sábado, junho 30, 2018

REFLEXÃO PARA A SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO – MATEUS 16,13-19




Neste domingo em que celebramos a solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo, a liturgia nos oferece Mateus 16,13-19 para o Evangelho, texto que contém a famosa confissão de fé de Pedro na região de Cesaréia de Filipe. Esse é um relato comum aos três Evangelhos Sinóticos (cf. Mt 16,13-19; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21), embora a versão de Mateus apresente mais elementos próprios, o que lhe rendeu uma maior valorização na reflexão teológica ao longo dos séculos, sobretudo, no cristianismo católico.

A recordação dos apóstolos é sempre importante para a vida da Igreja, porque a ajuda a manter-se alinhada às suas origens, não obstante os desgastes históricos. Pedro e Paulo foram imprescindíveis para o cristianismo das origens conservar os ensinamentos de Jesus e, ao mesmo tempo, para se espalhar e crescer, extrapolando os limites culturais e geográficos do judaísmo e da Palestina. Olhando para o exemplo dos dois, a Igreja de hoje e de sempre é interpelada, cada vez mais, a renovar-se e edificar-se somente pela fé em Jesus Cristo, sem tomar como parâmetro nenhuma instituição terrena.

Antes de entrarmos na reflexão do texto em si, é necessário fazer algumas considerações a respeito do contexto do relato no conjunto do Evangelho. Esse trecho abre uma série de acontecimentos importantes da vida de Jesus e dos seus seguidores, como a transfiguração (cf. 17,1-7) e os dois primeiros anúncios da paixão (cf. 16,21-23; 17,22). Na verdade, podemos dizer que tais acontecimentos são consequência do episódio narrado no Evangelho de hoje, pois tanto a transfiguração quanto os anúncios da paixão são tentativas de Jesus revelar a sua verdadeira identidade, tendo em vista que os discípulos ainda não tinham tanta clareza dessa.

Recordamos o que sucede o nosso texto no conjunto do Evangelho, mas também não podemos deixar de recordar o que o antecede: uma controvérsia com os fariseus, os quais pediam sinais a Jesus (cf. 16,1-4), e uma séria advertência aos discípulos para não se deixarem contaminar pelo fermento dos fariseus e saduceus (cf. 16,5-12). Esse fermento era a mentalidade equivocada sobre Deus e o futuro messias e, principalmente, a hipocrisia em que viviam. Mateus recorda tudo isso porque, certamente, a sua comunidade passava por uma crise de identidade: por falta de clareza da identidade de Jesus e falta de experiência autêntica com o Crucificado-Ressuscitado, o “fermento dos fariseus”, quer dizer a influência da sinagoga, estava atrapalhando a vivência das bem-aventuranças, e impedindo a realização do Reino dos céus naquela comunidade.

Agora podemos, portanto, direcionar nosso olhar para o texto que a liturgia nos oferece: “Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: ‘Quem dizem os homens ser o Filho do homem?’” (v. 13). O texto começa com um indicativo espacial: Cesaréia de Filipe estava localizada no extremo norte de Israel, portanto, muito longe de Jerusalém. Como o próprio nome indica (homenagem a César), era um centro do poder imperial e, portanto, lugar de culto ao imperador romano. Certamente o evangelista e sua comunidade tinham um propósito muito claro ao narrar esse episódio e recordar a sua localização.

Longe de Jerusalém, os discípulos estariam isentos de qualquer influência da tradição religiosa judaica, ou seja, livres do fermento dos fariseus e, portanto, aptos a confessarem e professarem livremente a fé em Jesus, fora dos esquemas tradicionais da religião. Ao mesmo tempo, estando em uma região de culto ao imperador, a confissão da fé em Jesus seria um sinal de convicção e adesão ao projeto do Reino dos céus e uma demonstração da coragem que deve marcar a vida da comunidade cristã, chamada a testemunhar a Boa Nova e continuar a obra de Jesus, mesmo em meio às hostilidades impostas pelo poder imperial. Podemos dizer que professar a fé em Jesus é distanciar-se dos esquemas religiosos do judaísmo e, ao mesmo tempo, desafiar qualquer sistema que não coloque a vida e o bem do ser humano em primeiro lugar, como o império romano.

A pergunta de Jesus sobre o que dizem a respeito de si, ou seja, do Filho do Homem, não é demonstração de preocupação com sua imagem pessoal, mas com a eficácia do anúncio da comunidade. Até então, Jesus já tinha realizado muitos sinais entre o povo e ensinado bastante, mas pouca gente o conhecia verdadeiramente. Muitos o seguiam pela novidade que Ele trazia, uns pelo seu jeito diferente de acolher os mais necessitados e excluídos, outros para aproveitarem-se dos sinais que Ele realizava. Ele percebia isso, por isso fez essa pergunta: “Que dizem os homens ser o Filho do Homem?” (v. 13b).

A resposta dos discípulos à pergunta de Jesus revela a falta de clareza que se tinha a respeito da sua identidade e, ao mesmo tempo, a boa reputação da qual ele já gozava diante do povo, certamente o povo simples, com quem Ele interagia e por quem lutava. Eis a resposta: “alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias, outros, ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas” (v. 14). Sem dúvidas, Jesus estava bem-conceituado pelo povo, pois era reconhecido como um grande profeta. Mas Jesus é muito mais. Embora continuem sempre atuais, os profetas de Israel são personagens do passado. A comunidade cristã não pode ver Jesus como um personagem do passado que deixou um grande legado a ser lembrado. Isso impede a comunidade de fazer sua experiência com o Ressuscitado, presente e atuante na história.

A pergunta sobre o que as outras pessoas diziam a seu respeito foi apenas um pretexto. Na verdade, Jesus queria saber mesmo era o que seus discípulos pensavam de si. Por isso, lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v. 15), uma vez que longe do “fermento dos fariseus”, os discípulos poderiam dar uma resposta sincera, isenta e livre. O texto afirma que “Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (v. 16). Não resta dúvida que os demais discípulos componentes do grupo dos doze também responderam. O evangelista enfatiza a resposta de Pedro por ser uma síntese do pensamento dos doze. Essa é a resposta do grupo e, portanto, da comunidade.

A resposta é complexa e profunda: Jesus é Messias e Filho e do Deus vivo. É muito significativo que Ele seja reconhecido e acolhido como o Messias esperado, ou seja, o Cristo, o enviado de Deus para libertar o seu povo e a humanidade inteira. Como circulavam muitas imagens de messias entre o povo, principalmente a de um messias guerreiro e glorioso, o segundo elemento da resposta de Pedro é de extrema profundidade e importância: “o Filho do Deus vivo” (em grego o` ui`o.j tou/ qeou/ tou/ zw/ntoj – hó hiós tú Theú tú zontos). Além de definir a qualidade e especificidade do messianismo de Jesus, essa expressão serve também para denunciar a falsidade do culto ao imperador romano, o qual exigia ser reverenciado como filho de uma divindade.

Com a resposta de Pedro, a comunidade cristã é chamada a proclamar que Jesus é, de fato, o Cristo (termo mais fiel ao texto grego que Messias), é o Filho do Deus vivo, ou seja, seu Deus é o Deus da vida, enquanto os deuses pagãos cultuados no império romano e até mesmo o Deus oferecido pelo templo de Jerusalém eram privados de vida e agentes de morte, sobretudo para o povo simples e excluído. A convicção de que Jesus é o Filho do Deus vivo compromete a comunidade a denunciar e desafiar todos os sistemas, religiosos e políticos, que não favoreçam a promoção da liberdade e da vida plena e abundante para todos.

Jesus se alegra com a resposta de Pedro e o proclama bem-aventurado: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (v. 17).  Não se trata de um elogio por um mérito particular de Pedro, até porque o conhecimento não é dele, mas do Pai que lhe revelou. O que Jesus faz é uma constatação: as coisas comecem a funcionar na comunidade, pois a voz do Pai está sendo ouvida; como o Pai só revela seus desígnios aos pequeninos (cf. 10,21), e Pedro está falando a partir do que o Pai lhe sugere, ele está demonstrando adesão plena ao projeto do Reino! O Reino de Deus ou dos céus, como Mateus prefere, é um projeto alternativo de mundo que só tem espaço para quem aceita a condição pertencer ao mundo dos pequeninos. A bem-aventurança de Pedro consiste em abrir-se à vontade do Pai e deixar-se conduzir por essa.

Na continuidade, Jesus declara: “Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (v. 18a). Jesus está declarando que Pedro está apto a participar da construção da sua comunidade, por estar aberto às intuições do Pai. Ao contrário da antiga religião judaica que precisava de um templo de pedras, a comunidade cristã é uma construção sim, mas pela sua coesão e unidade, por isso, na sua construção são necessárias pedras vivas. Pedro é uma destas pedras escolhidas por Jesus, a primeira, sem dúvidas. A pedra fundamental da construção é a fé da comunidade. A força, o equilíbrio e a perseverança da comunidade dependem da solidez da sua fé. Por isso, é necessário que essa fé seja forte como uma rocha, comparável a fé que Pedro tinha acabado de professar.

É importante esclarecer que Mateus usa duas palavras gregas muito parecidas para designar Pedro e pedra: Pe,troj Petros e pe,tra| - petra. Embora muito próximas, é possível distingui-las: Petros, transformado no nome próprio Pedro, designa pedra, pedregulho ou tijolo, uma pedra pequena e removível, uma pedra de construção; petra designa a superfície rochosa, base ideal para os fundamentos de uma construção segura. São estas as bases necessárias para a edificação da Igreja enquanto comunidade do Reino. Portanto, Pedro (petros) é pedra de construção ou tijolo, e a pedra (petra) é a fé, a superfície rochosa sobre a qual a Igreja é edificada.

Ao contrário do templo de Jerusalém e dos templos pagãos que haviam na região de Cesaréia de Filipe, construídos com pedras concretas e visíveis e, portanto, passíveis de destruição, a comunidade cristã não correrá esse risco se for edificada conforme Jesus pensou, ou seja, tendo a fé por fundamento. Por isso, Ele declara: “e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (v. 18b). Aqui Ele se refere às hostilidades que a comunidade irá enfrentar em seu longo percurso até a realização plena do Reino aqui na terra. São as forças de morte manifestadas nos diversos sistemas de dominação, tanto políticos quanto religiosos. A comunidade precisa de uma fé muito consistente para resistir a tudo isso.

No último versículo temos mais uma declaração significativa de Jesus a Pedro e à comunidade dos discípulos: “Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será desligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (v. 19). Mais que delegando poderes, Jesus está responsabilizando a comunidade para fazer o Reino dos céus acontecer já aqui na terra. A comunidade recebe “as chaves do Reino dos céus” porque é nela que se faz a experiência da fé e da comunhão profunda com Deus, através da prática das bem-aventuranças (cf. 5,1-12), e é isso que torna alguém apto para entrar nos céus. Qualquer um que professa convictamente a fé em Jesus e vive seu programa de vida expresso nas bem-aventuranças tem a chave de acesso ao Reino. “Ligar e desligar” é, portanto, responsabilidade e não poder. 

Com essas imagens tão fortes (chaves – ligar – desligar) Jesus convida a sua Igreja, comunidade do Reino, a viver sempre em perfeita sintonia com Ele mesmo e com o Pai, de modo que o que a comunidade experimentar será referendado pelos céus! Ele dá as chaves para a sua comunidade abrir o todos o Reino que os escribas e fariseus tinham trancado (cf. 23,13). Todo cristão e cristã possui as chaves do Reino, porque o seu testemunho pode abrir ou fechar o Reino para alguém! Que a memória dos apóstolos Pedro e Paulo renove na Igreja a fé autêntica no Crucificado-Ressuscitado, e a sua índole missionária

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, junho 23, 2018

REFLEXÃO PARA A SOLENIDADE DA NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA – LUCAS 1,57-66.80




Hoje, a liturgia contempla a solenidade da natividade de São João Batista, ao invés de celebrar o décimo segundo domingo do tempo comum. O texto evangélico proposto é Lc 1,57-66.80, relato que contempla o nascimento, a circuncisão e a imposição do nome do santo precursor de Jesus Cristo. Depois de Jesus, João Batista é o personagem com mais dados biográficos oferecidos pelo Novo Testamento, o que evidencia a importância e a grandeza da sua missão. Quem mais contribuiu para isso foi o evangelista Lucas, como percebemos no Evangelho de hoje. Até quando os apóstolos consolidaram a pregação sobre Jesus, fizeram questão de recordar o Batista: “Jesus de Nazaré, começando pela Galileia, depois do batismo proclamado por João” (cf. At. 10,37).

A figura de João é central na história da salvação: “A lei e os profetas até João” (Lc 16,16a). Portanto, se trata de um personagem que não pode ser esquecido. Liturgicamente, a Igreja compreendeu bem isso, reservando-lhe duas datas no calendário: a sua natividade, celebrada hoje (24 de junho), e o seu martírio, celebrado em 29 de agosto. O primeiro evento narrado por Lucas em seu evangelho é o anúncio do nascimento de João (cf. 1,5-23), apresentando-o desde o início com as características de profeta e como um prodígio de Deus para a humanidade, recordando que seus pais, Zacarias e Isabel, era anciãos e estéreis, já inaptos à procriação. Nesse casal, descrito como justo (cf. 1,6) o evangelista viu a situação de Israel: mesmo observando minuciosamente os preceitos da lei, faltava alegria e sinal de vida neles!

Aquela esterilidade significava o esgotamento da lei e da religião por eles observada, o judaísmo do segundo templo. Por mais que se esforçassem, os condicionamentos sociais, culturais e religiosos não permitiam que vida nova brotasse daquela situação. Somente uma intervenção de Deus poderia mudar o rumo daquela história. Fiel às suas promessas, Deus intervém, inaugurando uma nova fase na história da salvação, fazendo surgir um “profeta do altíssimo” (cf. 1,76).  Assim como os profetas do A.T. previam um “resto de Israel” fiel e justo, o evangelista Lucas identificou esse resto em nos personagens que ilustram o chamado “evangelho da infância” (capítulos 1 e 2 de Lucas): Zacarias e Isabel, Maria e José, Simeão e Ana. Neles, as promessas de Deus, desde os patriarcas, chegam ao cumprimento. Por mais que Israel estivesse esgotado e estéril, era dele que a salvação brotaria. Lucas compôs a sua dupla obra (Evangelho e Atos dos Apóstolos) segundo a dinâmica promessa-cumprimento. O nascimento de João é o início do cumprimento.

Olhemos, para o texto: “Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho” (v. 57). Com a clássica e conhecida expressão bíblica “completou-se o tempo”, o evangelista associa o nascimento de João às promessas de Deus. Não se trata apenas de uma gravidez concluída e uma criança a mais no mundo; significa a conclusão de uma etapa na história da salvação, e abertura de uma nova. O nascimento de João tem uma dimensão comunitária, pública; por isso, “os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela” (v. 58). Aqui, o evangelista introduz dois temas centrais da sua grande obra (Evangelho e Atos): a misericórdia e a alegria. Os parentes e amigos representam a abertura da salvação que, aos poucos, Lucas vai mostrando. O nascimento de João é recebido como uma ação favorável de Deus.

Sendo Isabel e Zacarias, “justos e irrepreensíveis observantes da lei” (cf. 1,6), “no oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias” (v. 59). Querendo simplificar a história, o evangelista faz uma pequena confusão: o nome da criança era dado logo no nascimento, e não no momento da circuncisão, ao oitavo dia. Também não era costume dar o nome do pai, e sim o nome do avô da criança. Mais uma vez, o evangelista ressalta a dimensão comunitária do nascimento de João: a comunidade, parentes e amigos, participam da sua vida, assim como o seu ministério profético estará a serviço de todo o povo.

Dar o nome à criança era atributo exclusivo do pai, de acordo com a tradição bíblica e com as tradições de outros povos da antiguidade. É importante perceber o papel inovador da mãe, ressaltado por Lucas: “A mãe, porém, disse: ‘Não! Ele vai chamar-se João!” (v. 60). Desde o início do seu evangelho, Lucas pensa a mulher como sujeito com voz e poder de decisão, rompendo com as tradições e condicionamentos da época: “Os outros disseram: “Não existe nenhum parente teu com esse nome!” (v. 61). Os outros aqui, são os parentes e vizinhos; apegados à lei, não aceitam a novidade que começa a se configurar; querem que as coisas permaneçam como sempre, incluindo a mulher sem direito de opinar. É o Israel necessitado de conversão, a quem João se dirigirá em seu ministério e, posteriormente, Jesus. A imposição do nome João já tinha sido indicada pelo anjo no anúncio a Zacarias (cf. 1,13). João é um nome hebraico que significa “Deus é favorável” (significados correlatos: Deus é clemente; Deus é misericordioso; agraciado por Deus).

Com a mentalidade ainda fechada, os parentes e vizinhos não admitem o protagonismo da mulher; por isso, recorrem à autoridade masculina: “Então fizeram sinais ao pai, perguntando como queria que o menino se chamasse. Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: ‘João é o seu nome’. E todos ficaram admirados” (vv. 62-63). Zacarias tinha ficado sem poder falar, por não crer no anúncio do anjo (cf. 1,20), por isso se comunicava por meio de sinais. Ao escrever como o menino será chamado, ele ratifica a decisão de Isabel, e ambos confirmam a promessa de Deus através do anjo. Todos ficaram admirados por contemplar Deus agindo na história, cumprindo as antigas promessas de um jeito novo e com novos sujeitos.

Como o anjo tinha afirmado que Zacarias só voltaria a falar quando o menino nascesse, a promessa foi cumprida e, “no mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus” (v. 64). O ápice do louvor a Deus proclamado por Zacarias é o seu cântico, o Benedictus, o qual a liturgia de hoje omite, mas é bastante conhecido. A transformação de Zacarias, da incredulidade ao louvor a Deus, é a passagem que, inicialmente, Israel e depois a humanidade inteira, devem fazer: reconhecer e aceitar a ação misericordiosa de Deus em seu favor e abrir-se à conversão. Zacarias se torna, assim, o primeiro convertido pelo Batista.

Diante de tudo isso, a reação dos vizinhos não poderia ser outra, senão de espanto: “E todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a região montanhosa da Judeia” (v. 65). A tradução litúrgica deixa a desejar optando pelo medo ao invés de temor. Na verdade, a reação de quem contempla uma intervenção de Deus é de temor, que significa mais admiração e respeito do que medo, propriamente. Lucas não perde a oportunidade de mostrar a publicidade e difusão da ação de Deus na história; por isso, diz que a notícia do nascimento de João “espalhou-se por toda a região montanhosa”. Faz parte de suas estratégias literárias e teológicas mostrar a repercussão dos eventos narrados. Aqui ele já antecipa o propósito de suas duas obras (Evangelho e Atos): apresentar a salvação rompendo limites e barreiras para, um dia, atingir até os confins da terra.

Além de mencionar o espalhar-se da notícia, como antecipação da “Boa-Notícia” por excelência, o evangelista destaca o seu efeito: “E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: ‘O que virá a ser este menino?’ De fato, a mão do Senhor estava com ele” (v. 66). As notícias das maravilhas de Deus geram repercussão em quem escuta, não são notícias vagas; causam efeitos porque carregam em si a força inerente à Palavra. O questionamento sobre o futuro do menino reforça o superdimensionamento da sua missão. Se seus pais, anciãos e estéreis, desejavam um filho simplesmente para “deixarem de passar vergonha perante os homens” (cf. 1,25) – a falta de um filho era sinal de humilhação para um casal – eis que Deus fez muito mais por eles. O menino recém-nascido tinha pela frente uma missão inconfundível na história, a ponto de ser difícil de cataloga-lo e identifica-lo. Até mesmo no auge da sua pregação, era difícil saber quem era João Batista; até com o messias ele foi confundido (cf. 3,15). Com a expressão “a mão do Senhor estava com ele”, o evangelista reforça a escolha e origem divina de sua futura missão de profeta.

Na conclusão do texto, é apresentada uma síntese da vida de João, da infância ao início da vida pública: “E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel” (v. 80). Aqui está a prova de que a mão do Senhor estava realmente com ele. O evangelista está preparando o leitor para apresentar, posteriormente, o seu ministério de precursor do messias. Paralelo ao crescimento natural, ele se preparava para a missão. A vida no deserto, embora marcada pelas dificuldades, é ideal para a relação com Deus. Seu pai era sacerdote do templo e, por isso, o ambiente familiar não seria favorável a uma educação ascética e crítica em relação às instituições de Israel. O deserto significa o lugar da obediência a Deus, do diálogo, da oração; enfim, viver no deserto é ser educado por Deus, resgatando o verdadeiro sentido da lei: instrução para o povo.

Mais do que recordar um grande personagem, o evangelho de hoje constitui um verdadeiro convite para retornar ao que, de fato, é essencial na vivência da fé, procurando compreender os sinais de Deus na história e a necessidade de aderir aos seus propósitos. A fidelidade a Jesus e seu Evangelho implica aceitar os seus valores, acolher a sua misericórdia e a coragem de romper com todos os possíveis entraves à difusão do seu amor. A ousadia de Isabel, apresentada por Lucas, junto com a vida e o ministério do Batista, são sinais autênticos da necessidade contínua de conversão para acolher o Evangelho com suas exigências. Se a missão do Batista foi preparar os caminhos do Senhor, só tem sentido celebrá-lo com disposição para seguir esses caminhos!

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN


sábado, junho 16, 2018

REFLEXÃO PARA O XI DOMINGO DO TEMPO COMUM – MARCOS 4,26-34 (ANO B)




A liturgia deste décimo primeiro domingo do tempo comum propõe, para o Evangelho, o texto de Marcos 4,26-34, o qual contém duas pequenas e importantes parábolas sobre a realidade misteriosa do Reino de Deus. A primeira parábola apresenta o Reino sendo comparado a uma semente, não especificada, que cresce sozinha, e a segunda compara o Reino a um grão de mostarda. Por conhecer bem a realidade de seus espectadores, Jesus procurava imagens do cotidiano para ilustrar a sua mensagem. A primeira parábola é exclusiva do Evangelho segundo Marcos, enquanto a segunda consta também em Mateus (cf. 13,31-32) e Lucas (cf. 13,18-19).

O quarto capítulo do Evangelho segundo Marcos é marcado pela presença de uma série de parábolas sobre o Reino de Deus, que visam responder a uma situação de inquietação e crise vivida pela comunidade dos discípulos, inicialmente, e pela comunidade do próprio evangelista, mais tarde. É importante recordar que o capítulo terceiro, como refletimos no domingo passado (cf. Mc 3,20-35), fora concluído com duas situações de desconforto para Jesus e, consequentemente, para os seus discípulos: a calúnia dos mestres da lei, de que Jesus estava endemoniado (cf. 3,22-30), e a incompreensão dos seus familiares, acusando-o de estar louco, ou seja, fora de si (cf. 3,20.31-35). Sem dúvidas, essas situações repercutiram também na vida dos discípulos, gerando uma crise na comunidade.

A credibilidade de Jesus e de sua mensagem fora posta em dúvidas. Ora, os discípulos primeiros tinham deixado família, trabalho e bens, pensando em algo melhor para suas vidas, inclusive esperando sucesso, fama e poder. Aos poucos, perceberam que estavam seguindo a uma pessoa que a religião oficial condenava (os mestres da lei o acusaram de estar endemoniado) e nem os seus familiares o levavam a sério. Paralelo às desconfianças dos discípulos, também Jesus percebia as contradições e incompreensões neles: eles sonhavam com poder e força, queriam construir um sistema de dominação semelhante às grandes potências da terra, algo que nada tinha a ver com o seu projeto de Reino, ou seja o Reino de Deus.

Algumas décadas mais tarde, também na comunidade de Marcos surgiram problemas semelhantes. A comunidade era perseguida por todos os lados: pela dominação romana e pelo judaísmo oficial, a ponto de parecer diminuir a cada dia, ao invés de crescer, como esperavam que acontecesse; isso causava desânimo, desconfiança e impaciência, com fortes tendências à desistência, pois não se viam resultados nem efeitos imediatos gerados pela pregação e a forma de vida cristã. O evangelista respondeu à crise da sua comunidade recordando a resposta de Jesus, outrora, aos primeiros discípulos: é necessário ter paciência, humildade e confiança na força da Palavra. As parábolas do Evangelho de hoje são a síntese dessa resposta.

Mesmo tendo a multidão como auditório, como afirma o texto, o público alvo das parábolas é o grupo dos discípulos, ainda confusos com os últimos acontecimentos, e a comunidade cristã de todos os tempos. Como o Reino de Deus não pode ser comparado com nenhum sistema de organização social até então experimentado, Jesus o comparava com elementos da natureza, privilegiando a imagem da semente: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (vv. 26-27). O Reino de Deus (em grego: h` basilei,a tou/ qeou/ – hé basileia tú Theú) proposto por Jesus não é um consolo para o pós-morte, mas um projeto de vida e de sociedade para ser implantado já nesse mundo, com novas relações conduzidas pelo amor, a justiça, a solidariedade e a igualdade, sem nenhum sinal de grandeza ou poder.

Os discípulos ainda cultivavam a ideologia nacionalista, sonhando com a restauração do reino davídico-salomônico, um projeto de poder que visava a dominação de Israel sobre as outras nações e, por isso, tinham muita dificuldade de aceitar a proposta inovadora de Jesus. Ao comparar com uma semente jogada na terra, Jesus mostra a simplicidade e, ao mesmo tempo, a complexidade do Reino de Deus. Por mais que os discípulos colaborem, afinal são eles que devem lançar a semente, o mérito nunca será deles, mas sempre da força da Palavra, a semente na parábola: “A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga; quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou” (vv. 28-29). Na construção do Reino de Deus, competem duas atividades ao ser humano: plantar e colher. O processo de desenvolvimento da semente é próprio e autônomo, não pode ser manipulado por ninguém.

A terra na parábola é a consciência e o coração de cada pessoa que recebe o anúncio da Palavra. Há uma fase da semeadura que não está ao alcance do agricultor: o desenvolvimento da semente embaixo da terra; é algo invisível e misterioso que requer paciência e cuidado. Por mais competente que seja o agricultor, a qualidade dos frutos será sempre mérito da semente. Assim é a Palavra na vida das pessoas: a comunidade não pode cobrar respostas imediatas, nem moldar as pessoas; cada um e cada uma tem seu jeito próprio de fazer a Palavra germinar dentro de si. À comunidade, cabe a paciência e o discernimento para reconhecer o tempo de plantar e o tempo de colher.

Ao continuar sua apresentação do Reino de Deus, Jesus interage com o seu auditório, com uma pergunta retórica para prender a atenção dos ouvintes: “Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representa-lo?” (v. 30). É importante reforçar que o Reino de Deus é indescritível porque ainda não foi completamente experimentado, por isso, só pode ser comparado, jamais descrito. E o gênero literário da parábola (em grego: parabolh/| – parabolé) significa exatamente isso: comparação, analogia; é a explicação de uma realidade desconhecida tomando uma imagem conhecida como comparação.

Após a pergunta, eis que Jesus apresentou a parábola conclusiva da série: “O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra” (v. 31). Com essa parábola, Jesus responde aos projetos de grandeza e poder alimentados pelos seus discípulos de outrora e pela comunidade cristã em todos os tempos. Ora, diante da força e poderio do império romano e da estrutura da religião judaica, com sinagogas espalhadas em todos os lugares, o projeto de Jesus era praticamente invisível e parecia não causar efeito algum no mundo. Para os discípulos, alguns movidos por ambições pessoais (cf. Mc 10,35-45), era difícil compreender e aceitar aquela situação. Por isso, Jesus apresentou essa parábola, e o evangelista recordou à sua comunidade.

O grão de mostarda era o menor grão conhecido até então. Com essa imagem, Jesus afirma que a comunidade precisa aceitar a condição de pequenez em que se encontra, e deve reconhecer essa pequenez como necessidade para compreender a dinâmica do Reino. Esse, o Reino, não pode impor-se por sinais de grandeza nem de espetáculo. O importante é que esse seja cultivado, mesmo como uma semente pequena, e colocar-se no mundo para servir, como acontece com o grão de mostarda: Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra (v. 32). Mesmo em seu máximo crescimento, a planta que brota de um grão de mostarda é sempre uma hortaliça, alcançando no máximo três metros de altura, jamais será uma árvore imponente ou atraente pela beleza.

A comunidade cristã não pode almejar triunfos nem apoteoses. Como embrião do Reino de Deus, a comunidade cristã deve ter somente a pretensão de servir: oferecer sombra e abrigo para quem necessitar, como o pé de mostarda abriga os pássaros com seus ninhos. Mesmo em seu máximo desenvolvimento e cumprimento, o Reino de Deus será, aparentemente, sempre tímido, porque não pode ser edificado sob os mesmos alicerces dos pseudo-reinos deste mundo. Nele, o que menos importa é a aparência, como deve ser na comunidade cristã. O que deve preocupar os seguidores e seguidoras de Jesus é se, de fato, estão sendo sombra e abrigo para os mais necessitados, mesmo no anonimato e na simplicidade. Comparada aos decretos imperiais e às leis religiosas impostas pelos escribas, a pregação simples de Jesus parecia insignificante. Passados anos e décadas, a história reconheceu a sua força e eficácia, através do testemunho de tantos cristãos e cristãs que tornaram o mundo diferente, mais humano e convivial.  

A sequência de parábolas é concluída com um importante e sintético enunciado: Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo” (vv. 33-34). A primeira informação relevante do enunciado é que o Evangelho escrito contém apenas algumas das “muitas parábolas” contadas por Jesus. A pregação do Nazareno foi bem mais ampla, indo muito além daquilo que os evangelistas conseguiram resgatar. Como bom mestre, Jesus falava conforme a capacidade de entendimento das pessoas. Sabia ler os sinais dos tempos e adaptar-se às diferentes realidades, como devem fazer as comunidades de hoje.

O evangelista distingue os discípulos das multidões: “quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo”. Com essa distinção, ele não pretende criar uma classe de privilegiados, mas acentua a responsabilidade de ser discípulo e discípula. Não basta ouvir uma vez aleatoriamente; é necessário sentar com Jesus e ruminar a sua palavra para, de fato, ela frutificar na vida de cada um. O evangelista não via a multidão como uma massa excluída, em oposição ao privilégio dos discípulos, mas como uma primeira etapa do discipulado. A Palavra que ecoa no meio da multidão, de modo tímido e anônimo, é capaz de germinar, crescer e frutificar, gerando assim novos discípulos e discípulas para o Reino.

Com essas duas parábolas, de modo brilhante, Jesus respondeu aos questionamentos gerados pela crise entre os discípulos, e Marcos resgatou-as para responder também a uma situação semelhante de crise na sua comunidade. Certamente, essa resposta é válida para todos os momentos da história. O Reino de Deus, como um mundo de justiça, amor, solidariedade, fraternidade e igualdade, não surgirá repentinamente; é uma realidade misteriosa, dinâmica e lenta, que exige paciência e humildade em sua edificação. Além de paciência, humildade e discernimento, a sua construção exige, sobretudo, confiança na força transformadora da Palavra. O Evangelho de hoje é um convite ao resgate dessa confiança.


Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, junho 09, 2018

REFLEXÃO PARA O X DOMINGO DO TEMPO COMUM – MARCOS 3,20-35 (ANO B)




Neste décimo domingo do tempo comum, o texto evangélico proposto pela liturgia é Mc 3,20-35. Esse texto é bastante significativo para a compreensão do ministério e do mistério de Jesus enquanto messias e responsável por neutralizar as forças do mal com a sua mensagem e práxis libertadoras. O texto retrata mais um momento da atuação de Jesus na Galileia com as tradicionais características de adesão e contestação à sua atividade messiânica, mostrando que nenhum esquema religioso, social e cultural é capaz de contê-lo ou controlá-lo.

O episódio narrado faz parte ainda do início do seu ministério na Galileia, embora sua fama já estivesse bem espalhada, como o texto faz perceber. Após a última controvérsia com os fariseus, quando curou um homem da mão seca na sinagoga em dia de sábado (cf. 3,1-6), a multidão que o acompanhava em busca de milagres e prodígios, só crescia (cf. 3,7-12); isso o levou a constituir o grupo dos Doze (cf. 3,13-19), para que sua ação libertadora se expandisse cada vez mais (cf. v. 14). À medida em que as multidões sedentas de dignidade, de justiça e de amor, cansadas de tanta opressão, aumentavam ao redor de Jesus, também aumentava a oposição daqueles que não aceitavam o seu comportamento fora dos padrões estabelecidos pela sociedade e a religião. É isso que o Evangelho de hoje mostra: Jesus rodeado por uma multidão na casa e, ao mesmo tempo, sendo contestado e mal compreendido pelos familiares e pelas autoridades religiosas.

Após a constituição do grupo dos Doze, o evangelista diz que “Jesus voltou para casa com os seus discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer” (v. 20). A casa (em grego: oivki,a – oikia) tem um valor muito significativo para o Evangelho segundo Marcos: é a alternativa proposta por Jesus para a realização do seu projeto em sua dimensão espacial primeira, como oposição à sinagoga e a qualquer instituição. A casa é o espaço eclesial por excelência; é na casa onde Jesus fala abertamente com seus discípulos. A Igreja primitiva adotou a casa como o lugar da liturgia, da catequese e do encontro. Se é na casa onde acontece a vida, deve ser na casa o culto ao Deus da vida; um culto não ritual, mas serviçal. 

Aqui, não se trata da casa de Nazaré, mas da casa adotada por ele em Cafarnaum, provavelmente a casa dos irmãos André e Pedro. A multidão reunida ao seu redor demonstra o sucesso de sua pregação junta às camadas mais populares da sociedade. Com tanta gente ao redor, Jesus e seus discípulos “nem sequer podiam comer”, porque a prioridade era o serviço; com essa expressão o evangelista ressalta o aparente sucesso e, ao mesmo tempo, a dimensão do serviço na vida da comunidade: antes de tudo, o serviço e a atenção aos necessitados. O discípulo deve pensar mais no outro do que em si próprio; nada de egoísmo na comunidade de Jesus.

Como já acenamos, a acolhida da mensagem de Jesus não era igual entre todos os grupos ou classes sociais. Ao contrário da multidão que o buscava constantemente, havia quem o contestasse e procurasse desqualificar a sua atuação libertadora, seja por incompreensão ou mesmo por maldade e medo de perder privilégios. Entres os que não o compreendiam, estavam os seus familiares: “Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (v. 21). Jesus já tinha deixado a família em Nazaré a algum tempo, e adotado a cidade de Cafarnaum como ponto de apoio para seu ministério itinerante. Porém, como sua fama se espalhava com facilidade, também chegaram notícias suas em Nazaré e, por sinal, não muito boas. Envergonhados pelo seu comportamento subversivo, seus familiares chegaram à conclusão de que ele só podia estar louco, ou seja, “fora de si”; diante disso, eles tomaram a decisão de procurá-lo para prendê-lo, levá-lo para casa e, assim, evitar que ele continuasse a envergonhar o nome da família com um comportamento fora dos padrões estabelecidos.

Com rapidez, a fama de Jesus chegou também em Jerusalém, centro do poder religioso e político, onde estavam as autoridades constituídas para manter a ordem e o controle social e ideológico. Se na pequena Nazaré Jesus era considerado louco, na capital era visto como “endemoniado”, provocando a ida de uma comitiva oficial a Cafarnaum, para tentar impedir que ele continuasse o seu ministério. Assim atesta o evangelista: “Os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Beelzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios” (v. 22). A acusação é grave, considerando o teor e contexto. Enquanto Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus, compreendido como um projeto de sociedade marcada pela igualdade, justiça e amor, seus adversários tentam desqualificá-lo, acusando-o de agir em nome do demônio; Beelzebu, cujo nome pode significar “senhor da casa, senhor das moscas ou senhor do esterco”, era uma divindade filisteia, considerado portador de doenças em Israel. Era a expressão máxima do mal para os judeus mais devotos.

Além de perversa e hipócrita, a acusação dos mestres da lei é também contraditória, por isso foram desmascarados instantaneamente: “Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: ‘Como é que Satanás pode expulsar Satanás?” (v. 23). Se toda a atividade de Jesus, desde o início do seu ministério, consistia no anúncio do Reino de Deus e, consequentemente, a eliminação do mal, a acusação dos mestres da lei não tinha o mínimo fundamento. “Satanás” é a expressão do antagonista de Deus, conforme a mentalidade bíblica e, por isso, era o opositor de Jesus, aquele que precisava ser derrotado. Para deixar ainda mais claro o quanto os mestres da lei estavam mal intencionados, Jesus aprofunda a contradição deles com mais algumas pequenas parábolas: tanto um reino quanto uma casa não podem sobreviver com divisões internas; as divisões são sempre causas de ruína e destruição (cf. v. 24-27).

Jesus encerra a discussão com os mestres da lei com uma declaração solene bastante impactante: “Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas culpado de um pecado eterno” (v. 28-29). A introdução “em verdade vos digo” (em grego: VAmh.n le,gw u`mi/n – amén lêgo himin) significa que aquilo que está para ser anunciado é de fundamental importância para o auditório: o pecado contra o Espírito Santo é imperdoável. Mas, qual é mesmo o pecado contra o Espírito Santo? É aquilo que os mestres da lei estavam fazendo: lúcida e voluntariamente, eles negavam a ação de Deus em Jesus. É inadmissível que não se reconheça que tudo o que Jesus fazia e faz é trazer Deus para a vida das pessoas, torna-lo acessível. Na verdade, era essa acessibilidade a Deus, livre e gratuita, oferecida por Jesus que irritava os mestre da lei e as demais autoridades religiosas do seu tempo, pois isso significava para elas perda de poder e privilégios.

Conhecendo o Deus amoroso revelado por Jesus, as pessoas deixavam de aceitar o Deus juiz, vingativo e mercantilista do templo. A pregação de Jesus era uma ameaça à sobrevivência daquela religião. Por isso, as autoridades faziam de tudo para impedi-lo de continuar o seu ministério. Para Jesus, a tentativa de bloquear a ação de Deus na história, revelada por ele com a mensagem e a práxis, é a verdadeira blasfêmia, é o grande pecado. O pecado contra o Espírito Santo é, portanto, a pretensão de todo sistema religioso que pretende determinar ou negar o agir de Deus na história.

Após desmascarar as autoridades religiosas, representadas no texto pelos mestres da lei, o evangelista volta a atenção para o conflito de Jesus com os seus familiares que pretendiam prendê-lo: “Nisto chegaram sua mãe e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: ‘Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura’” (vv. 31-32). Jesus estava na casa e circundado por uma multidão que, certamente, o escutava atentamente. De propósito, o evangelista enfatiza duas posturas opostas diante de Jesus: ficar do lado de fora e apenas ouvir o que se diz a seu respeito, ou entrar na casa e sentar-se ao seu redor, experimentando pessoalmente o amor e a plenitude de vida que ele transmite.

O evangelista não pretende mostrar nem criar oposição ou rivalidade entre os familiares de Jesus e a comunidade dos discípulos; ele quer apenas ajudar a sua comunidade a compreender que, aceitar a proposta de vida de Jesus implica assumir uma maneira diferente de viver, com novos critérios de pertença e relação; é isso que fica claro com a resposta de Jesus: “‘Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?’ E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: ‘Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (v. 33-35). Com essa afirmação, ao invés de menosprezar os seus familiares, ele está dando a oportunidade de também eles entrarem na dinâmica do Reino de Deus e, ao mesmo tempo, que qualquer pessoa, independente da origem, pode fazer parte da sua família.

Para fazer parte da comunidade de Jesus, o único critério e exigência é tornar-se discípulo ou discípula; para isso, é necessário ouvir a sua palavra e fazer a vontade de Deus. Se trata de uma regra sem exceção. A adesão ao Reino exige uma conversão completa, ou seja, mudança de mentalidade, inclusive na concepção de família. O seguimento a Jesus não comporta meios termos. Seu projeto de vida exige tomada de decisão. As notícias a seu respeito se espalhavam de Jerusalém a Nazaré; muitas incompreensões surgiam com isso. Diante de isso, era e continua sendo indispensável “entrar na casa” e sentar-se ao seu redor para escutá-lo; sem essa experiência, qualquer juízo sobre a sua pessoa será distorcido ou parcial.

Pe. Francisco Cornelio Freire Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN



sexta-feira, junho 01, 2018

REFLEXÃO PARA O IX DOMINGO DO TEMPO COMUM – MARCOS 2,23 – 3,6 (ANO B)





Com a retomada do tempo comum, também retomamos a leitura contínua do Evangelho segundo Marcos, como prescreve a liturgia para o ano B. Neste nono domingo, o texto proposto é Mc 2,23 – 3,6, o qual narra duas situações polêmicas de Jesus com os seus tradicionais adversários, os fariseus, e certamente com outros fiéis observantes do judaísmo frequentadores do culto sabático na sinagoga. Se trata de dois episódios envolvendo a interpretação livre e autônoma de Jesus em relação ao sábado com as reações contestadoras dos fariseus.

A observância rigorosa do sábado tinha se tornado o traço mais importante da religiosidade praticada pelos fariseus. Havia, inclusive, uma grande vigilância deles em relação a esse preceito, principalmente nas pequenas cidades e aldeias, distantes de Jerusalém e do templo. A vida rural, totalmente dependente das atividades manuais, oferecia bem mais possibilidades de “transgressão”, conforme a mentalidade farisaica. O contexto do texto é o ministério de Jesus na Galileia, marcado por uma série de polêmicas que lhe renderam diversas acusações pelos fiéis observantes das tradições religiosas.

Marcos apresenta uma série de polêmicas envolvendo Jesus nos capítulos 2 e 3 do seu Evangelho. Ainda no início do seu ministério, Jesus é acusado de: fazer-se igual a Deus, ao perdoar pecados (cf. Mc 2,1-12); comer com publicanos e pecadores (cf. Mc 2,15-17); não ensinar seus discípulos a praticarem o jejum (cf. 2,18-22); transgredir o sábado junto com os discípulos, como relata o evangelho de hoje: Mc 2,23-28 e 3,1-6. Com duas polêmicas seguidas sobre o sábado, o evangelista evidencia o zelo que os fariseus tinham por esse mandamento e a necessidade de Jesus ressignificá-lo, colocando-o a serviço da vida.

O texto de hoje se encontra também nos outros sinóticos, com algumas leves modificações (cf. Mt 12,1-14; Lc 6,1-11). Do primeiro versículo, podemos colher muitas informações importantes para a interpretação de todo o texto: “Jesus estava passando por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam” (v. 23). Havia um limite de percurso para se caminhar em dia de sábado, o que não deveria ultrapassar os 1.200 metros. O texto faz pensar que esse limite estava sendo desobedecido por Jesus, embora não entre nas acusações posteriores. Enquanto as versões de Mateus e Lucas dizem que os discípulos arrancaram as espigas para comer, Marcos diz que arrancaram para abrir caminho, embora a tradução litúrgica não deixe claro; a tradução mais correta seria: “Seus discípulos começaram a abrir caminho, arrancando as espigas” (v. 23b). Esse diferencial de Marcos acentua ainda mais o grau de transgressão; arrancar espigas para fazer caminho é, literalmente, realizar uma atividade braçal.

A reação dos fariseus revela a prática de uma religião caduca, vigilante e punitiva: “Então os fariseus disseram a Jesus: “Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?” (v. 24). Ao invés de estarem cultuando a Deus ou fazendo o bem ao próximo, os fariseus estavam vigiando se Jesus e seus discípulos estavam observando o mandamento. O rigorismo farisaico era tão forte a ponto de espalharem vigilantes para observar se alguém transgredia a lei. É esse tipo de religião que Jesus denuncia com sua interpretação livre e prática libertadora, e o evangelista Marcos faz questão de recordar para sua comunidade. O Reino a ser construído pelos discípulos e discípulas de Jesus não pode seguir os parâmetros daquela religião.

Antes, Jesus já tinha sido questionado pelo comportamento dos seus discípulos em relação ao jejum (cf. Mc 2,18-22). Naquela ocasião, usou como a argumento a presença do noivo como sinônimo de alegria, tornando o momento impróprio para o jejum. Dessa vez, a resposta se fundamenta diretamente na Escritura, mostrando que também Davi, quando teve necessidade, transgrediu a lei com seus companheiros, comendo do pão que só era permitido aos sacerdotes (cf. vv. 25-26; 1 Sm 21,2-10). Há um pequeno equívoco do evangelista em relação ao nome do sacerdote no episódio de Davi: ao invés de Abiatar, era seu pai Aquimelec. Porém, o importante não são esses detalhes, mas a mensagem em seu complexo: a obsessão dos fariseus pelo sábado fecha-os completamente, a ponto de não compreenderem a Escritura. 

Jesus resolve a primeira polêmica com uma afirmação de caráter sapiencial, e exclusiva do Evangelhos de Marcos: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (v. 27); nessa, ele deixa claro o sentido do sábado e de toda a lei: o bem do ser humano. Nenhum aspecto da lei deve ser usado para impedir o bem do ser humano. O sábado e toda a lei foram feitos para o bem da pessoa humana, para sua plena realização e libertação. Com essa interpretação, ao invés de transgredir, Jesus recupera o sentido verdadeiro do sábado como memorial de libertação (cf. Dt 5,12-15), e o faz com plena convicção de que “o Filho do Homem é Senhor também do sábado” (v. 28). Com o título de “Filho do Homem”, ele reivindica sua condição divina e sua missão de reordenar a criação, colocando o ser humano em seu lugar primordial.

A segunda parte do texto apresenta a conclusão da série de polêmicas. A cena acontece ainda no sábado, e dentro da sinagoga: “Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. (3,1). Ao mencionar a presença de um homem com a mão seca, o evangelista quis enfatizar que se tratava de uma pessoa impossibilitada de trabalhar para o seu sustento e também para fazer o bem. Em uma sociedade basicamente agrícola como aquela, as mãos eram os membros mais valorizados numa pessoa; portanto, aquele homem estava privado de sua dignidade, do respeito, e da capacidade de colaborar com a criação e a sociedade. Para quem praticava uma falsa religião, ou seja, frequentava o culto mas o separava da vida e da prática do bem ao próximo, aquela situação já não preocupava, era vista como normal. Como para Jesus o culto agradável a Deus é sempre o bem do ser humano, a situação daquele homem não poderia lhe passar despercebida.

Como a fama de Jesus como transgressor da lei e dos bons costumes já tinha se espalhado, onde ele chegava era bastante observado e vigiado, principalmente nos ambientes religiosos: “Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo” (3,2). Os adversários já estavam prontos para acusá-lo, caso ele intervisse na situação daquele homem. O evangelista mostra o quanto os praticantes da religião já estavam perseguindo Jesus: o vigiavam enquanto caminhava e também quando parava e entrava em algum lugar. Já estava claro que a prática libertadora de Jesus era uma ameaça e um perigo àquela religião. Onde quer que Jesus se encontrasse, havia representantes da religião vigiando.

É claro que Jesus não se intimidava com a perseguição e vigilância. O bem do próximo, principalmente dos desvalidos e excluídos, era sempre a sua prioridade maior. Eis, então, a sua atitude: “Jesus disse ao homem da mão seca: levanta-te e fica aqui no meio!” (3,3). O primeiro que Jesus faz é restituir a vida; incapacitado para o trabalho, era como se aquele homem não vivesse. Ao ordenar que se levante, Jesus recupera a vida com o seu sentido de liberdade; para a ordem de levantar, o evangelista emprega, no imperativo, o mesmo verbo que usará para expressar a ressurreição de Jesus (o verbo grego e;geirw – egheiro); ao ordenar que fique no meio, Jesus o torna protagonista e mostra que o centro do verdadeiro culto e da religião, deve ser sempre o bem da pessoa humana. Portanto, Jesus resgatou a vida daquele homem, mandando-o levantar-se, e deslocou o ser humano para o centro do culto, deixando de lado a lei com seus preceitos.

Sabendo que estava sendo observado e até mesmo odiado pelas pessoas devotas presentes na sinagoga, Jesus faz uma pergunta decisiva para a compreensão da sua mensagem: “É permitido no sábado fazer o bem ou o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” (3,4). A resposta foi o silêncio. A pergunta evidencia a diferença na maneira de compreender o sentido do sábado entre Jesus e seus adversários. Deixar de fazer o bem já é uma forma de fazer o mal. A omissão e a indiferença não podem ser aceitas na comunidade cristã, recorda o evangelista com essa pergunta de Jesus. Não se pode desperdiçar uma única oportunidade de fazer o bem. O espaço e o momento cultual da cena recordam para a comunidade qual a natureza do verdadeiro culto agradável a Deus: fazer sempre o bem ao necessitado.

O agir de Jesus em favor do bem do ser humano não sensibiliza seus adversários que preferem permanecer atacados às tradições e prescrições, preferindo uma religião indiferente à vida: “Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: “Estende a mão. Ele a estendeu e a mão ficou curada” (3,5). Antes mesmo de narrar a cura, o evangelista registra a reação de Jesus à dureza de coração dos adversários: “Jesus encheu-se de ira e tristeza”. Marcos é o único evangelista que apresenta Jesus com esses sentimentos de indignação; é a reação de Deus à rejeição do seu amor. A dureza de coração reflete uma religião petrificada, sem a mínima abertura à novidade do Reino de Deus proposto por Jesus. Endurecendo o coração ao ver Jesus fazendo o bem, os seus adversários demonstram a adesão a uma religião excludente, punitiva, legalista e fechada.

Com a cura, mais que mostrar um ato extraordinário de Jesus, o evangelista alerta a comunidade a colocar sempre a prática do bem como prioridade. A mão curada daquele homem significa a restauração da sua vida; com sua saúde restituída, ele voltou a ser protagonista da própria história, ou seja, voltou a viver. Certamente, Jesus poderia ter deixado para fazer a cura em um outro momento. Mas o fez no sábado e na sinagoga para desmascarar aquela religião segregadora e hipócrita. Fazendo em outro momento, estaria sendo conivente com aquele culto ultrapassado indiferente à vida das pessoas com seus problemas. Fazendo em um contexto cultual, ele deixou explícita a sua denúncia e a sua indignação com uma religião fechada ao amor que é a essência mesma de Deus.

A postura libertadora de Jesus incomoda aos duros de coração; e isso os leva a procurarem uma maneira de eliminá-lo, afinal, Jesus estava sendo um perigo para aquele modelo de sociedade e de religião. Por isso, “Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram contra Jesus, a maneira como haveriam de mata-lo” (3,6). A colisão dos fariseus com os partidários de Herodes mostra o quanto a mensagem de Jesus era inquietante, tornando-se uma ameaça para o sistema, e denuncia o máximo de hipocrisia: é o conluio dos covardes, dos opressores, de quem percebe que seus sistemas falharam e, por isso, apelam para a violência. Eram grupos adversários que tinham escolhido Jesus como inimigo comum. Os herodianos constituíam o grupo de apoio público à dominação romana, e reconheciam a divindade do imperador. Já os fariseus, como o mais devoto dos grupos religiosos judaicos, viam a dominação romana como um abomínio, por isso esperavam constantemente pelo envio de um Messias glorioso e guerreiro que ressuscitasse o reino davídico-salomônico. Nesse plano de fariseus e herodianos, está uma antecipação do plano futuro que levará Jesus à morte: a religião e o império romano unidos para pôr fim a um personagem incômodo e indesejado: Jesus de Nazaré.

Mesmo não sendo observantes do sábado, as comunidades de hoje devem ser questionadas pelo Evangelho de hoje. São convidadas a refletir sobre quais são suas prioridades cultuais, sobre suas opções preferenciais e, principalmente, sobre a presença de Jesus em seu meio. A presença do Ressuscitado numa comunidade provoca mudanças, abala estruturas, desconstrói paradigmas e concepções. Ao ressignificar o sábado, Jesus mexeu com aquilo que o seu povo considerava mais sagrado. Precisamos aprender com ele a discernir entre o essencial e o periférico, sabendo de antemão que o essencial é sempre a promoção do bem e a libertação do ser humano.

Pe. Francisco Cornelio Freire Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

REFLEXÃO PARA O 4º DOMINGO DA PÁSCOA – JOÃO 10,11-18 (ANO B)

O evangelho do quarto domingo da páscoa é sempre tirado do capítulo décimo do Evangelho de João, no qual Jesus se auto apresenta como o ún...