sábado, agosto 12, 2023

REFLEXÃO PARA O 19º DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 14,22-33 (ANO A)



A liturgia deste décimo nono domingo do tempo comum propõe, para o evangelho, a leitura de Mt 14,22-33. Trata-se do relato da manifestação de Jesus andando sobre o mar, indo ao encontro dos seus discípulos que corriam perigo na barca, devido à agitação das ondas. É um episódio narrado também por Marcos e João (Mc 6,45-52; Jo 6,12-21), sendo que a versão de Mateus se sobressai sobre as demais, possuindo mais elementos exclusivos. O fato de ser um episódio comum a Mateus, Marcos e João já constitui uma primeira novidade, pois, geralmente, quando uma cena é narrada apenas por três evangelhos, esses são Mateus, Marcos e Lucas, conhecidos como os três sinóticos. É sempre importante recordar que os evangelhos enquanto livros escritos não são relatos cronísticos da vida de Jesus, mas narrativas catequéticas para a formação do discipulado e a edificação das comunidades cristãs de todos os tempos, começando por aquelas onde atuavam os respectivos evangelistas (autores). No caso específico do Evangelho de Mateus, escrito cerca de cinco décadas após a morte e ressurreição de Jesus, ele visa responder a uma comunidade profundamente marcada por crises, causadas tanto por aspectos externos quanto internos. E o evangelista responde às crises da sua comunidade recordando momentos de crise vividos pelo próprio Jesus junto com seus primeiros discípulos, e ilustrando conforme a sua própria criatividade e o uso de tradições disponíveis. O evangelho de hoje é uma boa demonstração desse processo.

O capítulo quatorze de Mateus começa relatando a morte de João, o Batista, que fora decapitado a mando de Herodes (Mt 14,1-12). Apesar das divergências de mentalidade, Jesus e João eram muito próximos afetivamente, e eram conscientes da continuidade entre os dois. Inclusive, há fortes indícios de que, antes de constituir o seu próprio grupo de seguidores, Jesus fora discípulo de João. Contudo, apesar dessa proximidade, é certo que Jesus não correspondeu às expectativas de João, que esperava um messias guerreiro, justiceiro e até violento (Mt 3,1-12), conforme a ideologia nacionalista vigente, ancorada no messianismo davídico. Contudo, os dois eram próximos. Por isso, inevitavelmente, a morte trágica do Batista abalou profundamente a Jesus e seus seguidores, tanto pelo afeto que os unia, quanto pela certeza de que ele tinha tudo para ser a próxima vítima da fúria imperial. Diante disso, Jesus sentiu a necessidade de um momento sozinho para rezar, meditar e, talvez, até chorar. Por isso, o evangelista diz que ele «foi a um lugar deserto para estar a sós» (Mt 14,13). Porém, ele não conseguiu de imediato esse desejado momento para estar sozinho porque as multidões o seguiam e até chegavam antes dele ao destino, pela ânsia que tinham de libertação e já tinham percebido que Jesus, de fato, era sinal de libertação e esperança, como agente humanizador no mundo, mediante o amor misericordioso de Deus que ele revelava.

O drama era total: comovido pela morte do seu mentor, o Batista, e sabendo ele também não demoraria muito a ser condenado e morto, Jesus encontra-se no deserto diante de uma grande multidão faminta que foi ali somente para vê-lo e ouvi-lo. Diante disso, seu sentimento não poderia ser outro: «teve compaixão» (Mt 14,13). A compaixão em Jesus não era um mero sentimento; era motivação para uma ação concreta que restabelecesse a dignidade e a vida em plenitude nas pessoas, essa vida em plenitude pressupõe a saúde do corpo e da alma. A compaixão de Jesus era força humanizante para as pessoas, sobretudo as mais vulneráveis, marginalizadas e pobres. Essa situação, inclusive, gerou um pequeno atrito entre Jesus e os discípulos: as multidões sentiram fome, pois encontravam-se numa região deserta, e os discípulos, por comodismo, sugeriram a Jesus que as mandasse embora e, assim, cada um se virasse por conta própria. Jesus, ao contrário, diz que são os discípulos que devem providenciar o alimento para as multidões famintas: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mt 14,16); os discípulos reclamam que aquilo que eles têm é muito pouco para tanta gente: apenas cinco pães e dois peixes; Jesus mostra que é exatamente daquilo que é pouco e pequeno que a mudança pode acontecer (Mt 14,21). Quando o pouco é colocado em comum, surge a abundância. Por isso, o milagre aconteceu e todos ficaram saciados. A partilha é sempre um milagre, sobretudo quando é motivada pelo amor. Certamente, o clima entre Jesus e os discípulos ficou pesado e o momento de solidão para a oração e reflexão se tornou ainda mais necessário. É esse o contexto do Evangelho de hoje: crise pessoal em Jesus, crise na sua relação com os discípulos e, sobretudo, crise entre os discípulos.

Feitas as devidas observações a nível de contexto, olhemos para o texto de hoje, partindo do primeiro versículo, que diz: «Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões» (v. 22). Nossa primeira observação é a respeito da tradução do texto litúrgico: ao invés de “Jesus mandou”, é mais correto e mais fiel ao texto original que “Jesus obrigou” os discípulos a entrar na barca. Jesus não está dando uma sugestão, mas impondo uma condição para a comunidade: ir «para o outro lado do mar», ou seja, para a outra margem. Ora, ir para a outra margem significa abandonar o comodismo e expor-se aos perigos, aos riscos. A outra margem do mar da Galileia era o território dos pagãos, e essa ordem de Jesus significa a universalidade do seu Evangelho. A barca é a imagem da comunidade cristã, sobretudo no Evangelho de Mateus; ela só tem razão de existir se estiver em estado de travessia, enfrentando perigos e levando a mensagem de Jesus a todos os lugares, sem distinção. A uma situação de crise na comunidade, Jesus responde com novos desafios, não suavizando nem enganando. Com isso, o evangelista recorda que ser Igreja é estar sempre em saída. Sem movimentos de travessia não existe fidelidade ao projeto de Jesus. Talvez, os discípulos esperassem até um reconhecimento ou comemoração, após o milagre da partilha dos pães, afinal, eles tinham colaborado diretamente, pois o próprio Jesus ordenou que eles providenciassem o alimento das multidões, com a ordem «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mt 14,16). Mas o que Jesus faz é encaminhá-los para novos desafios, como enfrentar o mar e chegar nas terras dos pagãos, o que todo judeu observante queria evitar.

Jesus não renunciou ao seu momento de oração pessoal, por isso, tendo despedido as multidões e os discípulos, el «subiu ao monte para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho» (v. 23). A oração pessoal de Jesus é um tema bem menos frequente em Mateus, comparando-o a Lucas, por exemplo, mas indispensável. Na verdade, na narrativa de Mateus, Jesus só se retira para rezar duas vezes: aqui, e já no contexto da paixão, quando reza no Monte das Oliveiras (Mt 26,36). Trata-se de um dado que pode parecer simples, mas é muito significativo. Quer dizer que a oração, na perspectiva de Mateus, está sempre associada a momentos dramáticos da vida de Jesus, marcados por crises e necessidade de renovação das convicções da missão. Isso significa que o evangelista não ignora nem torna secundária a oração na vida de Jesus, mas a valoriza tanto, a ponto de reservá-la para momentos de grande relevância. Nesse primeiro momento, a oração está associada à crise provocada pela morte do Batista e o confronto com os discípulos; no segundo, já no contexto da paixão, está associada à própria morte de Jesus, que também ocasionará crise entre os discípulos, tanto durante o processo e condenação quanto até mesmo nos primeiros momentos após a ressurreição. A oração acontece no monte que, na tradição bíblica, é o lugar do encontro com Deus, lugar da intimidade com o Pai e Criador. Embora a fé cristã seja essencialmente comunitária, a necessidade de momentos para estar sozinho e em silêncio é indispensável. Jesus sentiu essa necessidade e nada lhe fez renunciar. É importante recordar essa dimensão, até para evitar ativismos desenfreados. E ele tinha acabado de fazer um “milagre” maravilhoso: junto com os discípulos, tinha alimentado uma grande multidão de pessoas famintas. Certamente, sua oração foi também um agradecimento ao Pai por isso.

Logo nos dois primeiros versículos do evangelho de hoje, portanto, percebemos duas posturas indispensáveis para a comunidade cristã, ensinadas por Jesus e tão bem recordadas pelo evangelista: o cultivo da vida de oração e o colocar-se em estado de saída, em alto mar, enfrentando os riscos que isso comporta. Por isso, na continuidade do relato, o evangelista diz que, quando a barca já estava longe da terra, ou seja, em alto mar, ela «era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário» (v. 24). Essa imagem da barca agitada pelas ondas é exclusiva de Mateus. Nos outros evangelhos que possuem versão paralela do episódio, fala-se apenas do vento contrário e da dificuldade de os discípulos remarem na adversidade. Apenas Mateus diz que a barca estava agitada. Embora a barca seja imagem da Igreja em praticamente todas as tradições literárias e teológicas da Igreja nascente, é em Mateus que ela é mais valorizada. A barca agitada pelas ondas representa a situação da Igreja em saída em todos os momentos da história. O termo vento (em grego: άνεμος – ánemos), merece uma consideração especial: ele aparece três vezes no texto de hoje (vv. 24. 30. 32), e representa os três principais obstáculos que atrapalhavam a comunidade cristã no anúncio do Reino, na época da redação do Evangelho de Mateus, em meados dos anos 80 do primeiro século: 1) a oposição das lideranças da sinagoga (judaísmo oficial); 2) as forças do império romano, 3) o medo/comodismo dos próprios discípulos. São três obstáculos a serem enfrentados para o Evangelho alcançar a outra margem e chegar no mundo inteiro.

Dos três obstáculos que a ameaçavam a comunidade em sua “travessia”, o principal era o medo/comodismo dos discípulos, ou seja, a resistência e a tentação do comodismo ou até mesmo a desistência. Isso quer dizer que a comunidade é desafiada constantemente por forças externas e internas, sendo as internas as mais perigosas. Mas, quando a comunidade está prestes a sucumbir, eis que Jesus se manifesta e vai ao seu encontro «andando sobre o mar» (v. 25). O mar, na mentalidade bíblica, evoca perigo, morte, domínio do mal, é sinônimo do que é caótico, algo que o ser humano não tem forças para controlar. Porém, conforme essa mesma mentalidade, Deus tem o controle de tudo e pode, de fato, controlar até o mar, como fizera outrora, ao libertar o seu povo da escravidão do Egito (Ex 14,24ss; Sl 77,16-20). Essa cena é um recado para a comunidade de Mateus, sufocada pelos três ventos mencionados anteriormente, e para a Igreja em todos os tempos: em Jesus, o Reino dos céus em pessoa, é possível superar o mal e todas as forças contrárias. Porém, só é possível vencer as hostilidades do mundo se enfrentá-las. Só vence o mar quem se arrisca nele. A imagem de Jesus andando sobre o mar, portanto, não é a crônica de mais um milagre, e sim a demonstração de ele não se intimida diante do mal; ele enfrenta e vence. Por isso, esse texto é altamente carregado de ressonâncias pascais: faz memória do primeiro êxodo e antecipa o êxodo definitivo, que é a Ressurreição de Jesus, quando ele venceu definitivamente o mal e sua principal consequência, que é a morte.

Com a falta de confiança e convicção, a hostilidade só faz crescer na comunidade, como aconteceu com os discípulos: «Quando avistaram Jesus andando sobre o mar, ficaram apavorados e disseram: ‘É um fantasma!’. E gritaram de medo» (v. 26). O medo (em grego: φόβος – fóbos) tem sido o maior obstáculo da Igreja em todos os tempos. O medo constrói fantasmas e gera terror. Foi esse medo que fez a Igreja criar “inimigos” para si ao longo da história, distanciando-se do Evangelho. O medo é o tipo de vento que mais impede a Igreja de alcançar a outra margem, ou seja, de chegar onde ninguém chega, onde estão os excluídos e marginalizados. Por isso, ao medo dos discípulos, Jesus responde com uma declaração e um imperativo: «Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!» (v. 27). É preciso coragem e confiança no Deus que, simplesmente, É! De fato, com a afirmação «Sou eu» (em grego: έγώ είμι – egô eimí), Jesus recorda e atualiza a ação do Deus libertador do Êxodo (Ex 3,14), o qual também fez o seu povo passar para a outra margem do mar, conquistando a libertação da escravidão. A libertação só pode ser alcançada quando o medo for superado. Toda vez que Jesus pronuncia a fórmula «Sou eu/Eu sou» ele está afirmando sua identidade divina. No Evangelho de Mateus, essa afirmação possui uma relevância ainda maior, pois recorda, além da identidade de Jesus, também a sua presença constante na vida da comunidade. No início do Evangelho, ele fora apresentado como «Deus é conosco» ou «Deus está conosco», e trata-se do mesmo Deus libertador e do êxodo. É o Deus que liberta e humaniza, não porque faz grandes prodígios, mas porque está presente, caminha e é.

Diante da presença de Jesus que anda sobre as águas, Pedro assume o papel de porta-voz do grupo e se manifesta: «Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água» (v. 28). É exatamente nessa passagem que Pedro assume o protagonismo entre os discípulos, especialmente no Evangelho de Mateus. A partir de agora, sempre que ele falar, será como síntese do grupo. Sua fé é parâmetro da fé da comunidade. Ele assume um protagonismo único, mas que nem sempre será um protagonismo positivo; na verdade, é cheio de contradições, cuja demonstração maior será a tríplice negação. De agora em diante, ele será sempre o primeiro a agir, a responder e a propor, e quase sempre será repreendido por Jesus. Mas é exatamente por isso que ele se torna modelo de discípulo válido para todos os tempos, pois as suas atitudes mostram que Jesus não busca pessoas perfeitas para o seu seguimento, mas homens e mulheres normais, com qualidades, defeitos e contradições. Inclusive aqui, nessa primeira intervenção como como porta-voz dos discípulos, Pedro já começa de maneira bastante negativa, pondo Jesus à prova. A sua proposta aqui é a mesma do diabo no episódio das tentações (Mt 4,1-11), e dos zombadores no calvário (Mt 27,40): «se tu és...». Essa forma condicional de pedir sinais a Jesus é sempre uma tentação, além de ser também uma demonstração de falta de convicção e de fé sólida. Por isso, o próprio Pedro se sentirá afundando, como dirá a sequência do texto.

A resposta de Jesus ao pedido absurdo e tentador de Pedro é muito clara: «Vem!» (v. 29). É uma resposta-convite para o próprio Pedro perceber a sua fé imatura e contraditória. Jesus não chamou Pedro para dar uma prova do seu poder, mas para mostrar o quanto aquele discípulo ainda estava equivocado. Caminhar sobre as águas era, para Pedro, prova de poder sobre o mal e vitória sobre os obstáculos, uma ideia de triunfalismo, pois ele queria vencer sem lutar, como se a palavra de Jesus fosse mágica. Ao convidar Pedro a andar sobre a água, Jesus queria que ele se conscientizasse de sua vulnerabilidade, como, de fato, aconteceu: «Quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me’!» (v. 30). Pedro ainda estava incapacitado para enfrentar os ventos contrários. Por isso, queria vencê-los milagrosamente. Essa passagem específica também reforça a importância e a necessidade da comunidade na vivência da fé. Pedro começou a afundar porque deixou a barca, fez uma proposta individual, deixando os demais discípulos na barca, a mercê. No meio da tempestade, a barca se agitou pela força das ondas, mas resistiu, não afundou. Quando saiu da barca, Pedro começou a afundar. Os momentos de Jesus a sós com os discípulos são sempre ocasião para catequese e aprofundamento. E essa oportunidade não poderia passar desperdiçada. Por isso, ao ver Pedro afundar em sua falta de fé, «Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro e lhe disse: ‘Homem fraco na fé, porque duvidaste?’» (v. 31). A repreensão de Jesus a Pedro, chamando-o de homem de “pouca fé” ou “fraco na fé” (em grego: όλιγόπιστος – oligópistos), não foi porque ele começou a afundar enquanto caminhava, pois era impossível não afundar, mas pela mesquinhez de necessitar de um sinal para crer. Assim, Jesus repreende a Igreja e seus membros quando buscam sinais extraordinários e não se esforçam para contornar situações adversas, ou seja, quando se recusam a ir em direção à outra margem por medo e comodismo, apoiando-se em falsos triunfalismos. Quando a comunidade valoriza mais os sinais extraordinários e milagres do que a luta pela justiça, a inclusão, e a superação das desigualdades, ela está, como Pedro, desempenhando a função de tentadora de Jesus, ao invés de ser edificadora do Reino.

Ao subirem no barco, Jesus e Pedro, diz o texto que «O vento se acalmou» (v. 32). É a confiança que foi recuperada, a certeza de que, com Jesus, seguindo a sua palavra, a comunidade pode superar os obstáculos, vencer as barreiras e conseguir chegar à outra margem. Assim, «Os que estavam no barco prostraram-se diante dele, dizendo: ‘Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!’»  (v. 33). Temos aqui uma atitude importante que mostra a necessidade de uma conversão contínua na vida da comunidade cristã, marcada pela renovação das convicções. A prostração, especialmente no Evangelho de Mateus, é a atitude de adoração, de reconhecimento da divindade de Jesus. Inclusive, os primeiros a fazer isso foram os magos estrangeiros (Mt 2,11), os quais também têm a oferecer e a ensinar. No encontro com o Ressuscitado, no final do Evangelho, os discípulos repetirão o gesto e, também ali, dirá o evangelista que alguns ainda duvidaram (Mt 28,17). Logo, a dúvida sempre estará presente na vida da comunidade; porém, não pode levar os discípulos a trocarem o compromisso de superar as adversidades com responsabilidade por sinais extraordinários e fantasiosos. As situações de perigo e provação devem levar a Igreja à autocrítica e, assim, perceber qual é o seu verdadeiro papel no mundo e qual o rumo que Jesus quer que ela tome. Com essa confissão comunitária, a qual será retomada por Pedro no episódio de Cesaréia de Filipe (16,16), Mateus está mostrando um progresso na fé da sua comunidade: em um episódio anterior, quando também Jesus e os discípulos estavam num barco e foram ameaçados pela tempestade, Jesus agiu, salvou-os do perigo, e os discípulos, admirados, perguntaram: «Quem é este a quem até os ventos e o mar obedecem?» (8,27). A resposta foi dada agora, seis capítulos depois: é o Filho de Deus, aquele que é e está sempre presente, oferecendo amor e misericórdia, dando a mão aos necessitados, humanizando o mundo.

 O evangelho deste dia interpela a Igreja a tomar atitudes que podem colocá-la em perigo, mas essa é a razão da sua existência. É preciso alcançar outras margens, as periferias existenciais, os lugares onde só é possível chegar se perder o medo. Para isso, é necessário ter muita convicção da presença de Jesus em seu meio, mesmo que seja difícil reconhecê-lo, muitas vezes; e, na certeza dessa presença, enfrentar os mares com seus ventos, buscando uma fé madura para não se contentar com sinais ou espetáculos, mas buscar sempre a construção do Reino de Deus, que também é nosso.

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues - Diocese de Mossoró-RN

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