Hoje é a festa de São Tiago, apóstolo. Costuma-se denominá-lo de Maior, como
maneira de distingui-lo de outros personagens de mesmo nome que aparecem no
Novo Testamento. Era filho de Zebedeu e, junto com seu irmão João, pertence ao
primeiro grupo de discípulos de Jesus, chamados no mesmo dia que André e Pedro,
às margens do mar da Galileia, pois eram todos pescadores, conforme os
evangelhos (Mt 4,18-22; Mc 1,16-21; Lc 5,1-11).
Junto a Pedro e João, está entre os apóstolos mais citados nos evangelhos. Os
três são os que mais testemunham momentos importantes da vida de Jesus, o que
pode indicar, por um lado, um certo privilégio, por outro, uma necessidade
maior.
Certamente, eles não eram os melhores nem os piores discípulos, mas possuíam
certas características que os tornavam mais difíceis de lidar, demonstrando
mais dificuldades de assimilar os ensinamentos de Jesus enquanto Messias pobre
e servo. Pedro é sinônimo de dureza e fechamento; é o discípulo que Jesus mais
repreende durante todo o seu itinerário. Como ele sempre se antecipava, sendo o
primeiro a responder às perguntas de Jesus, era aquele que mais se expunha e,
por isso, era o primeiro a ser corrigido por Jesus.
João e Tiago ficaram conhecidos como “filhos do trovão” (Mc 3,17), devido ao
temperamento forte e explosivo. Eram os mais fanáticos, ambiciosos e também os
mais intolerantes. Até provocaram um racha no grupo dos discípulos, quando
pediram que Jesus lhes desse mais privilégios do que aos demais, fazendo-os
sentar um à esquerda e outro à esquerda, na glória. Isso causou divisão e
rivalidade no grupo, por isso foram duramente repreendidos por Jesus. O
evangelista Mateus, para poupar a imagem deles, diz que o pedido foi feito pela
mãe; Marcos, cujo texto é mais antigo, diz que foram eles mesmos (Mc 10,35-45;
Mt 20,20-28).
Certa vez, Jesus repreendeu João por proibir a um homem que não fazia parte do
grupo de pregar e expulsar demônios em seu nome (Mc 9,38-39). Os dois, João e
Tiago, também foram repreendidos quando quiseram tocar fogo nos samaritanos que
os rejeitaram no caminho para Jerusalém (Lc 9,51-55). Portanto, Jesus os chama
para estarem mais perto de si pela necessidade de cada um e por não desistir do
ser humano, apesar das fraquezas e debilidades. Eles necessitavam estar mais
próximos a Jesus e aprender mais com ele.
Há outros momentos em que Jesus prefere estar só com eles três, como no
episódio da ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,37) e na oração e agonia no
Getsêmani (Mc 14,37). Isso significa que eles mudaram com o tempo, não se tornando
perfeitos, mas aprendendo a cada dia com Jesus, à medida em que conviviam com
ele e ouviam seus ensinamentos.
Os evangelistas não tiveram medo de os apresentarem tão humanos, tão plenos, e
também tão carregados de defeitos. Esses defeitos se tornaram motivo para Jesus
investir mais na formação deles, até deixá-los aptos para o testemunho supremo:
dar a vida pelo Evangelho. E Tiago foi o primeiro a cumpri-lo, conforme o
relato de Atos dos Apóstolos: «Naquele tempo, o rei Herodes lançou as mãos
sobre alguns membros da Igreja para matá-los. Mandou matar à espada Tiago,
irmão de João» (At 12,1-2).
Tiago pode até não ter sido digno de ficar à direita ou à esquerda de Jesus.
Mas bebeu o cálice que ele bebeu e recebeu o batismo que ele recebeu (Mc
10,38-39). Foi intensamente humano, cheio de contradições, mas louco por Jesus
e seu Evangelho.
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