo. Porém, depois, aquele filho «mudou de opinião e foi» (v. 29b). O que a tradução do lecionário traz como “mudou de opinião” seria mais bem traduzido por “arrependeu-se”, pois corresponde melhor ao verbo empregado na língua original do texto (verbo grego metamelómai – μεταμέλομαι). Esse verbo faz parte do vocabulário da conversão, na linguagem bíblica. Dai, podemos dizer, portanto, que aquele filho se converteu e foi trabalhar na vinha do seu pai. Ele mudou não apenas de opinião, mas de mentalidade e, por consequência, mudou o jeito de agir. E é nisso que consiste a conversão. Eis, agora, a resposta-reação do segundo filho: «‘Sim, Senhor, eu vou’. Mas não foi» (v. 30b). Dessa vez, a resposta é respeitosa, carregada de formalismo. Inclusive, o pai é tratado como “senhor”. Porém, a postura do filho não foi coerente com a resposta. Como se vê, tanto foram diferentes as respostas quanto as atitudes de cada um dos dois filhos. O centro do ensinamento de Jesus com essa parábola está exatamente aqui, no contraste entre as respostas e os comportamentos dos dois filhos, como já afirmamos anteriormente.

Historicamente, Israel, como povo da aliança, disse sim a Deus com palavras, embora seu comportamento tenha se distanciado tanto da verdadeira vontade de Deus. Com esse contraste entre os dois filhos, Jesus provoca seus interlocutores e os convida a uma reflexão. Por isso, lhes pede um juízo, uma opinião sobre os dois filhos: «Qual dos dois fez a vontade do pai?». E, como não poderia ser diferente, «Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: ‘O primeiro’» (v. 31). De fato, a resposta não poderia ser outra, pois a parábola é muito clara. Quem fez a vontade do pai foi mesmo o primeiro filho, aquele que disse “não” inicialmente, mas se arrependeu e foi trabalhar na vinha. Ao ir trabalhar, esse primeiro filho fez verdadeiramente a vontade do pai, mesmo tendo respondido negativamente, uma vez que o importante para Deus não são as palavras, mas sim as atitudes. O segundo filho, pelo contrário, não fez a vontade do pai porque ficou apenas no discurso, não levou a solene resposta – «Sim, Senhor» – para a prática. Com isso, Mateus chama a atenção da sua comunidade e dos cristãos de todos os tempos para também não caírem nos mesmos erros e contradições das lideranças religiosas de Israel. Por sinal, Mateus já havia introduzido esse tema no discurso da montanha, ao recordar as palavras de Jesus que priorizam o fazer sobre o dizer: «Não é aquele que diz: ‘Senhor! Senhor!’ que entrará no Reino dos céus, mas aquele que realiza a vontade do meu Pai que está nos céus» (Mt 7,21). Em outra ocasião, numa discussão com os escribas e fariseus, ele também denunciou a contradição e incoerência entre o discurso e a prática das lideranças religiosas de Israel, com uma citação do profeta Isaías: «Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim» (Mt 15,8 = Is 29,13).

Com certeza os chefes religiosos de Jerusalém já tinham percebido a complexidade da situação em que tinham se envolvido ao questionar a autoridade de Jesus. Sem dúvidas, o clima piorou ainda mais com a continuação da resposta de Jesus a eles: «Então Jesus lhes disse: ‘Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus’» (v. 31b). Dessa vez, Jesus passou dos limites, pensaram eles, certamente. Enquanto Jesus os acusava com uma linguagem simbólica, eles poderiam ignorar, mudar o foco ou até propor uma interpretação distorcida. Mas assim, de modo tão claro e objetivo, não seria possível. Os cobradores de impostos e as prostitutas eram, de acordo com a mentalidade da época, as piores categorias de pessoas, a verdadeira escória da sociedade, e Jesus ousou dizer que elas herdariam primeiro o Reino de Deus do que as pessoas religiosas de Israel. O verbo preceder no presente indica a realização imediata ou, pelo menos, o começo do Reino de Deus na história. Jesus inaugura o Reino em sua vida e tem clareza de quem estava aderindo primeiro. Também chama a atenção nessa passagem o emprego da expressão “Reino de Deus”, rara no Evangelho de Mateus, já que ele prefere “Reino dos Céus”, provavelmente para não afetar a sensibilidade judaica, tendo em vista a impronunciabilidade do nome de Deus, tão recomendada nos textos legislativos do Antigo Testamento. Enquanto Reino dos Céus aparece trinta e duas vezes, Reino de Deus aparece apenas cinco vezes no respectivo Evangelho.

A rejeição dos chefes à mensagem de Jesus é comparável à rejeição sofrida por João (v. 31). De fato, também o precursor veio «num caminho de justiça», mas foi rejeitado pelos conhecedores da lei e dos profetas, ou seja, pelas pessoas religiosas como os sacerdotes e anciãos, fechados ao arrependimento devido à autossuficiência de suas convicções religiosas e pelos privilégios que haviam. De fato, para as classes privilegiadas, a mensagem emancipatória de Jesus soa sempre como uma ameaça. Por outro lado, «os cobradores de impostos e as prostitutas» (v. 31b), rejeitados pela religião, mas abertos à conversão, sedentos de compreensão e acolhimento, necessitados de humanização, acreditaram no Batista e em Jesus, tornando-se, assim, herdeiros do Reino de Deus, a nova vinha do Pai, que é o próprio Deus. É claro que nem todos os publicanos e prostitutas se converteram, mas é certo que houve adesão de gente dessas categorias e todos os grupos marginalizados da época à mensagem inclusiva de Jesus. Na verdade, a menção a essas duas categorias funciona como síntese de todos as classes de pessoas marginalizadas, destinatárias privilegiadas do projeto humanizador de Jesus. Desse modo, a máxima proverbial que emoldurava a parábola do domingo passado, é atualizada também na parábola de hoje: «Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos» (Mt 20,16). É importante que, assim como a comunidade de Mateus soube atualizar essa mensagem, também as nossas comunidades de hoje saibam. Os primeiros de sempre, transformados em últimos na dinâmica do Reino serão sempre as pessoas autossuficientes, arrogantes, conhecedoras dos mínimos detalhes das leis religiosas, como eram os sacerdotes, anciãos e escribas da época de Jesus. Hoje, embora em outras modalidades, essas pessoas continuam presentes em nossas comunidades, com a mesma autossuficiência, julgando, excluindo e determinando como o outro deve agir.

É preciso, portanto, identificar quem são os últimos de hoje para os reconhecermos como primeiros no Reino. Na época, Jesus identificou os cobradores de impostos e as prostitutas, exemplos máximos de pessoas pecadoras e, por isso, distantes de Deus. Hoje, certamente há uma relação muito maior de categorias de pessoas excluídas pelas religiões e comunidades eclesiais que Jesus as colocaria como primeiras no Reino de Deus. Todos os que sofrem discriminações, vítimas de preconceitos, e excluídos por quem controla e impõem as normas de comportamento, estariam na lista de Jesus, precedendo aqueles que louvam com os lábios, mas pouco fazem para o Reino acontecer, ou seja, não fazem a vontade do pai. Fazer a vontade do Pai é o requisito básico para entrar no Reino. E faz a vontade do Pai quem assimila o estilo de vida de Jesus.

Pe. Francisco Cornélio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, setembro 23, 2023

REFLEXÃO PARA O 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 20,1-16 (ANO A)



Neste vigésimo quinto domingo do tempo comum, o evangelho proposto pela liturgia é Mt 20,1-16, texto que compreende a parábola dos trabalhadores da vinha, que também pode ser chamada de parábola do patrão generoso ou, simplesmente, do proprietário da vinha. Trata-se de uma parábola exclusiva do Evangelho de Mateus, na qual Jesus compara o Reino dos Céus a uma vinha, imagem clássica do povo de Israel, segundo as tradições do Antigo Testamento. Mas Jesus ressignifica a imagem, apresentando-a sob nova perspectiva, mostrando o jeito novo de Deus relacionar-se com seu povo e com a humanidade inteira. Na verdade, mais do que descrever o Reino propriamente, a parábola enfatiza as novas relações que marcam a dinâmica do Reino e os critérios para dele fazer parte, o que passa necessariamente pela assimilação de uma nova imagem de Deus. É a passagem da concepção de um Deus calculista e justiceiro para o Deus justo e amoroso de Jesus. Em Mateus, constam três parábolas com a imagem da vinha, sendo duas exclusivas, enquanto nos outros sinóticos há apenas uma, que é contada também por Mateus. Essas parábolas são: “dos trabalhadores da vinha” (Mt 20,1-16); “dos dois filhos” (Mt 21,28-32); “dos vinhateiros homicidas” (Mt 21,33-41; Mc 1,1-12; Lc 20,9-19). Esse dado evidencia a afinidade maior do primeiro evangelista com as tradições do Antigo Testamento.

O contexto narrativo da parábola dos trabalhadores da vinha é a seção do caminho de Jesus com seus discípulos para a cidade de Jerusalém. Em Mateus, o caminho ocupa apenas dois capítulos (Mt 19–20), enquanto no Evangelho de Lucas ocupa dez capítulos (Lc 9-19). Mas o fato de ocupar menos espaço não significa que o caminho possua pouca importância no Evangelho de Mateus. Tudo o que Jesus faz e ensina nessa seção possui grande relevância para a formação do discipulado e a construção do Reino. Em Lucas, obviamente, a relevância é maior porque ele faz do caminho o lugar privilegiado do ensinamento de Jesus, transformando-o em imagem da própria comunidade. Mas também para Mateus o caminho é importante, pois constitui uma etapa indispensável e, por isso, irrenunciável da vida de Jesus, que devia passar da Galileia para Jerusalém, onde conclui os seus ensinamentos e a sua vida terrena. Quanto mais Jesus se aproximava de Jerusalém, mais necessidade tinha de instruir seus discípulos sobre a natureza do Reino que ele estava propondo. Ora, os discípulos e as multidões que seguiam Jesus continuavam sonhando com a restauração do reino davídico-salomônico e, por isso, tinham dificuldades de compreender e aceitar o Reino como ele apresentava.

Diante da incompreensão e resistência dos discípulos, Jesus procurava cada vez mais apresentar as particularidades do Reino dos Céus e a mudança de mentalidade que esse exigia para ser assimilado e construído. Considerando o conteúdo e a posição da parábola de hoje na dinâmica narrativa do Evangelho de Mateus, podemos concluir que ela constitui o ápice do ensinamento de Jesus aos discípulos sobre o Reino dos Céus. Ao chegar em Jerusalém, ele continuará ensinando, mas ali os destinatários e interlocutores primeiros já não serão exclusivamente os discípulos, e sim os fariseus, saduceus, doutores da lei e sacerdotes, ou seja, as lideranças do judaísmo, que possuíam também forte influência na vida política de Israel, na época. Portanto, o ensinamento exclusivo aos discípulos é praticamente concluído com esta parábola. Diante, disso, para compreendê-la ainda melhor, é importante recordar os acontecimentos que antecedem: o encontro de Jesus com o jovem rico (19,16-22) e a reação dos discípulos ao desfecho desse encontro (19,23-30).

Os discípulos tinham ficado perplexos com o diálogo entre Jesus e o jovem rico, sobretudo por causa das exigências apresentadas. Diante isso, Pedro, em nome do grupo, fez a seguinte pergunta a Jesus: «E nós que deixamos tudo e te seguimos, que recompensa teremos?» (19,27). Ora, percebendo a falta de coragem do jovem rico para o despojamento e o seguimento, Pedro quis tirar vantagem da situação, insinuando que ele e os seus colegas discípulos de primeira chamada seriam merecedores de privilégios. Jesus lhe assegurou que não ficará sem recompensa quem deixar tudo para segui-lo, mas não promete privilégios, uma vez que «muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos serão primeiros» (19,30). Essa expressão proverbial corresponde ao último versículo do capítulo 19 e a parábola começa no primeiro versículo do capítulo 20. Ao concluir a parábola, Jesus repete essa mesma máxima, embora modificando a ordem: «Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos» (20,16). A parábola é, portanto, uma explicação ilustrada desse pensamento que propõe uma reviravolta na história, uma inversão total da ordem vigente, começando pela maneira de conceber as relações com Deus. E os primeiros necessitados dessa explicação são os próprios discípulos.

Feita a contextualização, podemos voltar a atenção diretamente para o texto, começando pelo primeiro versículo: «O Reino dos Céus é como a história de um patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha» (v. 1). Como se vê, Jesus está introduzindo uma parábola do Reino dos Céus, o que confere grande importância ao texto, tendo em vista a centralidade do Reino em sua pregação. É importante recordar que as parábolas apresentam comparações por imagens, e não descrições do Reino propriamente. Ora, como o Reino consiste em um mundo novo, uma sociedade alternativa, completamente diferente das sociedades humanas até então experimentadas, ele não pode ser descrito, uma vez que ainda não fora inteiramente experimentado plenamente. Em relação ao protagonista da parábola, ao invés do termo patrão, como traz a tradução do lecionário, é mais adequada a expressão “dono da casa” ou “pai de família”, uma imagem mais suave e mais fiel ao termo empregado pelo evangelista na língua original (em grego: οἰκοδεσπότῃ – oikodéspote). Segundo o texto, «Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha» (v. 2). O pagamento acordado, traduzido por uma moeda de prata – em grego: δηνάριον – denárion – corresponde ao básico para um dia de trabalho em praticamente todo o império romano, e era suficiente para o sustento diário de uma família.

O fato de ser o próprio dono da casa quem sai em busca de operários já indica tratar-se de alguém acessível, interessado em conhecer pessoalmente os trabalhadores da sua vinha. E dono da vinha da parábola representa o próprio Deus. Com esse primeiro detalhe, Jesus acena para a ilegitimidade da mediação dos líderes religiosos do seu tempo, principalmente o sacerdócio do templo. Ora, aqueles líderes já não tinham legitimidade para falar em nome de Deus, até porque tinham distorcido a sua imagem, transformando-o de Pai, que ama e cuida, em patrão vingativo e castigador. A imagem do “dono da casa” da parábola, portanto, se aproxima do “Deus Conosco” que Jesus veio revelar (Mt 1,23; 18,20; 28,20). É uma imagem que recorda também aquela do “Pai misericordioso” da chamada “parábola do filho pródigo” de Lucas (Lc 15,11-32), pois não recompensa conforme os méritos, mas age por pura bondade e gratuidade. Esse dono demonstra um zelo ímpar para com a sua vinha, comparável ao zelo de Deus pela humanidade inteira. Ele sai várias vezes – cinco no total – durante o dia em busca de trabalhadores: pela madrugada (v. 1), às nove da manhã (v. 3), ao meio-dia (v. 5), às três (v. 5) e às cinco da tarde (v. 6). O contato direto dele com os trabalhadores deixa ainda mais claro o advento das novas relações entre a humanidade e o Deus da vida que Jesus revelou. Um Deus presente, realmente “Conosco”, como apresenta Mateus ao longo de todo o seu Evangelho (1,23; 18,20; 28,20). Um Deus que chama porque ama, que confia a construção do seu Reino a todos os que encontra parados nas praças, calçadas, estradas, que nunca tinham sido reconhecidos nem chamados por ninguém. E, ao chamar, esse Deus não pede currículo algum, porque sua intenção é a inclusão: ele não quer que ninguém fique fora do seu Reino, ao contrário da religião que segregava e excluía, ao classificar as pessoas entre justos e pecadores. Ele quer que todas as pessoas se sejam humanizadas pela sua misericórdia e amor, independentemente da hora em que se sintam chamadas.

De todas as idas em busca de trabalhadores, uma das que mais chama a atenção é a última, já às cinco da tarde, faltando apenas uma hora para terminar a jornada de trabalho. E é nela que o proprietário demonstra mais cuidado e preocupação, como se percebe pelo diálogo criado: «Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: ‘Por que estais aí dia inteiro desocupados?’. Eles responderam: «Porque ninguém nos contratou’. O patrão lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’» (vv. 6-7). A pergunta revela o interesse do proprietário pela vida das pessoas encontradas na praça. A história de cada um é importante para compreender sua maneira de viver. A resposta dos últimos contratados demonstra tratar-se de pessoas marginalizadas, esquecidas, excluídas da vida social e religiosa. Se estavam naquela situação, é porque ninguém tinha se interessado por elas: «Porque ninguém nos contratou». Além de mostrar o interesse de Deus por todos, com predileção pelos últimos, esse diálogo adverte para a importância de interessar-se pela vida do outro e conhecer as causas do abandono em que milhões de pessoas se encontram no mundo, sem trabalho, sem alimento, sem moradia e sem os mínimos direitos respeitados. Muitas vezes, na própria comunidade, as pessoas são rotuladas e julgadas pelas situações a que foram submetidas. É claro que a parábola não pode ser lida à luz das relações trabalhistas e as respectivas leis, mas é impossível não se deixar interpelar por ela sem aplicá-la a situações concretas atuais.

A interação do proprietário com os últimos trabalhadores contratados explica a motivação da parábola e vai justificar a conclusão: «Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos» (Mt 19,30; 20,16). Ora, aqueles trabalhadores que ainda não tinham sido contratados por ninguém eram mais necessitados; provavelmente tinham passado a vida toda às margens, até a chegada de um proprietário generoso que fosse ao encontro deles e lhes chamassem pessoalmente, restituindo-lhes a dignidade, até então negada. Por isso, eles terão prioridade na hora do pagamento, como imagem da nova ordem que compreende o Reino de Deus. Ora, ao contrário do sistema vigente na época de Jesus e no período da redação do Evangelho de Mateus, no Reino por ele anunciado, não há lugar para a competitividade, nem para a meritocracia. É claro que nem todos conseguiam assimilar com facilidade essa nova mentalidade inclusiva, que consistia na passagem da religião da lei para a da misericórdia e da bondade. Essa dificuldade é demonstrada na parábola pela reação dos primeiros contratados no momento do pagamento. Os primeiros a receber foram os últimos contratados, sendo que trabalharam apenas uma hora, pois foram chamados já às cinco da tarde e a jornada de trabalho terminava às seis. E «cada um recebeu uma moeda de prata» (v. 9). Temos, obviamente, uma grande surpresa, pois eles recebem o mesmo valor que tinha sido combinado para os primeiros contratados.

A surpresa aumenta com o pagamento dos primeiros contratados, embora tenham recebido o valor combinado no momento da contratação: «Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que ia receber mais. Porém, cada um deles recebeu uma moeda de prata» (v. 10). Considerando o valor pago aos últimos, esperava-se que os primeiros recebessem no mínimo o dobro deles, afinal, os primeiros tinham trabalhado de sol a sol, enquanto os últimos trabalharam apenas uma hora. Contudo, o pagamento combinado era suficiente para o sustento diário. Temos aqui, portanto, um apelo à igualdade e um combate à ganância e à cultura do acúmulo. O importante é que haja igualdade, que todos tenham o suficiente para o pão de cada dia, de modo que ninguém tenha nada em excesso nem falte o essencial para ninguém. Ora, ao pagar primeiro aos últimos contratados, e dar-lhes o mesmo valor dado aos contratados ainda na madrugada, o patrão inverteu completamente a lógica da economia, fez uma reviravolta total nas relações: ao invés de agir conforme a lei, ele agiu com misericórdia e bondade. E isso deixou furiosos aqueles que tinham sido contratados primeiro, como diz o texto: «ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: ‘Estes últimos, trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro’» (vv. 11-12). O patrão tinha duas opções: agir conforme a lei e, assim, perpetuar a desigualdade, ou agir pela bondade e, assim, promover a igualdade. Como preferiu a segunda opção, foi duramente contestado.

Com a reação dos primeiros contratados, Jesus denuncia a mentalidade competitiva entre os discípulos e, ao recordar isso, Mateus também denuncia a situação da sua comunidade, composta predominantemente por cristãos provindos do judaísmo, que reivindicavam vantagens e privilégios sobre os cristãos convertidos do paganismo. Como os primeiros contratados da parábola que alegavam ter suportado cansaço e calor, os cristãos de origem judaica alegavam conhecer e observar a Lei e os profetas, como primeiros destinatários da revelação de Deus e povo eleito, imaginando que isso lhes daria privilégios dentro da comunidade do Reino, por serem os verdadeiros herdeiros das antigas promessas. Esse comportamento se assemelha ao do filho mais velho na parábola do “Pai misericordioso” ou “Filho pródigo” de Lucas (Lc 15,11-31), de modo que podemos equipará-las na ênfase à misericórdia do Pai revelada por Jesus, como já acenamos anteriormente, e no comportamento mesquinho dos primeiros contratados. A reação do patrão ao murmúrio dos primeiros contratados é a clara denúncia de Jesus e de Mateus às pessoas religiosas que queriam controlar o agir de Deus, prendendo-o a doutrinas e normas: «Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja porque estou sendo bom?» (v. 15).

O desconforto de uma religião sustentada pela mentalidade meritocrática, retributiva e legalista é grande quando se descobre que o Deus verdadeiro é um Pai que ama, perdoa, vai pessoalmente ao encontro das pessoas afastadas, promove a igualdade e humaniza pela misericórdia. Jesus, o revelador do Pai, contesta radicalmente a religião que se propõe a determinar a maneira de Deus agir. Para ele, isso é inadmissível, é um verdadeiro atentado contra Deus. Certamente, a denúncia de Jesus e do evangelista continua válida também para os dias atuais. Pois, como sabemos, também hoje, muitas pessoas religiosas ainda têm dificuldade de aceitar um Deus misericordioso que age com liberdade e doa seu amor a todos, sem distinção. Na verdade, esse Deus continua sendo negado por essas pessoas. É inadmissível um Deus que não premia os bons e castiga os malvados. Para essas pessoas, a salvação é um prêmio, e não um dom; Deus é um soberano, e não um Pai; o outro é um concorrente, e não um irmão; a Igreja é um tribunal, e não uma fraternidade. Mas a modo de agir do “dono da casa” da parábola desmente completamente essa concepção errada de Deus.

Assim, chegamos à conclusão e síntese da parábola: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (v. 16). Como tínhamos afirmado na introdução, a parábola em si é a explicação para essa máxima proverbial. Não se trata de uma exclusão aos que chegaram primeiro no grupo de discípulos ou na comunidade, mas uma demonstração de que o fato de terem chegado primeiro não lhes dá privilégios nem supremacia sobre os que vieram e virão depois. Essa expressão é apenas um modo de enfatizar que aqueles que forem chamados por último terão acesso ao mesmo amor, à mesma bondade de Deus que os primeiros, e devem ter prioridade na comunidade, devido ao histórico de exclusão que carregam. O Reino, apresentado como vinha, é também casa, família, é fraternidade e igualdade. É comunidade humanizada e humanizante. 

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, setembro 16, 2023

REFLEXÃO PARA O 24º DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 18,21-35 (ANO A)



A liturgia deste vigésimo quarto domingo do tempo propõe a continuação da leitura do “discurso comunitário” do Evangelho de Mateus. O trecho escolhido para este dia é a continuação imediata daquele do domingo passado: Mt 18,21-35. Como se sabe, o “discurso comunitário”, chamado também de “discurso eclesial”, é o quarto dos cinco grandes discursos atribuídos a Jesus no Evangelho de Mateus, ocupando praticamente todo o capítulo dezoito do respectivo Evangelho. Esse discurso recebe tal nome porque trata das questões relativas à vida interna da comunidade cristã, com ênfase nas relações interpessoais entre os seus membros, que devem ser orientadas para a fraternidade. No trecho lido no domingo passado – Mt 18,21-35 – foi evidenciado o tema da correção fraterna, ressaltando que a comunidade e seus membros não podem medir esforços para que nenhum irmão ou irmã se afastem da fraternidade. No texto lido hoje, predomina o tema do perdão, com ênfase na certeza do perdão sem limites de Deus a todos os seus filhos e filhas, e consequente responsabilidade dos membros da comunidade praticarem o perdão entre si de modo também ilimitado.

Como no domingo passado (vigésimo terceiro domingo), cujo texto evangélico proposto pela liturgia foi Mt 18,15-20, já fizemos a contextualização de todo o capítulo dezoito, hoje podemos nos isentar dessa tarefa, recordando apenas alguns elementos essenciais. E começamos os destinatários primeiros do discurso, que são os discípulos e discípulas de Jesus que, com o passar do tempo e o crescimento da comunidade, pareciam esquecer ou relativizar a essência da mensagem de Jesus, que sempre teve o amor como centro. E um dos primeiros frutos do amor é o perdão, assim como a misericórdia de Deus é a marca principal do seu jeito de amar à humanidade. Portanto, é indispensável que toda pessoa que sente o amor de Deus em sua vida esteja também disponível a amar o próximo e perdoá-lo sempre. A mensagem do evangelho de hoje gira em torno desse ensinamento. A insistência do evangelista Mateus sobre o tema do perdão diz muito sobre a natureza da Igreja e, sobretudo, das suas comunidades. Por sinal, ele sempre mostrou que a comunidade de fé é composta de pessoas imperfeitas, sempre sujeitas ao erro, sobretudo nas relações com o próximo (Mt 13,24-30.47-50). Isso justifica a necessidade de se criar uma verdadeira cultura do perdão e da reconciliação.

Sendo os discípulos os destinatários primeiros do discurso, e interlocutores diretos de Jesus, conforme o contexto narrativo, é deles que partem as primeiras reações ao que ele estava ensinando. E ele estava ensinando sobre o esforço da comunidade para que nenhum irmão se perca, recomendando que sejam tomadas diversas iniciativas para que haja reconciliação e correção fraterna. Diante disso, diz o evangelista que «Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?’» (v. 21). Como vemos, é Pedro o primeiro a se manifestar, não por exercer uma atividade de proeminência sobre os demais, mas por refletir a voz de todo o grupo e ser ele o que melhor sintetiza as características do grupo, incluindo a fé e o esforço de dar o melhor de si, bem como as contradições e incoerências. Para os evangelistas, e principalmente para Mateus, Pedro é a cara dos doze: professa solenemente a fé em Jesus como o Cristo e Filho de Deus (Mt 16,16), mas também o nega no momento mais difícil (Mt 26,69-75), ora fala conforme a vontade do Pai, ora conforme satanás (Mt 16,17.23). Portanto, a figura de Pedro funciona como uma síntese do grupo dos doze, sobretudo, em Mateus. Por isso, ele é o porta-voz principal de todos os discípulos.

Jesus tinha apresentado a necessidade da reconciliação como uma busca irrenunciável para a comunidade (18,15-20). Como não há reconciliação sem perdão, ele vai apresentar a necessidade do perdão permanente e contínuo na vida da comunidade. Aqui, Pedro encontra a oportunidade de interagir, por meio de uma pergunta. Nessa pergunta de Pedro há, mais do que uma dúvida, uma convicção: se deve perdoar, mas com prudência e limite. A convicção mostra que ele tinha assimilado as tradições de Israel e a convivência humanizante com Jesus já lhe tinha ampliado o horizonte. O limite, contudo, é praticamente determinar a quantidade do perdão a sete vezes, afinal, o número sete evoca perfeição e completude. O perdão sempre fez parte das tradições de Israel, porém, com certas restrições. Na época de Jesus, por exemplo, sobretudo nas escolas rabínicas, predominava um costume de aconselhar o perdão até três vezes para uma mesma pessoa. A pergunta propositiva de Pedro, com a possibilidade de conceder o perdão até sete vezes à mesma pessoa compreendia mais do que o dobro do que os costumes da época. Sem dúvidas, percebe-se um significativo avanço na mentalidade de Pedro e dos discípulos que ele representa. É um saldo qualitativo e quantitativo admirável. Aos poucos, a lógica calculista da antiga religião estava sendo superada entre os discípulos. O que continuava negativo na mentalidade deles era a insistência em querer medir quantitativamente aquilo que deve ser ilimitado.

Provavelmente, ao propor um número superior ao dobro do que era ensinado pelos mestres da época, Pedro imaginava receber um elogio de Jesus, pois tinha demonstrado uma «justiça superior à dos escribas e fariseus» (Mt 5,20), como Jesus tinha exigido ainda no seu primeiro discurso, aquele chamado de “discurso da montanha” (Mt 5– 7). No entanto, Jesus vai muito além, com a sua resposta: «Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (v. 22). Sem dúvidas, Pedro e os demais discípulos ficaram desconcertados com essa resposta. A pergunta de Pedro já refletia uma abertura na comunidade para ir além dos costumes da época, mas com certos limites. A resposta de Jesus ensina a romper com todos os limites. Não se trata de um convite ou ordem para os discípulos fazerem uma multiplicação e chegarem a uma cifra elevada, porém, contável (70 x 7 =490), mas simplesmente um sinal de que não há espaço para números no que diz respeito às relações com o próximo na comunidade cristã, até porque as relações com o próximo e com Deus são inseparáveis. Essa expressão numérica não indica uma quantidade, mas a qualidade: o perdão é ilimitado e incontável; deve ser concedido conforme a necessidade, e não conforme cálculos.

Para deixar ainda mais clara a necessidade do perdão entre os irmãos, Jesus apresenta uma parábola, que funciona como explicação do seu ensinamento. Nesse mesmo discurso Ele já tinha contado uma primeira parábola, aquela da ovelha perdida (18,10-14), ao enfatizar que as relações na comunidade devem refletir o amor e a misericórdia do Pai para que nenhum pequenino se perca do rebanho, ou seja, para que ninguém se separe da comunhão fraterna. Agora, com essa segunda parábola, ele reforça esse ensinamento: «O Reinos dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados» (v. 23). Antes de tudo, convém recordar que uma parábola é apenas uma comparação, e não uma descrição. É importante fazer esse esclarecimento para não distorcermos a imagem do Pai misericordioso, convertendo-o em um soberano ou juiz vingativo. Por isso, o primeiro objetivo dessa parábola é mostrar a abundância do perdão ilimitado de Deus e alertar para a dificuldade que a comunidade tem de praticar o perdão. O segundo objetivo é levar a comunidade a superar essa dificuldade, denunciando a frequente incoerência em invocar o perdão do Pai quando não há disposição de perdoar ao próximo também de modo ilimitado.

De modo simplificado, podemos compreender a parábola da seguinte maneira: tudo o que se recebe de Deus é dom, e tudo o que é dom deve ser partilhado. O primeiro empregado ou servo devia uma quantidade incalculável (v. 24), ou seja, possuía uma dívida milionária, a ponto de ser impossível quitá-la. Dez mil talentos representa uma quantia muito grande. O talento era uma unidade de peso para metais preciosos, como o ouro e a prata. Um talento equivalia a trinta e cinco quilos, de modo que dez mil talentos corresponderia a trezentos e cinquenta mil quilos de ouro e prata. Trata-se, portanto, de uma dívida quase incalculável e impossível de ser paga. Por isso, o rei-patrão, manda vender o empregado devedor como escravo, juntamente com toda a família (v. 25). Certamente, esse não era apenas um empregado, mas alguém que participava diretamente da administração, o qual deve ter desviado ilicitamente muito dinheiro para ficar tão endividado para com o rei, após ser descoberto. Sabendo da impossibilidade de pagar, não lhe resta outra coisa senão suplicar o perdão da dívida, como o fez, pedindo um prazo como pretexto (v. 26). O patrão teve compaixão e perdoou a dívida (v. 27), representando o agir de Deus diante da incapacidade humana de corresponder aos seus propósitos. Com isso, Jesus ilustra que a misericórdia de Deus supera qualquer expectativa humana.

A continuação da parábola mostra que o empregado, perdoado de maneira absoluta e ilimitada, se mostra incapaz de partilhar o perdão recebido (vv. 28-32); e isso é intolerável para aquele que lhe havia perdoado (v. 33-34). O centro da parábola está exatamente aqui: advertir e prevenir a comunidade, principalmente as lideranças, da hipocrisia, covardia e mesquinhez de não partilhar o perdão, de não ser instrumento e sinal de reconciliação. No final, o empregado servo foi condenado porque reteve o perdão somente para si, não partilhou o perdão recebido. Jesus quer evitar esse perigo na(s) sua(s) comunidade(s). Assim, a comunidade contradiz o projeto de Jesus e do Pai quando classifica o pecado, determinando se é “perdoável” ou não, e quando impõe limites ao aplicar o perdão. Ora, o perdão é força humanizante e, uma vez experimentado, deve transformar o coração e a vida de cada pessoa. A descrição vingativa do rei, na parábola, não visa mostrar uma imagem violenta de Deus, mas denunciar que não tem sentido invocar a misericórdia dele sem disposição para perdoar o próximo. Visa ilustrar também que a falta de perdão tira o sentido da vida. É claro que o perdão ao próximo não é condição para o perdão de Deus, mas deve ser a consequência lógica.

Longe de descrever Deus como um soberano vingativo, o que Jesus quer com essa parábola é reforçar um ensinamento necessário e urgente para o bem da comunidade, que insistia em negligenciar. Enfim, Jesus apenas reforça o que já tinha sido dito no seu primeiro discurso, o da montanha: «Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos» (Mt 6,14-15). Quando um evangelista mostra Jesus insistindo com um mesmo ensinamento, tornando-se até repetitivo, significa a importância de tal ensinamento e a dificuldade de assimilação entre os seus discípulos. Por isso, ele insiste com o perdão: por mais difícil que seja praticá-lo de modo ilimitado, ele é indispensável. Sem o perdão ilimitado e generoso não há seguimento de Jesus, não há comunidade cristã e tampouco há relação autêntica com Deus.

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, setembro 09, 2023

REFLEXÃO PARA O 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 18,15-20 (ANO A)


Prosseguindo com a leitura semi-contínua do Evangelho de Mateus, a liturgia deste vigésimo terceiro domingo do tempo comum faz um salto considerável: do capítulo dezesseis, lido domingo passado, passa-se para o capítulo dezoito. Considerando que o centro do capítulo dezessete é o episódio da transfiguração, e já fora lido em dois domingos no ano litúrgico corrente – 2º domingo da Quaresma e festa da transfiguração –, esse salto é bastante compreensível. O texto lido neste domingo, portanto, é Mt 18,15-20. Como se sabe, o capítulo dezoito do Evangelho de Mateus compreende o quarto dos cinco grandes discursos de Jesus na respectiva obra. Esse discurso trata das relações entre os membros da comunidade, por isso, é convencionalmente chamado de “discurso comunitário” ou “discurso eclesial”. Com ele, o evangelista procurou responder questões e problemas concretos das suas comunidades, marcadas por uma forte crise de identidade, com sérias dificuldades de manter fidelidade aos ensinamentos de Jesus, devido às pressões externas e aos problemas internos, como divisões e rivalidades entre seus membros e a forte tendência hierarquizante das lideranças. Por isso, os ensinamentos de Jesus nesse discurso têm como primeiro objetivo apresentar a comunidade cristã como uma comunidade de iguais, marcada pelo amor, humildade e perdão recíprocos, segundo estilo de vida apresentado de modo programático nas bem-aventuranças (Mt 5,1-12), que abriram o primeiro discurso, conhecido como o “discurso da montanha” (M 5–7). É importante que o evangelista não chega a descrever o modelo de comunidade proposto por Jesus. Mas, ao dizer como Jesus quer que seus discípulos vivam, ele termina traçando o retrato ideal da comunidade cristã.

Como o texto que a liturgia oferece começa já quase na metade do discurso, convém recordar o início para contextualizá-lo e, assim, compreendermos melhor, tanto o evangelho de hoje quanto o discurso inteiro. Ora, esse discurso é a resposta de Jesus a uma pergunta absurda dos discípulos, conforme o primeiro versículo do capítulo: «Os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: ‘Quem é o maior no Reino dos céus?’» (18,1). Os discursos de Jesus recordados por Mateus não surgiram do nada, mas sempre partiram de situações bem concretas, seja do que Jesus contemplava no mundo e na sua comunidade, seja do que ele ouvia dos seus discípulos. Essa pergunta sobre quem é o maior soou completamente absurda para Jesus, porque ela revela que os discípulos ainda não haviam compreendido quase nada do Reino dos céus. E tudo o que Jesus tinha ensinado até então consistia no Reino dos Céus. Ora, desde o início da sua pregação, Jesus tinha apresentado o Reino dos céus como o centro da sua mensagem. O Reino corresponde a uma sociedade alternativa ao sistema vigente, sem relações de poder, nem hierarquia entre os seus membros. Se os discípulos ainda perguntavam quem era o maior, é porque ainda não haviam compreendido nem aceitado essa proposta.

Além da introdução ao discurso, é importante recordar também que, pouco antes, Jesus havia feito o segundo anúncio da paixão (Mt 17,22-23). Por incrível que pareça, quanto mais Jesus falava em cruz, perseguição e sofrimento, mais os discípulos alimentavam seus sonhos de grandeza e poder (Mt 20,20-28), demonstrando que não estavam ainda vivendo segundo as bem-aventuranças (Mt 5,1-12), ou seja, não tinham assimilado a proposta de vida compatível com o Reino. Sem dúvidas, essa era também a crise da comunidade de Mateus, cerca de quatro décadas após a morte de Jesus. A tendência hierarquizante era cada vez mais forte, por isso o evangelista faz questão de recordar as palavras de Jesus contrárias a essa tendência, bem como a rivalidade entre os membros, as divisões e ambições, tudo isso como consequência de uma visão equivocada do projeto de Jesus. Voltando para o discurso em si, convém ainda recordar que o trecho proposto pela liturgia de é precedido pela parábola da ovelha perdida (Mt 18,10-14). Assim, podemos dizer que o nosso texto é uma espécie de explicação da parábola, uma vez que, ao tratar da reconciliação fraterna, o texto evidencia o esforço da comunidade para que o perdão seja buscado a todo custo e, assim, a fraternidade seja plenamente vivida. Os membros da comunidade devem esforçar-se ao máximo para refletirem em suas vidas a vontade do Pai: «Vosso Pai, que está nos céus, não quer que se perca nenhum destes pequeninos» (18,14). Ora, para que nenhum dos pequeninos se perca, a comunidade não pode medir esforços; deve empenhar-se com todos os meios disponíveis para que prevaleça o amor, o perdão e haja a reconciliação.

Feita a devida contextualização, voltamos a nossa atenção para o texto específico de hoje, que funciona como uma espécie de explicação da parábola que o precede, como afirmamos antes. Eis o primeiro versículo: «Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão» (v. 15). A possibilidade do pecado e da ofensa já deixa muito claro que a comunidade não é perfeita, pois seus membros também não são perfeitos. Não obstante as imperfeições, a comunidade é, antes de tudo, um espaço fraterno, pois seus membros são todos irmãos e irmãs. De fato, uma das informações e ensinamentos mais importantes desse versículo é o uso da palavra irmão (em grego: ἀδελφός – adelfós). Independentemente da falta cometida por alguém, a fraternidade, como regra básica da comunidade cristã, deve ser buscada em todas as circunstâncias. A correção em particular é o primeiro recurso para sanar os danos de um erro cometido. Nada de exposição e humilhação; entre irmãos e irmãs, deve haver liberdade para perceber juntos o erro e a necessidade de correção para o bem da comunidade. Não é a posição de um superior para com um subalterno, mas de um irmão que busca outro irmão para recompor a unidade da comunidade. Ganhar o irmão significa recuperá-lo para a comunidade, ou seja, reatar com ele os laços de fraternidade.

Caso essa primeira tentativa não funcione, novos meios devem ser buscados, como indica Jesus: «Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas testemunhas para que a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas» (v. 16). O cuidado com o irmão continua muito evidente: nada de expô-lo publicamente. Contudo, para que não se perca, é necessário continuar buscando a sua reconciliação e seu retorno à vivência da fraternidade. Tendo falhado a primeira tentativa, busca-se uma segunda. Nessa, recorre-se ao princípio judaico do testemunho, ao aconselhar que se tome uma ou duas testemunhas, para que o testemunho seja válido (Dt 19,15). Aqui, no entanto, não se trata de um recurso jurídico, mas sim da ajuda mútua. Mais do que mostrar o erro, o esforço da comunidade deve ser um convencimento para que o irmão não se aparte dela. A comunidade fica incompleta quando um membro se separa, por isso, não devem faltar esforços para que o irmão seja recuperado, como faz o dono das cem ovelhas que, percebendo que apenas uma se perdeu, ele deixa as outras noventa e nove e sai em busca daquela perdida, e não sossega enquanto não a encontrar (Mt 18,12-14). Isso relação deixa ainda mais claro que o texto de hoje possui uma função explicativa em relação à parábola que o antecede no conjunto do discurso. As diversas tentativas de reconciliação entre os membros da comunidade devem ser, portanto, reflexos do esforço do Pai para que nenhum pequenino se perca, o que fora tão bem ilustrado com a parábola da ovelha perdida.

Mesmo que a segunda tentativa não funcione, ainda há outros recursos e meios, como sugere Jesus: «Se ele não vos der ouvidos, dize-o à Igreja» (v. 17a). A terceira tentativa para que o irmão não se perca da comunhão fraterna é levá-lo à comunidade, ou seja, à Igreja. Aqui, a Igreja não significa uma instância jurídico-institucional, mas o espaço de comunhão e fraternidade. Por isso, ela deve ser comunicada e ficar a par de todas as situações que envolvam seus membros. Trata-se, acima de tudo, da comunidade reunida, a assembleia dos que crêem (ἐκκλησίᾳ – ekklesia). Esse conselho de Jesus é mais um sinal da sinceridade e transparência com que os irmãos e irmãs da comunidade cristã devem viver. Como um corpo que é a comunidade, seus membros têm direito de saber como andam as relações entre os demais membros, afinal, o bom funcionamento do corpo depende da saúde e do bem de todos os membros. A comunidade reunida, como espaço de comunhão e oração, deve também fazer da celebração uma oportunidade de crescimento com a reconciliação de seus membros. Por isso, a Igreja-comunidade deve ser informada sobre qualquer membro que tenha se afastado da fraternidade, pois isso compromete a comunhão e, consequentemente, a vivência do projeto de Jesus.

É possível que até mesmo a comunidade reunida não seja suficiente para convencer o irmão da necessidade da reconciliação. Assim como é espontâneo o ingresso na comunidade, também deve ser o afastamento, o que muitas vezes ocorre até por falta de compreensão e acolhida. É claro que jamais um membro deveria se afastar da comunidade, mas é possível que aconteça, até porque a comunidade não possui força coercitiva e nem deve utilizar meios parecidos. Cada pessoa é livre para aderir ou não ao projeto de Jesus, por isso, ele previne que pode ser que nenhuma tentativa funcione, nem mesmo o conselho da assembleia reunida seja suficiente para o retorno do irmão: «Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público» (v. 17b). A princípio, parece tratar-se de uma decisão drástica. Frequentemente, essa passagem é interpretada como uma espécie de excomunhão, e até utilizada para justificar esse procedimento. Porém, essa interpretação distorce completamente o sentido do texto e do conjunto da mensagem de Jesus. Contradiz, inclusive, a parábola que o antecede, aquela da ovelha perdida. O real significado dessa expressão é: se aquele irmão não se convenceu da necessidade de viver em paz com outro, se ele não se deixou mais convencer pela beleza da vida fraterna e comunitária, apesar de tanto esforço e várias tentativas, ele precisa refazer o caminho.

Para as comunidades cristãs originárias, ser tratado como pagão ou publicano não significava ser excomungado; para as comunidades das sinagogas contemporâneas à comunidade de Mateus, sim. Mas, para a comunidade cristã, ser tratado como pagão ou publicano significava ser, de novo, destinatário do Evangelho, necessitado do anúncio. Embora o texto litúrgico use a expressão “pecador público”, é mais adequado usar “publicano” ou “cobrador de impostos”, pois corresponde melhor ao termo empregado pelo autor, na língua original (em grego: τελώνης – telónes). Ora, ao longo de todo o Evangelho, os cobradores de impostos e os pagãos são destinatários do interesse de Jesus e, portanto, da sua Boa Nova. Essas duas categorias de pessoas eram desprezíveis para os fariseus, mas jamais para Jesus. Inclusive, Jesus era conhecido por «comer com os cobradores de impostos e pecadores» (Mt 9,11; 11,19). Isso quer dizer que ele jamais desprezava alguém por ser pecador ou cobrador de impostos e por nenhum outro rótulo negativo imposto pela sociedade e a religião do seu tempo. Ora, a comunidade cristã não pode ser pautada pelos mesmos princípios dos fariseus, e sim pelo amor de Jesus e do Pai, por ele revelado. Por isso, deve ter coragem de voltar atrás e recomeçar seu caminho formativo para o discipulado, quantas vezes for necessário, indo ao encontro daqueles e daquelas que se afastaram, como deve fazer com os pecadores, publicanos, pagãos e todas as categorias que ainda não se deixaram humanizar pelo amor de Jesus. Portanto, como comunidade inclusiva, a Igreja deve buscar todos os meios para que nenhum pequenino se perca.

Continuando sua catequese sobre o esforço da comunidade para a inclusão e a acolhida de todas as pessoas, Jesus reforça sua instrução já dada no episódio de Cesaréia de Filipe, a respeito da comunhão e sintonia que deve haver entre os membros da comunidade, sobretudo as lideranças, e a vontade do Pai e da sua mesma: «Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu» (v. 18). O céu, nesse versículo, significa o mundo de Deus, onde é originado o projeto de Reino que Jesus veio inaugurar neste mundo. E a comunidade deve se esforçar continuamente para manter-se sintonizada ao mundo de Deus, para não distorcer o projeto de Jesus. É claro, portanto, que esse versículo não compreende uma delegação de poderes, mas de responsabilidade. A comunidade que vive, de fato, o projeto de Jesus, sintetizado nas bem-aventuranças, é reflexo do céu. As relações fraternas de amor e perdão são os distintivos da comunidade cristã. Não é necessário ter poder para que as coisas da terra sejam confirmadas pelo céu; basta coerência, testemunho e, sobretudo, amor! Vivendo à maneira de Jesus, mantêm-se em sintonia com o céu. E a maneira de viver de Jesus é toda pautado pelo amor. Amor gratuito, universal, livre e humanizante, destinado a todas as pessoas, inclusive aos pagãos e pecadores. O que faz algo ser ligado na terra e no céu simultaneamente, portanto, não é um decreto ou uma ordem, mas o amor.

Na continuação do texto, fica ainda mais evidente que a principal preocupação de Jesus é a unidade na comunidade cristã. E, ao Pai, importa que seus filhos tenham fé e mantenham entre si o amor fraterno e a concórdia: «De novo vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus» (v. 19). A preocupação em repetir o ensinamento só reforça a importância do que está sendo ensinado. Jesus diz de novo, com outras palavras, que a comunidade deve manter-se completamente alinhada ao seu projeto, vivendo em concórdia, para que tenha suas aspirações respaldadas pelo Pai que está nos céus. Não importa o tamanho da comunidade, pode ser apenas dois ou três, o importante é que se viva em fraternidade. Inclusive, do verbo empregado pelo evangelista, na língua original, traduzido por “estar de acordo” (em grego: συμφωνέω – symfoneo), deriva a palavra sinfonia, que evoca harmonia e concórdia. Isso é imagem da concórdia, da vida fraterna que devem vigorar na comunidade. É claro que a concórdia não significa uniformidade na comunidade, mas significa a vivência da linguagem universal cristã: o amor. Como a passagem se refere especificamente à oração, quer dizer que, antes de dobrar os joelhos e abrir os lábios para dirigir uma prece ao Pai, a comunidade deve viver a concórdia interna, respeitando as diferenças, obviamente.

A autêntica comunidade cristã, reconciliadora e orante, é o lugar privilegiado da presença de Jesus: «onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles» (v. 20). Aqui, o evangelista retoma um dos temas principais de todo o seu evangelho: a presença do Senhor no meio da comunidade e da inteira humanidade (Mt 1,23; 18,20; 28,20). Ou seja, do começo ao fim do seu evangelho, Mateus apresenta Jesus como o “Deus conosco”, o Deus que está, o Deus que é presente. Aqui está também a justificativa para que a comunidade nunca se canse de buscar o retorno daqueles que se afastaram: é a presença do irmão que gera comunhão, e essa comunhão garante a presença de Jesus. Na época da redação do evangelho, como o templo já havia sido destruído, os judeus afirmavam que Deus estava presente onde dois ou mais estivessem reunidos para estudar a Lei. Com essas palavras, Jesus diz que não é o estudo da lei que garante a presença divina, mas é o seu nome. O evangelista entende que reunir-se no nome de Jesus não é apenas pronunciar palavras juntos, mas viver de acordo com o seu ensinamento. Com isso, ele combate as tendências individualistas que começavam a aparecer na sua comunidade, mostrando a beleza de viver a fé “com”, em companhia do irmão e da irmã, e quando alguém se afasta não devem faltar esforços para ir atrás, não para condenar e dar lição de moral, mas por saber que a vida tem mais sentido quando se vive em comunidade.

Uma comunidade só é autenticamente cristã quando é possível perceber e sentir nela a presença de Jesus. Essa presença só se manifesta quando há amor, perdão, reconciliação e compreensão. Havendo esses elementos, independentemente do número de membros, mesmo que sejam só dois ou três, o Senhor estará presente. Por isso, a comunidade deve empenhar-se ao máximo possível para recuperar um irmão ou irmã afastado; mesmo que seja somente um, a sua ausência pode comprometer a presença do Senhor!

Pe. Francisco Cornélio Freire Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, setembro 02, 2023

REFLEXÃO PARA O 22° DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 16,21-27 (ANO A)



O evangelho oferecido pela liturgia deste vigésimo segundo domingo do tempo comum é Mt 16,21-27. Esse texto é a continuação imediata daquele que fora lido no domingo passado – Mt 16,13-20 – marcado pela solene confissão de Pedro, como porta-voz de todos os discípulos, reconhecendo Jesus como “Messias, o Filho do Deus vivo”. Convém recordar que Pedro chegou a esse reconhecimento por revelação do Pai, e não por esforço nem capacidade pessoais, como recordou Jesus, ao declará-lo bem-aventurado (Mt 16,17). Apesar de correta do ponto de vista formal, a confissão de Pedro sobre a identidade messiânica de Jesus não estava carregada de equívocos; tanto é, que o próprio Jesus ordenou que os discípulos não contassem a ninguém que ele era o messias (Mt 16,20). Ora, Jesus conhecia bem a mentalidade dos seus discípulos e, portanto, sabia que tipo de messias eles esperavam, segundo as expectativas e tradições de Israel: um messias triunfalista e guerreiro, justiceiro, valente e vencedor, que fosse a Jerusalém para assumir o poder por meio da força e, assim, restaurar o antigo reino davídico-salomônico. Diante disso, Jesus tratou imediatamente de esclarecê-los sobre a verdadeira natureza de sua messianidade, anunciando o que lhe aguardava em Jerusalém e reforçando as exigências indispensáveis para o seu discipulado, como mostra o texto de hoje: o primeiro anúncio da paixão (v. 21) e as condições para alguém tornar-se seu discípulo ou discípula (vv. 24-26), intercalados por um diálogo conflituoso com Pedro (vv. 22-23), e uma conclusão de caráter escatológico e sapiencial (v. 27).

Podemos dizer que o episódio de Cesareia de Filipe foi um divisor de águas na vida de Jesus, incluindo a sua maneira de se relacionar com os discípulos, influenciando no seu jeito de pregar e no próprio conteúdo da pregação. Daquele momento em diante, ele começou a falar com mais clareza sobre o seu real destino e a natureza da sua messianidade, uma vez que os discípulos continuavam apegados às concepções tradicionais de poder, sonhando com prestígio, sucesso pessoal e o triunfo nacionalista. É isso o que indica o evangelho de hoje, logo no primeiro versículo, cujo texto original começa com uma importante indicação temporal, infelizmente substituída na tradução do lecionário pela genérica expressão “naquele tempo”. A indicação temporal omitida pela liturgia poderia ser traduzida como «a partir daquele momento» ou «daquele momento em diante» (em grego: Ἀπὸ τότε – apó tóte), o que indica claramente tratar-se do início de uma nova fase na vida de Jesus. Por isso, daquele momento em diante, «Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia» (v. 21). Fica claro, portanto, que esse texto abre uma nova fase no ministério de Jesus e na dinâmica narrativa do Evangelho de Mateus, o único que traz a indicação temporal recordada acima, embora o conjunto do texto esteja presente nos outros dois sinóticos.

Até então, Jesus já havia ensinado bastante sobre o Reino dos céus, seja por meio de discursos e parábolas seja mediante gestos de humanização e libertação, como os milagres de curas, exorcismos e até de domínio sobre a natureza. Com isso, ele mostrava as características do Reino e sua dinâmica. Agora, é chegado o momento de esclarecer quais são as consequências concretas na vida de quem «busca em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça» (Mt 6,33), como ele mesmo. E a busca pelo Reino exige que se façam opções radicais, tomadas de posições que geram consequências. Assim, o que ele começou a mostrar aos discípulos, do episódio de Cesaréia de Filipe em diante, foi exatamente essas consequências. Fazer opção pelo Reino é, antes de tudo, sentir indignação, inconformismo e resistência às forças que impedem a concretização desse Reino. E os principais entraves para a instauração desse Reino eram, além da mentalidade equivocada dos discípulos, o aparato religioso de Israel e a dominação romana, na época. Como era em Jerusalém que a estrutura religiosa de Israel estava sediada, institucionalmente, era para lá que Jesus devia ir. Sua ida era inevitável, e ele preparou seus discípulos para isso. Inclusive, os evangelhos sinóticos mostram três anúncios da paixão, dos quais lemos hoje o primeiro. Jesus sabia antecipadamente o que aconteceria e quem seriam seus algozes principais: «os anciãos, os sumos sacerdotes e os mestres da lei»a elite religiosa de Jerusalém, que também exercia poder político. Jesus não sabia disso por possuir conhecimento de coisas misteriosas e futuras, nem por predestinação, mas pela consciência de que seu projeto colidia com os interesses dessa elite.

Jesus Sabia que sua morte seria o desfecho de um confronto entre dois projetos bem distintos: o Reino de Deus, enquanto projeto de humanização e libertação do ser humano em plenitude, marcado pela justiça, acolhida, misericórdia e amor, de um lado e, do outro, a instituição político-religiosa com seus dogmas, sua lei, seus preceitos excludentes, suas práticas segregadoras e a violência. O confronto era inevitável. Como centro de poder e, portanto, de exploração, Jerusalém e sua elite eram conhecidas por «matar profetas» (Mt 23,37; Lc 13,34). Inevitavelmente Jesus seria o próximo. No entanto, as elites se enganam ao imaginar que matando Jesus poriam fim ao projeto do Reino. A confiança de Jesus no Pai ultrapassa todos os limites da existência humana. Ele reconhece que vai morrer, sim, mas irá ressuscitar ao terceiro dia. A certeza da ressurreição era fruto de uma íntima e profunda confiança no Pai, confiança essa ainda não experimentada pelos discípulos, como a sequência do texto mostrará. A ressurreição é certeza somente para quem confia verdadeiramente no Pai, o Deus Vivo. A expressão «no terceiro dia», na linguagem bíblica, não é um dado cronológico, mas teológico; indica o agir de Deus; significa uma intervenção de Deus na história. Na ressurreição, Deus agirá de modo admirável e novo.

Mais uma vez, a reação dos discípulos às palavras de Jesus é encabeçada por Pedro, porta-voz da comunidade: «Então Pedro, tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: ‘Deus não te permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!’» (v. 22). A atitude de Pedro é de oposição total ao que Jesus tinha acabado de dizer. Ora, contagiados pela ideologia nacionalista, os discípulos não aceitavam o messianismo “às avessas” de Jesus. De fato, Jesus se apresentou como um messias ao revés de tudo o que se esperava em Israel. Com essa atitude, Pedro e todo o grupo, pois é em nome do grupo que ele age e fala, jogam por terra toda uma caminhada de discipulado. É como se ele revogasse a belíssima confissão proferida pouco tempo antes (Mt 16,23-20). O verbo repreender (em grego: ἐπιτιμάω – epítimao) significa condenar por um erro, reprovar bruscamente; fazendo isso, Pedro nega a sua condição de discípulo. É uma atitude arrogante e arbitrária, totalmente incompatível com o que Jesus tinha ensinado até então. Pedro sabia que, inevitavelmente, o caminho do discípulo é o mesmo do mestre. Assim, se Jesus morresse pelo Reino, ele e os demais discípulos também poderiam morrer. Por isso, ele tenta tirar essa ideia de Jesus. E essa tem sido uma das grandes tentações do cristianismo institucional ao longo da história: desconsiderar a força das palavras de Jesus e seus impactos na vida de cada um e na sociedade, e até instrumentalizá-las e distorcê-las em benefício próprio. Convicto de seguir o messias glorioso, Pedro não aceita de modo algum a ideia de um messias sofredor.

Jesus logo percebe a ideia infeliz de Pedro e, com muita sinceridade, chama-lhe a atenção, reprovando totalmente a sua atitude: «Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensa as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens» (v. 23). Aqui, o texto litúrgico apresenta um grande equívoco: Jesus não manda Pedro ir para longe, mas para atrás de si, ou seja, voltar ao lugar de discípulo. O evangelista usa aqui a mesma expressão empregada no momento do chamado primeiro: “vinde atrás de mim” (Mt 4,19), ou seja, o imperativo “segui-me” (em grego: ὀπίσω μου – opísso mu); inclusive, é a mesma expressão que vai empregar no versículo seguinte, ao expor as condições para o discipulado (v. 24). Portanto, Jesus não afasta Pedro, mas o convida a colocar-se em seu devido lugar: no seguimento, ou seja, atrás de si. Quer dizer, Jesus ordena que Pedro assuma a condição para a qual foi chamado: ser discípulo. De fato, na comunidade cristã, todos os membros não podem passar de discípulos, porque todos são seguidores de um único mestre, que é Jesus, e filhos de um único Pai, que é Deus (Mt 23,8-12). Logo, todos são irmãos e irmãs na comunidade e devem igualmente seguir Jesus e viver à sua maneira, com todos os riscos que seu modo de viver comporta. O discípulo não propõe, mas acolhe o que mestre indica. Pedro é chamado de Satanás porque, na verdade, satanás não é uma pessoa em si ou um ser específico, mas é uma atitude ou postura; trata-se de uma imagem bíblica que significa obstáculo, adversário. Logo, tudo o que impede a realização do Reino é o papel e a atitude de satanás. E esse papel de satanás é, muitas vezes, assumido pelos de dentro, ou seja, por quem se apresenta como seguidor, integrando numericamente a comunidade do discipulado, mas não se abre aos desígnios do Pai.

Pouco tempo antes, após ter confessado a sua fé, Pedro tinha sido proclamado bem-aventurado pela sua sintonia com o Pai (Mt 16,17); agora, ele é duramente repreendido por trocar os pensamentos do Pai pelas coisas dos homens e gerenciar sua vida a partir dessas coisas, que eram os seus próprios interesses pessoais. As coisas do Pai, às quais Jesus se refere, são: a fé, a solidariedade, o serviço, a justiça e o amor; as coisas dos homens são o medo, o egoísmo, a ambição e a sede de poder e dominação. Esse paradoxo não poderia passar despercebido por Jesus. Por isso, de pedra da construção, Pedro passa a ser pedra de tropeço (em grego: σκάνδαλον – escândalon), ou seja, escândalo para a comunidade. E essa mudança ocorre num pequeno intervalo de tempo, por isso é necessário manter aceso o espírito de vigilância para que o Evangelho seja plenamente vivido. É importante estarmos atentos a essa situação: a edificação do Reino é confiada à comunidade cristã, a Igreja. Essa, tanto pode construí-lo, quanto impedir a sua construção e até provocar a destruição. A construção depende da fidelidade a Jesus, da capacidade de doação da vida, o que requer renúncias e perdas. É importante notar que, para Jesus e a lógica do Evangelho, escândalo não é a transgressão de regras morais, mas sim a omissão, a falta de convicção e de capacidade de doar a própria vida em prol do Reino de Deus. Em outras palavras, escândalo é a falta de amor e justiça, é o fechamento ao projeto humanizante e libertador de Jesus.

Ao perceber o recuo de Pedro, Jesus sente a necessidade de reforçar a sua catequese aos discípulos e de falar com cada vez mais clareza, como tempos recordado. É claro que ninguém tem obrigação de segui-lo, pois, o seguimento é livre e opcional. Inclusive, os evangelhos mostram pessoas que até se oferecem para seguir Jesus e depois recuam, ao tomar conhecimento das exigências, como o jovem rico (Mt 19,16-30), Judas com a traição e o próprio Pedro com as negações, embora volte atrás e de novo se coloque como discípulo. A quem opta pelo seguimento, são feitas exigências bastante radicais, que devem ser aceitas com fidelidade, e isso Jesus deixa muito claro: «Se alguém que me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga» (v. 24). Como se vê, o seguimento é livre, não é imposto; só segue Jesus não quer. E, a quem quer, as exigências são indispensáveis. Com essa afirmação, ele chama a atenção dos discípulos para a seriedade do seguimento. A primeira exigência não é um convite à negação de si nem à resignação, mas a rejeição de todo e qualquer projeto egoísta e individualista de realização. Renunciar a si mesmo é assumir um projeto coletivo, cujo centro de interesse será sempre o bem do próximo. Significa uma superação de si, dos próprios interesses. É ter consciência dos desafios inerentes ao seguimento de Jesus e, mesmo assim, abraçá-los. É o que estava faltando a Pedro naquele momento, ao trocar os pensamentos de Deus pelas coisas dos homens.

O convite a carregar a cruz é a certeza de que o projeto de Jesus é incompatível com a ordem vigente. É importante ressaltar que não é Jesus quem oferece a cruz. A cruz é consequência do seu seguimento fiel. Jesus convida o discípulo a assumir corajosamente uma atitude de repulsa ao domínio religioso e imperial vigentes, marcados pela exploração, injustiça, violência. A cruz na vida do discípulo, portanto, é sinal e prova de que tal atitude foi assumida com seriedade. Tudo isso, claro, considerando que a cruz não era um adorno sacro, como foi adotado posteriormente, mas um sinal de morte, de rebeldia, de inconformismo e humilhação, já que era a pena reservada ao que era considerado pior na sociedade, ou seja, aos rebeldes que ameaçavam a ordem vigente e, por isso, “mereciam” uma pena humilhante e exemplar. Logo, é completamente equivocado transformar a cruz em sinal de resignação passiva, como tanto se tem feito. A exigência de carregar a cruz é sempre um convite à coragem, à subversão, e não à aceitação das injustiças oficialmente cometidas pelas classes detentoras de poder. Sem essas disposições, se vive uma religião de fachada, se faz teatro, mas não há seguimento de Jesus.

O autêntico seguimento de Jesus é desafiador porque exige uma lógica completamente nova no modo de conceber a vida, a religião e o próprio Deus. Por isso, seus discípulos ainda não tinham compreendido. Eles estavam seguindo-o como Messias, mas segundo o messianismo tradicional, ou seja, esperavam que Jesus fosse um messias glorioso, potente e guerreiro que, eliminando o poder romano, imporia o seu poder, restaurando o reino davídico-salomônico para impor-se sobre outros povos. Jesus, pelo contrário, proponha o Reino do seu Pai, um reino sem dominador nem dominados, mas um reino de servidores, iguais em dignidade e amor. Abraçar esse projeto ousado de Jesus é ver o mundo com outros olhos. O jogo de palavras perda/ganho empregado por Jesus, em estilo sapiencial, significa a passagem de uma mentalidade individualista para uma concepção comunitária de sociedade e de mundo (vv. 25-26). Mais que salvar sua vida, o cristão autêntico pensa na instauração do Reino. Somente no Reino de Deus a vida pode ser vivida em sua plenitude e dignidade e, portanto, tentar vivê-la fora desse projeto é perdê-la, simplesmente. Vale lembrar que o Reino de Deus não é uma vida no além, mas a vida presente com sentido e dignidade plena.

O versículo conclusivo, de traços escatológicos, é um alerta sobre o próprio seguimento; a lógica retributiva proposta (v. 27) tem como critério a opção pelos pequeninos e marginalizados, conforme demonstrará o próprio Evangelho de Mateus, no final (Mt 25,31-46). “A conduta” esperada em cada pessoa é a disposição para o autêntico seguimento de Jesus com todas as consequências que esse implica, incluindo a capacidade de carregar a cruz, não como mero simbolismo, mas como disposição para lutar por um mundo novo, com inclusão, tolerância, respeito, fraternidade e opção clara por aqueles e aquelas por quem Jesus mesmo fez opção.

 Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

 

REFLEXÃO PARA O 4º DOMINGO DA PÁSCOA – JOÃO 10,11-18 (ANO B)

O evangelho do quarto domingo da páscoa é sempre tirado do capítulo décimo do Evangelho de João, no qual Jesus se auto apresenta como o ún...