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sábado, junho 14, 2025

REFLEXÃO PARA A SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – JOÃO 16,12-15 (ANO C)



No primeiro domingo depois de Pentecostes, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade. Os textos bíblicos empregados nesta solenidade se alternam conforme a dinâmica do ciclo litúrgico. Neste ano, por ocasião do ciclo litúrgico C, é Jo 16,12-15. Ao contrário das solenidades pascais, instituídas desde os primeiros séculos do cristianismo, essa festa já foi introduzida no calendário litúrgico em um período mais tardio. Em alguns países, começou a ser celebrada ainda por volta do séc. oitavo, mas só foi instituída oficialmente como festa universal pelo papa João XII, já no ano de 1334, como resposta a alguns movimentos heréticos que negavam a divindade de Jesus e/ou do Espírito Santo. Nela, recordamos o mistério da comunhão de amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a Trindade Santa, em cujo nome somos batizados, batizadas e, consequentemente, salvos e salvas. É muito significativo que esta solenidade seja celebrada logo no primeiro domingo após Pentecostes. Como se sabe, em Pentecostes acontece o verdadeiro nascimento da Igreja. Desse modo, a Solenidade da Santíssima Trindade vem indicar que toda a ação da Igreja é trinitária, a começar pelo batismo, que se celebra em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Portanto, é em nome da Santíssima Trindade que ingressamos e participamos da comunidade cristã. Isso faz da comunidade o lugar privilegiado de comunhão com o Deus que é também comunidade. Como sempre, a nossa reflexão será pautada exclusivamente a partir do evangelho, sem levar em consideração as afirmações dogmáticas a respeito da Santíssima Trindade.

O contexto do Evangelho de hoje ainda é o da última ceia, ambientada no cenáculo em Jerusalém, e vivenciada por Jesus com seus discípulos, às vésperas da Páscoa. Como já afirmamos em outras ocasiões, pois durante quase todo o tempo pascal o evangelho dos domingos foi tirado desse mesmo contexto, a ceia no Quarto Evangelho não significa apenas o consumo de alimentos, nem a vivência de um rito, tampouco uma mera confraternização. Para a comunidade joanina a ceia é autorrevelação de Jesus, sendo o momento mais forte da sua catequese. Por isso, conforme o respectivo evangelho, foi na ceia que Jesus apresentou o seu “testamento”, como é convencionalmente chamado o seu longo discurso de despedida, do qual faz parte o evangelho de hoje. A centralidade da ceia em João já é evidenciada pelo amplo espaço narrativo que ocupa: são cinco capítulos (Jo 13 –17), totalizando cento e cinquenta e cinco versículos, o que corresponde a um quarto de todo o Evangelho. Esse momento foi iniciado com o lava-pés (13,1-15), e continuado pelo discurso de Jesus, com algumas interrupções dos discípulos (13,36-38; 14,5.8.22). Jesus sabia do que estava para acontecer: em pouco tempo, seria condenado à morte; os discípulos também imaginavam o que estava para acontecer, embora não tivessem ainda tanta clareza. Havia um clima de tensão e medo entre os discípulos, o que era inevitável para as circunstâncias. Por isso Jesus procurou tranquilizá-los em diversos momentos (14,1.27; 16,6.22). Por cinco vezes, durante o discurso, Jesus prometeu enviar o Espírito Santo quando retornasse para o mundo do Pai (14,16-17.26; 15,26; 16,7-8.13), de modo que os discípulos não permaneceriam sozinhos, pois através do Espírito, a presença de Jesus se eternizaria no meio deles. O Evangelho de hoje contém a quinta e última promessa do Espírito Santo.

Durante o seu ministério, Jesus apresentou todo o seu programa aos discípulos, ou seja, o seu “Evangelho”, compreendendo palavras e sinais; não escondeu nada, conforme Ele disse nesse mesmo discurso: «já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor, mas vos chamo de amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer» (Jo 15,15). Ser discípulo(a) de Jesus é entrar no seu círculo de profunda intimidade, é ser contado entre os seus amigos. E dos amigos, ele nada esconde. A princípio, o primeiro versículo do evangelho de hoje parece contradizer a afirmação acima, que ele já disse tudo, pois, de repente, ele diz: «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora» (v. 12). Ora, Jesus já disse tudo; não há novas coisas para dizer ou ensinar. Logo, aqui, ele não se refere a novos ensinamentos, mas à capacidade de compreensão dos discípulos, que não tinham assimilado tudo o que ouviram dele.

Muita coisa da vida e da mensagem de Jesus ainda não tinha sido assimilada pelos discípulos, porque a chave de interpretação da sua vida é a cruz e ressurreição. Na verdade, aqui o evangelista nem usa o verbo compreender, empregado equivocadamente pela tradução litúrgica, mas o verbo “suportar” (em grego: βαστάζω – bastázo); a tradução mais justa, portanto, seria: “não sois capazes de suportar agora”. Antes da experiência da ressurreição, e sem o dom maior do Ressuscitado, que é o Espírito Santo, os discípulos não teriam forças para suportar a sua mensagem de libertação e vida em plenitude, sobretudo porque essa mensagem compreende a passagem pela cruz, como consequência de um amor incondicional. Inclusive, alguns acontecimentos durante o processo de Jesus demonstram a incapacidade dos discípulos de suportar a sua mensagem com suas consequências; a traição de Judas e a tríplice negação de Pedro atestam isso.

Para compreender e suportar o peso da mensagem de Jesus, principalmente a cruz, os discípulos necessitam de uma força especial, de uma energia que os tire do medo e do comodismo. Por cruz não se compreende apenas a crucifixão sofrida uma vez no calvário, mas o conjunto da obra. Em toda a sua vida, Jesus viveu um crucificar-se contínuo. Cada atitude de rejeição sofrida, desde os primeiros momentos do seu ministério, já apontava para a cruz como desfecho. Diante disso, conhecendo seus discípulos, ele sabia que não estavam ainda preparados para suportar tudo o que ele estava suportando. Por isso, para que pudessem continuar sua missão com fidelidade, ele garante que receberão a força necessária, o Espírito Santo, para sustentá-los e conduzi-los: «Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará» (v. 13). Ora, a Verdade é o próprio Jesus, como Ele mesmo se autointitulara antes: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14,6). A “Verdade plena”, portanto, é o Cristo glorificado no mundo do Pai, tendo já passado pela cruz e ressurreição, realidade que só pode ser assimilada por quem se deixa conduzir pelo Espírito; significa o “conjunto da obra”: da preexistência do Verbo (Jo 1,1) à encarnação (Jo 1,14), passando pela cruz, até o retorno ao mundo do Pai.

A função do Espírito é manter a comunidade alinhada ao projeto de Jesus, que é a Verdade em pessoa. O Espírito não falará por si mesmo, será a voz do Pai e do Filho no coração das pessoas e na vida da Igreja. Transmitirá ao mundo a comunhão de amor que envolve o Pai e o Filho, como força de humanização para a humanidade inteira. E o Espírito é o próprio amor que une o Pai e o Filho; mediante seu sopro, esse amor irradia-se sobre o mundo, fecundando-o de vida , e vida em abundância. As “coisas futuras” que serão anunciadas não são novas revelações ou visões; significa a capacidade de ler os eventos futuros à luz da mensagem de Jesus. A comunidade cristã – a Igreja – sempre encontrará situações novas e surpreendentes ao longo da história, não previstas por Jesus e seu pequeno grupo de discípulos, durante os aproximados três anos de ministério. Ao longo da história, a comunidade cristã necessita do dom do Espírito Santo para discernir e aplicar o ensinamento de Jesus, que já disse tudo, mas preciso ser compreendido de modo novo, a cada dia, diante das novas realidades que surgem continuamente. Independentemente da época, a comunidade deverá interpretar tais situações à luz de tudo o que Jesus ensinou. E só é possível fazer isso deixando-se conduzir pelo Espírito da Verdade. Por isso, guiada pelo Espírito Santo, a comunidade mantém a atualidade da mensagem de Jesus em qualquer que seja a situação e a época histórica.

Continuando a explicação sobre os efeitos do Espírito Santo para a vida da comunidade, Jesus afirma: «Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará» (v. 14). Ora, o Espírito irá iluminar os discípulos para compreenderem e viverem o que Jesus já disse. Assim como Jesus glorificou o Pai fazendo a sua vontade, também o Espírito glorifica Jesus conduzindo a comunidade em conformidade com o Evangelho. Aqui, cabe destacar um aspecto importante da teologia do Quarto Evangelho. Ora, ao contrário dos sinóticos, que preveem uma vinda gloriosa de Jesus no final dos tempos, João segue outra perspectiva. Para o autor do Quarto Evangelho, a glória de Jesus é que Ele mesmo esteja permanentemente presente na comunidade através do Espírito. À medida em que a comunidade se deixa conduzir pelo Espírito Santo, ela põe em prática o programa de Jesus, cuja síntese é o novo mandamento do amor (Jo 13,34). Fazendo assim ela revela Jesus presente no mundo. Fazer isso é glorificá-lo. Portanto, o efeito “glorificante” do Espírito Santo em relação a Jesus confere séria responsabilidade à comunidade.

A promessa do Espírito é concluída com uma afirmação muito profunda que enfatiza a comunhão de Jesus com o Pai: «Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu» (v. 15). O Pai é a fonte originária de tudo. O que Jesus tem a oferecer ao mundo, o amor ilimitado e incondicional, pertence ao Pai; mas como Ele e o Pai são Um (Jo 10,30), tudo o que é do Pai é também seu. Logo, o que o Espírito recebe de Jesus, recebe também do Pai. Aqui, nesse último versículo temos, de fato, um eco trinitário bastante evidente, pois revela a comunhão dos três: o Espírito comunica à comunidade tudo o que recebe de Jesus, e tudo o que Jesus concede ao Espírito recebeu do Pai. Por isso, pode-se dizer que os Três são Um. Acolhendo, o Espírito, a comunidade vive o que Jesus ensinou e, assim, revela ao mundo o rosto de um Pai que é todo amor.

Portanto, a presença perene de Jesus na comunidade, através do Espírito, é também presença do Pai. É essa relação que torna sempre novo e atual tudo o que Jesus viveu e ensinou. Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo é entrar também nessa comunhão profunda com o Pai e o Filho. O resultado da acolhida a essa comunhão é a humanização do mundo.

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

 

sexta-feira, maio 24, 2024

REFLEXÃO PARA A SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – MATEUS 28,16-20 (ANO B)

 


No primeiro domingo depois de Pentecostes, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade. Os textos bíblicos empregados nesta solenidade se alternam conforme a dinâmica do ciclo litúrgico. Por ocasião do ano B em vigência, o evangelho lido neste domingo é Mt 28,16-20. Ao contrário das solenidades pascais, instituídas desde os primeiros séculos do cristianismo, essa festa já foi introduzida no calendário litúrgico em um período mais tardio. Em alguns países, começou a ser celebrada ainda por volta do séc. oitavo, mas só foi instituída oficialmente como festa universal pelo papa João XII, já no ano de 1334, como resposta a alguns movimentos heréticos que negavam a divindade de Jesus e/ou do Espírito Santo. Nela, recordamos o mistério da comunhão de amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a Trindade Santa, em cujo nome somos batizados, batizadas e, consequentemente, salvos e salvas. É muito significativo que esta solenidade seja celebrada logo no primeiro domingo após Pentecostes. Como se sabe, em Pentecostes acontece o verdadeiro nascimento da Igreja. Desse modo, a Solenidade da Santíssima Trindade vem indicar que toda a ação da Igreja é trinitária, a começar pelo batismo, que se celebra em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Portanto, é em nome da Santíssima Trindade que ingressamos e participamos da comunidade cristã. Isso faz da comunidade o lugar privilegiado de comunhão com o Deus que é também comunidade. Como sempre, a nossa reflexão será pautada exclusivamente a partir do evangelho, sem levar em consideração as afirmações dogmáticas a respeito da Santíssima Trindade.

O texto de hoje corresponde aos últimos versículos do Primeiro Evangelho. Por isso, contém as últimas palavras de Jesus na respectiva obra, funcionando como uma espécie de testamento. O contexto é estritamente pascal, bem como o conteúdo: a manifestação do Ressuscitado aos onze, na Galileia. Podemos dizer que o evangelho de hoje é uma síntese conclusiva de todo o Evangelho de Mateus. À medida em que escreve suas últimas linhas, o evangelista e sua comunidade fazem questão de resumir a essência de tudo o que já tinha sido apresentado ao longo da obra, sobretudo em relação aos ensinamentos de Jesus. É isso que percebemos hoje. Portanto, para compreendê-lo bem é necessário que o leitor esteja familiarizado com o conjunto da obra. Na impossibilidade de recordar o Evangelho todo, recordamos, pelo menos, os últimos acontecimentos narrados: o relato da ressurreição com a manifestação do anjo e do próprio Ressuscitado às mulheres (Mt 28,1-10), e o suborno dos guardas pelos sacerdotes com a mentira do roubo do corpo de Jesus pelos discípulos (Mt 28,11-15). O texto de hoje sucede imediatamente a esses acontecimentos. Tanto o anjo do Senhor (28,5-7), quanto o próprio Jesus (28,10) ordenaram às mulheres que avisassem aos discípulos que retornassem à Galileia para, ali, fazerem também eles a experiência do encontro com o Ressuscitado. Por isso, além de recordar, é importante ressaltar que o encontro dos discípulos com o Ressuscitado, narrado no evangelho de hoje, é fruto também do anúncio das primeiras apóstolas da ressurreição: aquelas mulheres que, na madrugada do primeiro dia, foram visitar o sepulcro e receberam o mandato de convencer os discípulos a retornarem à Galileia para encontrarem o Ressuscitado (Mt 28,1-10).

É à luz das informações recordadas anteriormente que podemos compreender o que o evangelho de hoje diz logo em seu primeiro versículo: «Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado» (v 16). A menção aos onze recorda a perda de Judas, que já não fazia mais parte do grupo dos discípulos, mas possui também um outro significado: o número doze representava um projeto de reconstituição do antigo Israel, alimentando a ideologia nacionalista e triunfalista. Esse projeto faliu, devido à rejeição de Israel ao projeto de Jesus, cujo ápice foi a morte escandalosa na cruz. À luz da ressurreição, a comunidade mateana, fazendo uma releitura dos últimos acontecimentos, percebe que a missão universal confiada à Igreja não precisa mais ser configurada às tradições de Israel. O projeto do Reino dos Céus que Jesus anunciou ao longo do Evangelho não coincide com a restauração do reino de Israel. Por isso, o número onze não significa incompletude da comunidade, mas é sinal de uma nova perspectiva e ruptura com os antigos esquemas. Não podemos esquecer que a eleição de Matias para recompor o número doze é um elemento exclusivo da teologia narrativa de Lucas (At 1,15-26). Na perspectiva de Mateus, para a comunidade do Ressuscitado sobreviver e crescer, é necessário abandonar os esquemas tradicionais do judaísmo. A base fornecida por Israel – a Lei e os profetas – não perderam o seu valor, mas receberam o cumprimento (Mt 5,17). De Jesus em diante, o que conta é o anúncio e a construção do Reino, cujas bases são as bem-aventuranças.

Segundo a recomendação, os discípulos foram para a Galileia, ao monte indicado. Ora, em Jerusalém acontecera a grande tragédia para a comunidade dos discípulos. Além de ter sido o cenário da paixão e morte de Jesus, a capital não oferecia nenhuma perspectiva para a comunidade do Ressuscitado ali florescer. Basta recordar o conluio dos poderes religioso, militar e político para desacreditar a ressurreição, com a ideia do roubo do corpo de Jesus pelos discípulos (28,11-15). Aliás, Jerusalém foi hostil a Jesus desde o seu nascimento, com a matança dos inocentes decretada por Herodes (Mt 2,16). O retorno à Galileia, portanto, era essencial para a sobrevivência da comunidade e, ao mesmo tempo, para o reencontro dos discípulos com as motivações e bases originárias. Além das incompreensões ao longo da caminhada, marcada inclusive pela rivalidade entre os discípulos (Mt 20,20), os acontecimentos envolvendo a paixão e a morte de Jesus deixaram a comunidade profundamente abalada. Daí a necessidade de um retorno ao ideal primeiro para fazer a experiência do monte. Ora, de acordo com as tradições do Antigo Testamento, o monte é, por excelência, o lugar do encontro com Deus e com a sua palavra. 

Ao longo de todo o seu Evangelho, Mateus situou Jesus no monte em diversas ocasiões, desde às tentações (Mt 4,8-10) até a paixão (Mt 26,30). Inclusive, foi no monte que Jesus proferiu o mais importante dos seus cinco discursos: o discurso da montanha (Mt 5–7), que se constitui como o seu programa de vida, cujo centro é as bem-aventuranças (Mt 5,1-12). De fato, nas bem-aventuranças está o centro da mensagem de Jesus, ou seja, a essência de tudo o que ele ensinou aos seus discípulos. Foi também no monte que Jesus se transfigurou diante de alguns discípulos, revelando antecipadamente sua identidade crucificado-ressuscitado. Logo, o convite para os discípulos retornarem à Galileia para o monte é exatamente para voltarem à essência do projeto de vida proposto por Jesus, percorrendo o seu mesmo caminho e fazendo as mesmas opções dele. É também um modo de indicar a continuidade entre a mensagem de Jesus de Nazaré, o galileu, e o Ressuscitado. E a Galileia como região desprezada entre os judeus é também uma advertência aos discípulos quanto aos destinatários primeiros da missão: os pobres e marginalizados.

Na sequência, o texto descreve a reação dos discípulos: «Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram» (v. 17). A princípio, parecem duas posturas opostas diante da ressurreição, mas o evangelista as vê como complementares. Prostrar-se é sinal de adoração e de convicção na ressurreição e na divindade de Jesus. Aqui, o evangelista emprega o mesmo verbo já empregado para indicar a atitude dos magos quando visitaram Jesus recém-nascido em Belém (Mt 2,2.11) e para descrever o gesto das mulheres quando viram o Ressuscitado pela primeira vez (Mt 289); Esse verbo (em grego: προσκυνέω – proskinêo) tanto indica adoração quanto sujeição a alguém, como deve ser a postura da comunidade: adorar e sujeitar-se somente a Jesus e ao que ele deixou como ensinamento, assumindo completa autonomia e emancipação em relação aos preceitos da Lei e às imposições do imperador romano. Assim como os magos e as discípulas mulheres, também os onze discípulos aceitam os valores do Reino como universais e, por isso, lutarão para que cheguem a todos lugares da terra, indistintamente. Ao contrário do que parece, a dúvida não faz mal à comunidade. Tanto é que Jesus não repreende os discípulos por isso. A dúvida é sinal de busca, e não de rejeição. Ao longo da missão universal da Igreja, muitas dúvidas surgirão, tanto em quem anuncia quanto nos destinatários do anúncio. As dúvidas abrem espaço para o Espírito Santo iluminar a comunidade e conduzi-la à verdade. Enquanto as certezas geram autoritarismos e imposições, as dúvidas dão margem ao diálogo, à abertura ao diferente. O antídoto à dúvida não é a certeza, mas a fé e o amor. Quanto maiores forem as dúvidas, maior será a necessidade da fé e do amor na comunidade.

Diante da reação dos discípulos, Jesus toma a palavra e profere seu breve discurso que, de certo modo, sintetiza todo o Evangelho de Mateus (vv. 18-20). É importante perceber que não são palavras de despedida, mas de envio e comissionamento. Para Mateus, Jesus nunca se despediu da comunidade, pois na sua essência está sua presença, o “estar com”. Ao dizer «Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra» (v. 18), Jesus está decretando a falência dos poderes sediados em Jerusalém (religioso, militar e político), e estabelecendo uma nova ordem. Está também reivindicando para si a identificação com a figura do “Filho do Homem” (Dn 7,13-14) e, ao mesmo, tempo corrigindo-a: ao Filho do Homem do livro de Daniel, foram dados poder e domínio. Jesus trocou o domínio pelo serviço (Mt 20,28), preferindo exercer sua autoridade no amor. A verdadeira autoridade, motivada pelo amor, parte da periferia – a Galileia –, enquanto em Jerusalém tem apenas força de morte, uma vez que lá o poder é exercido com base na mentira, no medo, no suborno e na violência, conforme o relato da paixão mostrou claramente. “Céu e terra”, aqui, significam a totalidade da criação submetida a Jesus Ressuscitado; quer dizer que o Pai lhe entregou tudo. Significa que tudo o que é de Deus passa por Jesus e está com ele, porque foi entregue em suas mãos.

O discurso prossegue com o envio universalista e inclusivo: «Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (v. 19). Aqui, Ele está, de fato, fazendo uso da sua autoridade e, mais uma vez, mostrando a diferença da sua para outras formas de exercício de poder. Ele não envia seus discípulos para impor e nem dominar, mas para fazer novos discípulos, uma vez que no seu Reino não há súditos, mas irmãos. Essa é, sem dúvidas, uma das maiores novidades de seu projeto de vida e de mundo. Não envia os discípulos para doutrinar ninguém, mas para apresentar um programa de vida, delineado ainda no início do Evangelho, com a proclamação das bem-aventuranças (Mt 5,1-12). Destacamos aqui a força do verbo empregado pelo evangelista para a expressão “fazer discípulos”: no grego, idioma original do evangelho, há o verbo “discipular” (μαθητεύω – matheteuô); com ele, o evangelista consegue distinguir o discipulado de uma simples tarefa, o que não distinguimos com facilidade em nossa língua, com as traduções que temos. Gerar discípulos ou discipular é, antes de tudo, viver o discipulado plenamente para torná-lo fecundo e, consequentemente, gerar mais discípulos. Também é importante recordar que os discípulos enviados para formar mais discípulos não deixam de ser discípulos; não recebem títulos que os distingue dos demais, novos e futuros discípulos. Sejam de os de primeira hora, sejam os que vierem depois, os seguidores de Jesus não mais do que discípulos, tendo em vista que Ele é o único mestre e Senhor.

O novo e universal discipulado deve nascer do testemunho, ou seja, da maneira de viver dos discípulos de primeira hora, os quais não são cumpridores de tarefas, mas seguidores de Jesus de Nazaré, o Ressuscitado. O conjunto do ensinamento de Jesus é sua forma de viver. Logo, é vivendo à sua maneira que se ensina e, consequentemente, faz nascer novos discípulos e discípulas. À missão de “discipular”, é intrínseca a função de batizar, como sinal de pertença à comunidade dos discípulos. Mateus pensa na sua comunidade, obviamente, marcada pela tensão entre os adeptos e os contrários à prática judaica da circuncisão. Dos novos discípulos, não deve ser exigido nenhum sinal externo além do batismo. A fórmula trinitária expressa a preocupação do evangelista para que o batismo de ingresso na comunidade cristã não seja confundido com o rito penitencial praticada por João Batista. A expressão “Em nome de/do” indica a força do batismo. Na tradição bíblica, o nome de uma pessoa é a sua própria identidade e essência, expressa a totalidade do seu ser. Portanto, ser batizado em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, é ser impregnado da essência mesma de Deus.

Como última recomendação do mandato, Jesus apresenta uma advertência, mais do que uma ordem: «E ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!» (v 20a). Em nenhum outro Evangelho essa expressão teria a profundidade que tem em Mateus.  Ora, Mateus é, por excelência, o Evangelho do ensinamento (em grego: διδαχή – didakê), tanto que está estruturado em torno de cinco discursos: o discurso da montanha (Mt 5–7); o discurso missionário (Mt 10); o discurso em parábolas (Mt 13); o discurso comunitário (Mt 18) e o discurso escatológico (Mt 24–25). Nesses cinco discursos está totalidade do ensinamento de Jesus, para a comunidade de Mateus, e é isso o que deve ser ensinado; dos cinco, destaca-se o primeiro, o discurso programático, chamado de “discurso da montanha”. A comunidade cristã tem a missão de ensinar tudo, sem distorção alguma, do que Jesus ensinou e ordenou. Essa totalidade do ensinamento de Jesus, no entanto, não passa de um jeito de viver, ou seja, é um programa de vida. Por isso, não pode ser distorcido e nem substituído por uma doutrina ou ideologia. E o efeito de ensinar a observar o conjunto da mensagem de Jesus é a construção de um mundo novo, uma humanidade nova. Em outras palavras, é a humanização do mundo.  

Finalmente, olhamos para a última frase de todo o evangelho, que é, na verdade, uma síntese da obra de Mateus enquanto livro e da missão mesma de Jesus: a certeza da sua presença permanente na comunidade: «Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (v. 20b). Embora a tradução do texto litúrgico apresente o verbo “estar” no futuro, o evangelista o emprega no presente, conforme o texto grego. Isso significa que Jesus nunca se ausentou da comunidade, ou seja, Ele não foi embora para voltar depois, mas permaneceu sempre. Aqui, ele diz «Eu estou convosco». Por sinal, a presença é um tema teológico central no Evangelho de Mateus: no início, Jesus é apresentado como Emanuel, cujo significado é “Deus está conosco” (1,23); Ele mesmo garantiu estar presente quando a comunidade estivesse reunida em seu nome (18,20), e garante, aqui na conclusão, permanecer para sempre com os discípulos. Por isso, com essa certeza, Mateus não tinha motivos para descrever Jesus subindo para o céu, como fez Lucas. O importante é que a comunidade possa sentir sua presença e que essa a estimule a viver e ensinar somente o que Ele ensinou.

Que possamos, portanto, viver impregnados da essência de Deus, como discípulos e discípulas de Jesus de Nazaré. Ressuscitado, ele está, de fato, presente na comunidade que vive o ideal de vida proposto nas bem-aventuranças. Nessa comunidade, todos são discípulos e discípulas e, portanto, irmãos e irmãs. Essa comunidade celebra, acolhe, convence pelo testemunho e coloca-se em saída para, com alegria, compartilhar tudo o que Ele ensinou. Ao colocar-se em saída, essa comunidade cumpre a missão de humanizar o mundo, não impondo doutrinas, mas vivendo intensamente o amor. Desse modo, a Santíssima Trindade é glorificada.

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, junho 03, 2023

REFLEXÃO PARA A SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – JOÃO 3,16-18 (ANO A)

 




No primeiro domingo depois de Pentecostes, celebra-se a solenidade da Santíssima Trindade. Nela, recordamos o mistério da comunhão de amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ao contrário das solenidades pascais, instituídas desde os primeiros séculos do cristianismo, essa solenidade já foi introduzida num período mais tardio – século quatorze. Como sempre, a nossa reflexão será pautada exclusivamente pelo evangelho, sem levar em consideração as afirmações dogmáticas a respeito da Santíssima Trindade. Por isso, ao invés de buscar definições e explicações para o mistério do Deus Uno e Trino, no qual cremos, procuraremos contemplar e assimilar a sua principal característica – o amor – revelada por Jesus, de acordo com o texto evangélico que a liturgia propõe neste ano: Jo 3,16-18. Apesar de curto, composto de apenas três versículos, esse texto possui uma profundidade e riqueza extraordinárias, como veremos no decorrer da reflexão. Como sempre, para o texto ser melhor compreendido, é necessário conhecer o seu contexto, como faremos a seguir.

Localizado ainda no início do Quarto Evangelho, esse texto faz parte do expressivo diálogo entre Jesus e Nicodemos, em Jerusalém. Naquela ocasião, Jesus se encontrava em Jerusalém por ocasião da festa da “páscoa dos judeus” (Jo 2,13.23). Durante sua estadia na grande cidade, Jesus realizou muitos sinais, despertando, além de oposição nas autoridades, adesão ao seu nome e curiosidade em alguns, como Nicodemos, com quem desenvolveu um prolongado e rico diálogo (Jo 3,1-21). Esse diálogo se desenvolve em três momentos: o reconhecimento da autoridade de Jesus por Nicodemos (3,1-3); a explicação de Jesus que para acolhê-lo como enviado do Pai é necessário nascer do alto (3,4-8), e a descrição do projeto divino de salvação (3,9-21). Embora se trate de um diálogo, Nicodemos pouco fala; a palavra é praticamente monopolizada por Jesus; Nicodemos quase só escuta. Inclusive, no texto de hoje só temos palavras de Jesus, segundo o evangelista.

O evangelista descreve Nicodemos como um judeu importante, pertencente ao grupo dos fariseus (Jo 3,1), profundo conhecedor da Lei (Jo 7,50-52), e curioso pela novidade de Jesus. Sua curiosidade para conhecer melhor a mensagem de Jesus revela sinceridade e respeito, inclusive o reconhecimento de que Jesus “vem da parte de Deus” (Jo 3,2), o que muitos fariseus tinham dificuldade de reconhecer, conforme as informações fornecidas pelos quatro evangelhos. A leitura atenta do texto em seu conjunto (Jo 3,1-21) revela que Nicodemos não estava satisfeito com a religião oficial. Parece que a imagem do Deus pregado pela sua religião já não lhe convencia plenamente. Certamente, ele desejava uma profunda renovação, embora ainda não estivesse pronto para romper com o sistema e aderir ao projeto de Jesus. A simples curiosidade, no entanto, já é um passo importante para quem estava plenamente atrelado à estrutura religiosa da época, inclusive como uma das lideranças. Nicodemos aparecerá em mais duas ocasiões no Quarto Evangelho, e sempre tomando posições a favor de Jesus: defendendo-o da ira dos fariseus quando ele tinha se apresentado como fonte de água viva, em alusão ao Espírito Santo (7,37-52), e ajudando em seu sepultamento (19,39). Se já tinha interesse em conhecer Jesus pelo que ouvia a seu respeito, certamente o interesse aumentou ainda mais ao dialogar com ele.

Como último aspecto a nível de introdução e contexto, recordamos as circunstâncias em que Nicodemos procurou Jesus: foi na “calada da noite” (Jo 3,2). Esse detalhe tem sido alvo de muitas tentativas de explicação pelos estudiosos. A explicação mais conhecida afirma que Nicodemos procurou Jesus à noite para não ser visto pelos seus colegas de doutrina, ou seja, os fariseus e os líderes religiosos de Jerusalém, uma vez que Jesus não era bem visto por esse meio. De fato, para quem defendia a moral e os bons costumes na época, a companhia de Jesus era desaconselhada. Porém, é provável que o evangelista tivesse intenções mais teológicas do que cronológicas para registrar esse detalhe, o que não convém aprofundarmos aqui, já que não é componente do evangelho de hoje, mas apenas um elemento do seu contexto. A noite, como imagem das trevas, poderia representar, na perspectiva do evangelista, o mundo em que Nicodemos vivia, com a mentalidade religiosa vigente.

Passemos, finalmente, ao estudo do texto, o qual começa com a seguinte afirmação de Jesus: «Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna» (v. 16). Jesus apresenta Deus como aquele que ama incondicionalmente, e ao mesmo tempo se auto apresenta como a prova desse amor incondicional, já que é, ele mesmo, o Filho único doado ao mundo. Essa é a primeira vez em que aparece o verbo do amor por excelência, no Quarto Evangelho: o verbo grego “agapáo”, o qual aparecerá mais trinta e cinco vezes. De quatro verbos correspondentes a amar na língua grega, somente “agapáo” expressa um amor incondicional e gratuito, que compreende a doação da vida.  E assim é o amor de Deus: Ele deu seu Filho ao mundo sem exigir reciprocidade; a resposta de amor a Ele da parte do mundo, ou seja, de cada ser humano, é simplesmente consequencia de sentir-se amado. Com essa afirmação, Jesus praticamente inverte o primeiro mandamento da Lei: na verdade, é Deus quem ama cada pessoa sobre todas as coisas. O mundo, para a teologia joanina, pode significar toda a humanidade, a criação inteira e, ainda, a oposição a Jesus e sua mensagem de salvação. Aqui, significa toda a humanidade; o gênero humano como destinatário do amor incondicional de Deus, o Pai.

A primeira finalidade da oferta de Jesus – o Filho – pelo Pai ao mundo é a vida eterna, o que não se trata de uma promessa para o além, mas de um dom já para o presente. O adjetivo “eterna”, aqui, não significa a duração, mas a qualidade da vida de cada pessoa que acolhe o dom do Pai, Jesus. Não é um prêmio reservado para os bons após a morte, mas a vida ressignificada de quem faz uma experiência autêntica com Jesus. É a vida autêntica e plena, a ponto de nem a morte poder destruí-la. À medida em que o ser humano encontra sentido para a sua existência, a sua vida se eterniza. E o sentido pleno da vida só pode ser encontrado quando se consegue viver autenticamente como imagem e semelhança do criador, à maneira de Jesus. E a humanidade tem a oportunidade de fazer essa experiência, pois o dom do Filho é acessível a ela toda, e não apenas a um povo. O amor de Deus é ilimitado e universal.

O segundo versículo reforça o que diz o primeiro com maior precisão: «De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele» (v. 17). A primeira frase, em forma de negação, enfatiza ainda mais o projeto de salvação de Deus, dizendo o que o Filho não veio fazer no mundo: condenar ou julgar. Considerando que o interlocutor de Jesus é um fariseu, observador impecável da Lei, essa frase adquire um sentido ainda mais forte: Deus não condena e nem julga ninguém; o versículo seguinte deixará isso ainda mais claro, ao afirmar que a condenação é opção pessoal de cada um(a). O pecado da humanidade não diminui o amor de Deus; tudo o que ele quer é que a humanidade seja salva; por isso, deu o seu Filho único. Salvar significa libertar, e é a missão que o Pai confiou a Jesus, ao enviá-lo ao mundo. A mensagem de Jesus é uma proposta de libertação plena para o ser humano. E a primeira prisão da qual Jesus quer libertar o ser humano é de uma concepção equivocada de Deus: a passagem da ideia de um Deus como juiz e patrão, para um Deus que é Pai e “louco” de amor pelos seus filhos. É importante recordar esse diálogo com Nicodemos é, na verdade, o primeiro discurso de Jesus no Quarto Evangelho; e sua primeira preocupação foi revelar que Deus é Pai e só tem amor para oferecer à humanidade.

Enquanto nos dois primeiros versículos Jesus falou da iniciativa de Deus, neste terceiro ele fala da resposta humana ao dom de Deus, com suas respectivas consequências: «Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito» (v. 18). Assim como foi livre a oferta do Pai, também deve ser livre a resposta do ser humano. Não é mais o Deus do templo, que exigia ofertas e sacrifícios como contrapartida a favores e bênçãos; é o da Deus da liberdade e da vida. O verbo crer no Quarto Evangelho tem um significado muito profundo, relacionado ao amor, inclusive. Significa responder positivamente ao amor de Deus, assimilando o programa de vida de Jesus. Para quem faz essa opção, obviamente, não há condenação; se torna uma pessoa livre e realizada, com uma vida plena de sentido, ou seja, eternizada. Quem rejeita essa oferta, perde a oportunidade de dar sentido à vida, e é essa a condenação da qual fala Jesus aqui; não se trata de um castigo futuro, mas de uma opção pessoal de viver fora da comunhão com Deus ainda aqui na presente existência. Em outras palavras, o evangelista diz que a mensagem de Jesus exige uma tomada de posição pró ou contra.

A certeza que temos é de um Deus Pai, que ama a humanidade incondicionalmente. É isso que o evangelho de hoje deixa claro. Ao amor, a única resposta convincente é também o amor. Mesmo que o Pai não exija que lhe amemos, se nos deixarmos envolver pelo seu amor revelado em Jesus, não poderemos reagir de outra maneira que não seja amando a ele e ao próximo como imagem sua. Portanto, sem condições e nem capacidades para descrever um Deus que é Um, mas que são três pessoas, arrisquemos a viver por amor como seu Filho viveu. Vivendo a seu modo, seremos agentes de humanização do mundo.

Pe. Francisco Cornélio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

 

REFLEXÃO PARA O 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM – LUCAS 14,25-33 (ANO C)

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