sábado, outubro 28, 2017

REFLEXÃO PARA O XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 22,34-40 (ANO A)


A liturgia deste trigésimo domingo do tempo comum oferece Mateus 22,34-40 para o Evangelho. É mais uma controvérsia de Jesus com os seus tradicionais adversários, os fariseus, como parte da ofensiva final das autoridades religiosas de Jerusalém com o intuito de desmoralizá-lo e antecipar a sua condenação. O local da cena é, mais uma vez, o templo de Jerusalém, espaço bastante hostil a Jesus, uma vez que sua mensagem era de reprovação total à religião oficial sediada naquele templo.

Os administradores do sagrado – sacerdotes, doutores da lei, saduceus, anciãos, fariseus – sentiam-se ameaçados pela mensagem emancipadora e contestadora de Jesus e, por isso, procuravam incansavelmente uma maneira de deslegitimá-lo. Para isso, formaram uma coalizão de forças. A primeira tentativa foi encabeçada pelos próprios sumos sacerdotes e anciãos do povo, aos quais Jesus respondeu com uma série de três parábolas (cf. Mt 21,28 – 22,14).

Tendo fracassado a tentativa dos sumos sacerdotes e anciãos, entraram em cena os fariseus, com a pergunta sobre a legitimidade do imposto a César (cf. Mt 22,15-21), os saduceus, com a pergunta sobre a ressurreição (cf. Mt 22,23-33), e novamente os fariseus com a pergunta sobre o maior dos mandamentos, no Evangelho de hoje. Trata-se de uma série de tentativas para pôr Jesus em dificuldade e até levá-lo à morte, como de fato acontecerá.

A frase inicial é muito importante para a compreensão de todo o texto: “Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus” (v. 34a). Ora, como Jesus tinha vencido a controvérsia com os fariseus sobre o imposto, os saduceus também entraram em cena com uma pergunta embaraçante sobre a ressurreição. Porém, também aos saduceus Jesus vencera, deixando-os calados, ou seja, sem argumentos. Como havia um verdadeiro consórcio de morte entre os grupos hegemônicos, intelectual e economicamente, à medida que um desses era vencido, outro apresentava a sua investida. Como Jesus já estava em Jerusalém e no templo, seus adversários não podiam mais esperar; a oportunidade de tirar-lhe a vida tinha chegado.

Como Jesus se sobressaíra na questão do imposto e da ressurreição, os fariseus armavam uma nova cilada, como atesta o texto: “Então eles se reuniram em grupo e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo” (vv. 34b-35). A intenção é muito clara, conforme diz o texto. O objetivo é tentá-lo, pô-lo a prova, ação própria de inimigo. Inclusive, o evangelista emprega aqui o mesmo verbo empregado no episódio das tentações, para definir a ação de satanás (cf. Mt 4,1): peira,zw – peirazo = tentar. Assim, os religiosos assumem um papel satânico diante do medo de perderem seus privilégios com a mensagem libertadora de Jesus.

Um dos fariseus, escolhido pelo grupo, faz uma pergunta bastante maliciosa: “Mestre, qual é o maior mandamento da lei?” (v. 36). A maldade dos fariseus já é perceptível pela introdução da pergunta: chamam a Jesus de mestre (dida,skaloj – didáskalos) sem reconhecê-lo como tal. Por sinal, quem costuma chamar Jesus de mestre no Evangelho de Mateus são os seus adversários; seus discípulos nunca o chamam assim. Os adversários o chamam por agirem por pura conveniência. Também o conteúdo da pergunta demonstra ironia e malícia. A especialidade dos fariseus era exatamente o estudo minucioso da lei e dos mandamentos. Com essa pergunta eles não pretendem aprender, mas encontrar motivo para condená-lo, pois consideravam-se autossuficientes em matéria da lei.

Os fariseus consideravam a observância do sábado como o maior dos mandamentos, e já tinham assistido Jesus relativizá-lo, ao colocar o homem e suas necessidades acima do preceito sabático (cf. Mt 12,1-13). A alegação para a primazia do sábado sobre os demais mandamentos na concepção dos fariseus era fundamentada no fato de que até Deus observava o sábado (cf. Gn 2,2-3; Ex 20,8-11; Dt 5,12-15). Eram muito comuns as perguntas sobre uma certa hierarquia entre os mandamentos, uma vez que esses eram muitos: 613, divididos entre 365 proibições e 248 preceitos. Sendo tantos assim, os fariseus tinham a necessidade distinguir quais eram os mais importantes e, portanto, inegociáveis.

Até então, Jesus tinha demonstrado muita liberdade ao interpretar os mandamentos, por isso, os fariseus imaginavam que com essa pergunta teriam argumentos para eliminá-lo por completo. Como sempre, ao invés de incompleta, a resposta de Jesus vai muito além do que fora pedido: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!” (v. 37). Jesus encontra uma resposta que transcende o decálogo. De fato, a fórmula do primeiro mandamento como nos foi ensinado “amar a Deus sobre todas coisas” não faz parte de nenhuma das versões do decálogo (cf. Ex 19,3-17; Dt 5,6-21), mas é apenas uma adaptação das tradições cristãs.

A resposta de Jesus encontra seu fundamento no credo de Israel, o Shemá: “Ouve ó Israel: O senhor é nosso Deus e único Senhor! Por isso, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (cf. Dt 6,4-5). Com pequenas modificações, Jesus confirma que o ser humano deve amar a Deus com o máximo de si. Como Ele mesmo diz, “esse é o maior e o primeiro mandamento” (v. 38), qualificando-o com dois adjetivos absolutizantes: maior (em grego: mega,lh – megále) e primeiro (em grego: prw,toj – protos),  significando aquilo que é essencial e irrenunciável. Porém, a resposta de Jesus não visa uma hierarquização dos mandamentos, mas uma denúncia: enquanto os fariseus buscavam classificar os mandamentos, Jesus diz que basta viver a genuína fé israelita. O Shemá era proclamado duas vezes ao dia, ao amanhecer e ao anoitecer pelos fariseus, mas na verdade eles não viviam aquilo que proclamavam. Se vivessem em comunhão com Deus, não ficariam preso a preceitos.

Como é praxe, Jesus responde mais do que lhe é perguntado: “o segundo é semelhante a esse: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (v. 39). Também aqui Jesus ignora o decálogo e faz uma citação do livro do Levítico (cf. Lv 19,18b), do contexto das recomendações morais. É importante perceber a introdução: é semelhante (em grego: o`moi,oj homoíos), quer dizer, é equivalente, está no mesmo nível. Para Jesus, o amor a Deus não pode ser separado do amor às pessoas; aqui está a singularidade do seu ensinamento.

Enquanto os fariseus procuravam classificar os mandamentos, focando em minuciosidades, Jesus toma o todo da lei e dos profetas e faz a sua própria síntese, conforme relata o evangelista: “Toda a lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (v. 40). Os fariseus queriam distinguir preceitos, e Jesus mostrou a unidade e coerência da lei e dos profetas. Sem essa visão de conjunto, a religião excluía e até matava. Ao mostrar que o amor a Deus é inseparável do amor ao próximo, Jesus prega a unidade, coesão e coerência na comunidade.

Jesus dá um passo muito importante com essa resposta. Ele conhecia bem a devoção que seus compatriotas tinham por esses duas partes da Escritura, a lei e os profetas. Ao mesmo tempo, conhecia a exterioridade e esterilidade com que se aproximavam delas. Por isso, respondeu de modo tão enfático, sobretudo, no que diz respeito ao próximo: o ser humano é colocado em uma tríade, cujo centro é o próximo, conforme a ordem da resposta: Deus – Próximo – Eu. Essa relação tríade deve ser guiada por um amor semelhante, para ser verdadeiro. Com isso, Jesus deixa claro que só há uma maneira de demonstrar que amamos a Deus e a nós mesmos: quando o próximo ocupa o centro da nossa vida!


Mossoró-RN, 28/10/2017, Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues

sábado, outubro 21, 2017

REFLEXÃO PARA O XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 22,15-21 (ANO A)



Com o Evangelho deste vigésimo nono domingo do tempo comum, Mateus 22,15-21, continuamos a acompanhar o conflito de Jesus nas dependências do templo com as autoridades de Jerusalém. Por sinal, os espaços considerados sagrados sempre foram hostis a Jesus; como tinham sido as sinagogas da Galileia, também foi o templo de Jerusalém. Percebemos pela leitura dos Evangelhos que Jesus de Nazaré nunca foi bem aceito pelas religiões. Tanto que para o cristianismo ser aceito e imposto como religião oficial do império, foi necessário caricaturá-lo o máximo possível, dando-lhe características bem diferentes e improváveis para um pobre judeu da Galileia.

Ao contrário dos últimos três domingos, cujos interlocutores eram os sumos sacerdotes e os anciãos do povo, no Evangelho de hoje são os discípulos dos fariseus e herodianos que questionam Jesus, armando-lhe uma cilada. Por sinal, o fato de fariseus e herodianos estarem juntos é, por si, curioso, uma vez que eram grupos rivais que se toleravam entre si por mera conveniência. O curto ministério de Jesus em Jerusalém foi marcadamente conflituoso, uma vez que as autoridades religiosas, sobretudo, não aceitavam que alguém questionasse o status quo com tanta veemência como Ele.

Logo ao entrar na cidade, Jesus fez uma grande denúncia contra a situação em que se encontrava o templo: uma casa de oração transformada em covil de ladrões (cf. Mt 21,12-17), estendendo essa denúncia a todos os que mantinham a religião como instrumento de exploração e dominação, a casta sacerdotal e os anciãos do povo. A primeira seção dessa denúncia foi ilustrada por três ricas parábolas – 1. O pai, os dois filhos e a vinha em Mt 21,28-32; 2. Os vinhateiros homicidas em Mt 21,33-43; 3. A festa de casamento do filho do rei em Mt 22,1-14 – refletidas nos últimos três domingos em nossa liturgia. Ao desmascarar o sistema religioso vigente, Jesus deixava claro o seu projeto de restituir ao Pai aquilo que o poder tinha roubado: a vida humana em todas as suas dimensões. Para isso, Ele proponha o Reino de Deus como única alternativa e realidade na qual a vida pudesse ser vivida em plenitude e abundância.

A proposta de Jesus soava absurda para a elite de Jerusalém, de modo que quanto mais Ele falava, mais essa elite se organizava para pôr fim à sua vida. Como as três parábolas citadas deixaram os chefes sem palavras, novos grupos entram em cena com o mesmo propósito: provocar em Jesus uma autocondenação, armando-lhe ciladas. Dessa vez, foram os fariseus quem armaram a cilada, como atesta o texto: “Os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra” (v. 15). O plano consistia em colocar Jesus em situação constrangedora e, assim, acusá-lo publicamente. Queriam eles que o próprio Jesus entrasse em contradição e fosse publicamente desmoralizado.

Do plano à execução: “Então mandaram os seus discípulos, junto com alguns do partido de Herodes” (v. 16a). A conveniência leva adversários a se unirem quando há um inimigo comum. Fariseus e herodianos eram grupos rivais, os quais conviviam por mera conveniência. Os herodianos constituíam o grupo de apoio público à dominação romana, e reconheciam a divindade do imperador. Já os fariseus, como o mais devoto dos grupos religiosos judaicos, viam a dominação romana como um abomínio, por isso esperavam constantemente pelo envio de um Messias glorioso e guerreiro que ressuscitasse o reino davídico-salomônico. Mesmo assim, pagavam convenientemente todos os impostos exigidos por Roma para evitar o rótulo de rebeldes e subversivos, como os zelotes. Nesse plano de fariseus e herodianos está uma antecipação do plano futuro que levará Jesus à morte: a religião e o império unidos para pôr fim a um personagem incômodo e indesejado, Jesus de Nazaré.

Como o plano era apanhar Jesus pela palavra, eis a investida: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências” (v. 16). Todas estas palavras elogiosas faziam parte do plano. São palavras que demonstram respeito, admiração e conhecimento da pessoa de Jesus, mas pronunciadas ironicamente por pessoas falsas e mal intencionadas. Se, de fato, reconhecessem Jesus como mestre, não estariam armando-lhe ciladas para Ele.

O falso elogio dos discípulos dos fariseus e partidários de Herodes era apenas um pretexto ou um passo a mais para chegarem ao golpe final, com a pergunta tendenciosa e maliciosa: “Dize-nos, pois, o que pensas: é lícito ou não pagar imposto a César?” (v. 17). Era aqui onde eles queriam chegar, imaginando estar colocando Jesus em um beco sem saída. Ora, realmente, a situação era desfavorável para Jesus, pois Ele deveria opinar sobre um dos temas mais delicados para a vida cotidiana dos judeus da sua época.

Se Jesus respondesse que é lícito pagar imposto a César, estaria agradando aos herodianos e, consequentemente, sendo conivente com a dominação romana e seu sistema de exploração. Ao mesmo tempo, estaria ganhando a antipatia das multidões que até pouco tempo lhe tinham aclamado na entrada de Jerusalém (cf. Mt 21,1-11), passando a ser considerado um traidor do seu povo. Além disso, estaria reconhecendo o senhorio de César, ou seja, do imperador romano.

Se respondesse que não é lícito pagar o imposto, Ele estaria agradando aos fariseus e demais compatriotas judeus e, ao mesmo tempo, antecipando a sua condenação como um rebelde e subversivo político. Recusar pagar o imposto significava declarar guerra ao sistema dominante. O que seus adversários queriam era um motivo para condená-lo a partir da sua resposta: respondendo sim, seria condenado pelo povo e pela religião como traidor; respondendo não, seria preso e condenado imediatamente pelo império. Esse era um plano que parecia perfeito.

Exatamente por ser verdadeiro e não julgar pelas aparências (v. 16), Jesus não caiu na trama dos seus adversários, e logo os repreendeu: “Jesus percebeu a maldade deles e disse: ‘Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha?’” (v. 18). Nessa resposta, Jesus usa duas palavras para caracterizar os seus adversários: maldade (em grego ponhri,a – poneria) e hipócritas (em grego u`pokritai, – hipocritai). Isso quer dizer que os fariseus e herodianos, juntamente com os adversários da controvérsia anterior, eram pessoas más, falsas, dissimuladas, mascaradas e, por isso, não merecem credibilidade alguma.

De uma situação de desconforto, Jesus se sobressai e termina deixando seus adversários em situação maus lençóis: “Mostrai-me a moeda do imposto!” Levaram-lhe então a moeda” (v. 19). Como estavam na área interna do templo, num espaço considerado sagrado, não era permitido circular ali com a moeda romana. Jesus começa a desmascará-los daí, e eles que tinham armado a cilada, são agora os que caem: na moeda romana havia a figura e os títulos do imperador com seu reconhecimento divino inscritos: “Tibério César, Augusto filho do divino Augusto, Sumo Sacerdote”. Considerando o primeiro mandamento da Lei de Deus, essa estava sendo transgredida pelos seus mais zelosos observantes, os fariseus.

Jesus, ao ver a moeda, perguntou-lhes: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?” (v. 20). Eles não tinham outra resposta senão admitir: “De césar” (v. 21a). Certamente, ficaram desconcertados, talvez até arrependidos da pergunta, uma vez que a armadilha falhara. Como a pergunta tinha sido se era lícito ou não pagar o imposto, a resposta de Jesus vai muito além disso. Na luta por uma sociedade alternativa, denominada Reino de Deus, Jesus já tinha se posicionado diversas vezes contra a falsa “pax romana”, e agora deixa ainda mais claro o seu posicionamento com a sua resposta: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (v. 21). O texto litúrgico erra ao empregar o verbo dar; na verdade, o verbo empregada no texto original é restituir ou devolver (em grego avpo,didwmi – apódidomi), uma vez que a César nada deve ser dado. A resposta de Jesus parece complexa, à primeira vista, e fácil de ser distorcida, como foi por muito tempo e continua sendo.

Jesus não estabeleceu duas esferas de poder, uma temporal e outra espiritual, nem traçou a harmonia das relações entre estado e igreja, como muito se tem interpretado a partir dessa afirmação. A ordem para devolver a César o que lhe pertence consiste em abandonar tudo o que não condiz com o Reino. Nesse sentido, o imposto passa a ser apenas um aspecto de uma realidade muito mais ampla e complexa. É necessário deixar de compactuar com a lógica imperial de um modo geral. Isso exige uma consciência nova e uma atitude vigilante constante. É necessário construir uma nova sociedade a partir de perspectiva e lógica diferentes, substituindo o poder pelo serviço. Devolver a César o que é dele exige um esforço da comunidade, a começar por uma autocrítica. Muitas lideranças religiosas tem combatido o poder de César para assumir o seu lugar. Essa mentalidade estava presente em alguns dos primeiros discípulos, na comunidade de Mateus e tem estado ao longo da história, infelizmente.

Devolver a Deus o que lhe pertence é restituir o ser humano, imagem única de Deus, à sua dignidade originária. A religião e o império romano tinham roubado o que Deus fez de melhor: o ser humano, transformado em produto pela combinação dos poderes político-econômico-religioso. A mercantilização do ser humano fere e nega a sua dignidade. Esse foi um problema denunciado pelos profetas desde os tempos de Amós, o qual denunciou que o ser humano tinha se tornado um produto comprado ou vendido por um par de sandálias (Am 2,6; 8,6). Esse ser humano que tem a imagem de Deus, tem que ser devolvido a Ele; a moeda com a figura de César seja restituída a ele.

A opção pelo Reino apresentada por Jesus torna-se cada vez mais exigente, à medida que a sua vida vai sendo ameaçada. Longe de ser uma via conciliatória entre duas realidades, a frase imperativa de Jesus é um convite à reflexão e a uma tomada de posição!


Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues, 21/10/2017. 

sábado, outubro 14, 2017

REFLEXÃO PARA O XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 22,1-14 (ANO A)



A liturgia deste vigésimo oitavo domingo do tempo comum nos oferece Mateus 22,1-14 para o Evangelho, texto composto pela última da série de três parábolas consecutivas de Jesus, em seu primeiro conflito direto com as autoridades religiosas no templo de Jerusalém. Trata-se de mais uma parábola de apresentação do Reino dos céus, em resposta ao questionamento dos sumos sacerdotes e anciãos do povo a respeito da autoridade com que Jesus ensinava (cf. Mt 21,23-27).

À medida que Jesus respondia, sempre através de parábolas, a sua rejeição aumentava naqueles que, achando-se os legítimos representantes de Deus, não admitiam que alguém falasse do Reino com tanto conhecimento e liberdade. Além de apresentar o Reino dos céus com características tão diferentes do que a religião oficial pregava, Jesus decretava a falência e inutilidade daquela religião e, consequentemente, dos seus chefes. Por isso, de adversários, seus interlocutores passarão a algozes, uma vez que não aceitavam ser contrariados.

A parábola de hoje se destaca sobre as outras duas da série, lidas na liturgia dos dois últimos domingos: a de “um pai que tinha dois filhos e uma vinha” (cf. Mt 21,28-32) e a dos “vinhateiros homicidas” (cf. Mt 21,33-43). Na de hoje, o Reino dos céus é comparado a uma festa de casamento que um rei preparou para o seu filho. Enquanto a imagem da vinha, predominante nas duas primeiras, possuía um significado mais restrito para o mundo semita oriental, a imagem de um  banquete possui um significado bem mais universalista, podendo ser compreendida com mais facilidade também em outras culturas.

O primeiro versículo nos insere diretamente no contexto, e nos faz perceber que essa parábola é a continuidade de um discurso já iniciado, embora a tradução do texto litúrgico não expresse bem isso: “Jesus voltou a falar em parábolas” (v. 1). Essa expressão dá a entender que houve uma interrupção no discurso. Conforme a língua original do texto, o grego, a tradução mais adequada seria “Jesus continuou falando em parábolas”. O auditório é o mesmo das duas parábolas anteriores: os sumos sacerdotes e anciãos do povo, ou seja, a elite religiosa de Jerusalém.

É surpreendente a imagem com a qual o Reino é comparado: “O Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho” (v. 2). Aqui, Jesus dispensa a linguagem litúrgico-religiosa. Não faz menção a sacrifício, nem a culto, nem a peregrinações, nem a um templo, mas a uma festa. E a festa por excelência na antiguidade, era a festa de casamento, sobretudo no mundo oriental. Era uma festa que durava em média sete dias, podendo ser ainda prolongada, a depender das condições dos noivos. Dessa imagem usada por Jesus, evocamos, de imediato, duas das mais importantes características do Reino: a alegria, o amor e a perenidade.

A festa em si, é sinônimo de alegria, ainda mais preparada por um rei. É certa a abundância de comida e bebida, música e muita alegria entre os convivas. O fato de ser uma festa de casamento, lembra o amor, elemento indispensável para a vida da comunidade. Sendo uma festa com duração de sete dias, lembra a perenidade: um tempo completo, perfeito e eterno. Por isso, a festa de casamento (em grego: ga,moj – gamos) era a mais bela de todas as festas, inclusive sonhada por tanta gente. As pessoas, na antiguidade, aguardavam com ansiedade um convite para uma festa assim. Era o momento de exagerar, inclusive na bebida (cf. Jo 2,1-12), como atesta a própria Bíblia. É surpreendente que seja com esse tipo de festa que Jesus comparou o Reino, ao invés de uma reunião litúrgica ou vigília.


Além de um ensinamento para o presente, com essa parábola Jesus dá uma verdadeira aula sobre a história da salvação aos seus interlocutores. Diz ele que o rei “mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram vir” (v. 3). Aqui, Jesus recorda aos seus interlocutores que foi Israel o destinatário predileto de Deus, a quem foram enviados os profetas, os quais não foram ouvidos. A recusa ao convite de um rei equivale a uma rebelião. Nesse caso, Jesus enfatiza a rebelião de Israel aos apelos de seu Deus. Um povo fechado, de coração duro, que não escuta o seu Senhor. Como Deus não desiste do seu povo, nem da humanidade, eis que o convite continuou sendo feito até que, aborrecidos pela insistência do rei, os primeiros convidados passaram da indiferença à violência, chegando a matar os emissários do rei (vv. 4-5). Com a insistência do convite e a recusa dos destinatários, Jesus apresenta uma síntese de toda a história da salvação, denunciando Israel e advertindo os seus seguidores de outrora e de sempre.

O versículo sétimo é, certamente, um acréscimo da comunidade de Mateus, uma vez que o mesmo não consta na versão desta parábola no Evangelho de Lucas (cf. Lc 14,15-24). Na época da redação do Evangelho de Mateus, Jerusalém já tinha sido destruída pelas tropas romanas e, no auge do conflito da comunidade de Mateus com a sinagoga, a destruição da cidade e do templo servia como resposta e explicação para a rejeição dos judeus à mensagem cristã. A própria lógica temporal interna da parábola não comporta tal atitude da parte do rei: se todo o reino estava concentrado e voltado para a festa, e a comida já estava à mesa, como parar tudo de repente para guerrear e depois recomeçar a festa?

A parábola continua seu curso normal no versículo oitavo: “Em seguida, o rei disse aos empregados: a festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela”. A conclusão do rei é uma acusação ao fechamento de Israel à conversão. De fato, é notório que, ao longo da história, a mensagem profética foi rechaçada em Israel, sobretudo pelas autoridades religiosas. A falta de dignidade dos convidados fora comprovada pela indiferença e violência com que trataram os enviados do rei. Porém, a rejeição de Israel não inibe os propósitos salvíficos de Deus para com a humanidade inteira.

A nova determinação do rei corresponde à insistência de Deus e à continuidade de sua oferta de vida para toda a humanidade: “Portanto, ide até às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes” (v. 9). Podemos considerar esse o versículo central de toda a parábola. Aqui está o embrião de uma Igreja-comunidade em saída! A expressão “encruzilhadas” significa o encontro com as periferias. A expressão usada na língua original do texto (diexo,doj – diecsódos) significa a saída da cidade. Era lá onde ficavam todas as pessoas de atividades “vergonhosas”, ou seja, o que era considerado escória da sociedade, como prostitutas, mendigos, assaltantes e doentes considerados impuros. Esse versículo é um convite claro para que os seguidores e seguidoras de Jesus se voltem para as margens. Aqui, de modo definitivo, é apresentada a nova dinâmica do Reino, destacando seu aspecto inclusivo: todos os que forem encontrados devem ser convidados! Acabou o tempo das distinções, dos rótulos, das separações.

Finalmente, o convite tornou-se efetivo: quando foi endereçado a todos, a maus e bons, sem distinção. O resultado foi a sala cheia de convidados (v. 10). Enquanto os enviados dirigiam-se a uma elite privilegiada e indiferente, a sala permaneceu vazia. Somente quando saíram para as margens o convite encontrou adesão. Aqui está um alerta da comunidade de Mateus para as comunidades de todos os tempos. O convite, ou seja, o anúncio, deve ser feito a todos e todas, sem distinção alguma. Porém, aceitar o convite-anúncio requer compromissos da parte do convidado.

Ninguém é excluído do Reino, mas alguém pode se auto excluir, ao não fazer comunhão com os demais. É esse o sentido do convidado que não portou o “traje de festa” (v. 11). Caso se tratasse de uma veste real, nenhum dos convidados estaria apto, afinal, todos foram pegos de surpresa com o convite feito de última hora. A percepção do rei, notada pelo evangelista, é uma investida para a sua comunidade: não basta estar na sala, participar de reuniões e atos litúrgicos, receber sacramentos, sem disposição para a vida comunitária. O traje é, aqui, o sinal de unidade entre os convivas do banquete, e portanto, os membros da comunidade cristã: a prática das bem-aventuranças, o conteúdo programático do discipulado no Evangelho de Mateus.

A reação do rei à falta do traje em um dos convidados não significa castigo, mas auto exclusão do próprio convidado (v. 12). Não aceitar participar do banquete com alegria, amor e justiça é privar-se da vida em plenitude. Ter os pés e as mãos amarrados, chorar e ranger os dentes (v. 13), é a imagem do desespero último do ser humano. Só é desesperado quem não aceita participar do banquete da vida.

O evangelista ensina, com tudo isso, que o simples fato de alguém participar de uma comunidade ou igreja não é sinal de nenhuma garantia de vida. Só vive plenamente quem aceita fazer comunhão e pratica o programa de vida de Jesus. A parábola é concluída com uma nota proverbial explicativa: “Porque muitos são os chamados, e poucos são os escolhidos” (v. 14). Mesmo dentro da comunidade, há risco de alguém ficar privado de vida plena. O evangelista enfatiza exatamente isso: não basta ter sido convidado ou convidada, afinal, todos foram. O importante é, ao sentir o chamado, conduzir a vida segundo o programa daquele que chama.

Que ninguém sinta-se seguro por estar na Igreja. Todos são chamados, mas só participa plenamente da festa, ou seja, do Reino, quem porta o traje das bem-aventuranças, sinal único e distintivo dos cristãos e cristãs. O certo mesmo é que Deus quer a sala cheia; para as igrejas e comunidades eclesiais precisam ir às encruzilhadas.


Mossoró-RN, 14/10/2017, Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues

sábado, outubro 07, 2017

REFLEXÃO PARA O XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM – MATEUS 21,33-43 (ANO A)



O Evangelho deste vigésimo sétimo domingo do tempo comum (Mateus 21,33-43) apresenta a continuidade do confronto direto e decisivo de Jesus com as autoridades religiosas de Jerusalém, dentro do próprio templo. Jesus estava ensinando nas dependências do grande templo e foi questionado pelos sumos sacerdotes e anciãos do povo: “Com que autoridade fazes isso? Quem te deu essa autoridade?” (Mt 21,23). Esse questionamento se deu porque o ensinamento de Jesus ia de encontro ao que a religião da época ensinava e praticava. Jesus não ensinava doutrinas, mas denunciava a religião vigente ao apresentar o seu programa, o Reino de Deus.

O ensinamento corajoso e verdadeiro de Jesus se tornava uma ameaça àquela religião. Como as autoridades religiosas não aceitavam ser questionadas nem perder seus privilégios, logo elegeram Jesus como seu inimigo. Ao questionamento das autoridades, Jesus respondeu com três parábolas, das quais a de hoje é a segunda: a chamada “Parábola dos vinhateiros homicidas”. A primeira, a dos “Dois filhos chamados a trabalhar na vinha” (Mt 21,28-32), fora lida no domingo passado, e a terceira, a do “Banquete de casamento” (Mt 22,1-14), será lida no próximo domingo. É importante recordar que, embora os interlocutores diretos de Jesus nessas parábolas sejam os sacerdotes e anciãos do povo, ou seja, as autoridades religiosas, o ensinamento do texto evangélico é destinado aos cristãos e às cristãs da comunidade de Mateus, inicialmente, e de todos os tempos.

Passada a contextualização, olhemos agora diretamente para o texto do Evangelho: “Escutai esta outra parábola” (v. 33a). Essa fórmula introdutória deixa claro que essa parábola é a continuidade de um discurso: se essa é “outra parábola” (em grego: :Allhn parabolh.n – alen parabólen), uma ou mais já fora contada antes, como já acenamos na contextualização. A sucessão de parábolas em um mesmo discurso e com um mesmo tema é sinal de importância do que está sendo ensinado. Recordemos, por exemplo, a série de parábolas do Reino (cf. Mt 13), a série de parábolas da misericórdia (cf. Lc 15) e, ainda, a série de parábolas escatológicas (cf. Mt 24 – 25). Portanto, as denúncias de Jesus às autoridades religiosas  de seu tempo foi um elemento de fundamental importância na sua pregação.

Ainda sobre a introdução da parábola, é importante recordar o imperativo “escutai”  (em grego: avkou,sate – akússate). Esse é mais um indicativo de importância do que está sendo ensinado. Mais que um exercício da audição, escutar na Bíblia é um convite à conversão, significa acolher no coração, aceitar e praticar o ensino proposto. Considerando as peculiaridades de seu auditório, Jesus o convidava a olhar para a história de Israel e para Escritura. Isso se evidencia pela apresentação da parábola: “Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro” (v. 33). Não temos dúvidas de que Jesus tinha em mente o “Cântico da vinha” do profeta Isaías (cf. Is 5,1-7) ao propor esta parábola. Como já sabemos, a vinha é a uma imagem privilegiada do povo de Deus, usada principalmente na tradição profética (cf. Is 5,1-7; 27,2-3; Jr 2,21; Ez 15,2-8; Os 9,10; etc). Os cuidados do proprietário acenam para uma grande expectativa dele em relação à produtividade e retorno daquela vinha: ele mesmo a plantou e a cercou. O lagar para esmagar as uvas significa a expectativa de bom retorno: uvas boas e em abundância para produzir vinho; a torre de guarda construída significa o cuidado e o quanto a vinha é preciosa para o seu dono. A ausência do dono é sinal de muita responsabilidade confiada aos trabalhadores, os quais devem ter sido escolhidos sob muito cuidado e critério.

É óbvio que quem planta deposita expectativa na colheita. Assim, aconteceu com o dono da vinha da parábola: “Quando chegou o tempo da colheita, mandou seus empregados para receber seus frutos” (v. 34). É interessante perceber que, embora ele mesmo tenha plantado, ele não vai receber os frutos pessoalmente, mas envia seus “servos”; o texto litúrgico usa o termo empregados, mas o correto é “servos” (em grego: dou,loj – dúlos). Isso tudo é sinal de confiança desse patrão em seus servos e empregados. Surpreende a reação dos vinhateiros aos servos enviados pelo dono: agarraram, espancaram, mataram e apedrejaram. Uma série de ações de violentas é anunciada como obra dos vinhateiros. Isso tudo é consequência do abuso de poder da parte dos vinhateiros, os quais se apossaram da vinha indevidamente.

A sequência do texto mostra a paciência e tolerância do proprietário da vinha: “mandou de novo outros empregados, em número maior que os primeiros” (v. 36). O dono que ama a sua vinha não desiste dos frutos. Infelizmente, aconteceu o mesmo com a segunda comitiva de servos, ou seja, foram tratados com violência como os primeiros. É praticamente consenso entre os estudiosos que os servos enviados duas vezes à vinha para receber os frutos são os profetas anteriores e posteriores, conforme a divisão tradicional da Bíblia Hebraica. Essa interpretação ajuda a identificar os vinhateiros, aqueles que se apossaram da vinha, fazendo do que é de Deus, propriedade particular: as autoridades e instituições políticas e religiosas de Israel, ou seja, a monarquia e o templo. Ao invés de facilitar os devidos frutos ao único dono da vinha, a religião de Israel tinha se tornado o maior obstáculo para a colheita. Um simples olhar na história já seria suficiente para essa conclusão: a rejeição aos profetas, de Samuel a João Batista.

A paciência do dono da vinha é mais uma vez evidenciada e, como diz o texto: “Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’!” (v. 37). Porém, a reação dos vinhateiros se torna ainda mais violenta com o filho. Tendo já tomado posse da vinha, não permitindo mais que o dono recebesse seus frutos, os falsos proprietários viam o filho do dono como ameaça, por isso procuram eliminá-lo de uma vez: “Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança” (v. 38). Ao relatar a violência sofrida pelo filho do dono da vinha, Jesus chega ao ápice do ensinamento da parábola: os chefes que lhe interrogam são os vinhateiros que se apossaram da vinha. Eles que hostilizaram os profetas do Antigo Testamento, rejeitaram a pregação de João Batista, e agora estão quase matando o filho! Aqui, Jesus faz um novo anúncio da paixão, dessa vez implícito, uma vez que já havia feito os três anúncios explícitos (cf. Mt 16,21-18; 17,22-23; 20,17-19). Os três anúncios anteriores foram feitos aos discípulos, agora é aos próprios algozes que Ele anuncia.

Ao concluir a parábola descrevendo o tratamento dado ao filho do dono da vinha pelos vinhateiros, “agarraram-no, jogaram-no para fora da vinha e o mataram” (v. 39), Jesus deixa novamente os sumos sacerdotes e anciãos do povo em más lençóis: “Quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” (v. 40). A resposta deles é uma sentença de auto-condenação: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo.” (v. 41). Os sumos sacerdotes e anciãos parecem não perceber que Jesus está falando deles. Continuam ignorando e insistindo em não acatar o ensinamento de Jesus, exatamente porque tomaram posse indevidamente, estavam movidos por orgulho, mentira, violência e, por isso, fechados ao que Jesus ensinava.

Em reação à resposta dos seus interlocutores, Jesus não fala em momento algum de vingança ou violência da parte do dono da vinha; apenas evidencia, com base na Escritura, que rejeitar a si é rejeitar ao próprio Deus, o Pai (v. 42), e que a atitude do dono da vinha será apenas destituir os vinhateiros de poder: “o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (v. 43). Os sumos sacerdotes e anciãos do povo, na verdade todo o sinédrio, já não estão mais autorizados a falar em nome de Deus, uma vez que, ao tomarem posse da vinha, eles contrabandearam o rosto e o nome de Deus; ao invés de conceber Deus como um pai que ama e cuida, eles preferiram um Deus que pune e castiga. Deturbando a imagem de Deus, eles nem produziram frutos nem permitiram que outros produzissem. Por isso, Jesus decretou a sua falência.

Ao ler essa parábola e, quase de imediato, perceber que Jesus aplica o dono da vinha ao seu Pai, os vinhateiros à elite religiosa de Jerusalém e o filho rejeitado a si mesmo, corremos o risco de imaginar também uma simples passagem do Reino, saindo das mãos do judaísmo para a Igreja nascente. É importante perceber que o Reino de Deus não é transferido de uma religião para outra; é apenas confiado a quem produzir frutos. Os frutos que caracterizam alguém a participar do Reino são as bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12).

Produz frutos e participa do Reino aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus (cf. Mt 7,21), vivendo segundo as bem-aventuranças. Toda vez que alguém quer controlar o agir de Deus, determinando quem está salvo e quem está condenado, está agindo como os vinhateiros homicidas. O fato de alguém pertencer a uma comunidade/igreja cristã não garante participação no Reino de Deus. Por isso, mais que uma ameaça ao judaísmo, essa parábola é uma séria advertência ao cristianismo.


Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues



REFLEXÃO PARA O 4º DOMINGO DA PÁSCOA – JOÃO 10,11-18 (ANO B)

O evangelho do quarto domingo da páscoa é sempre tirado do capítulo décimo do Evangelho de João, no qual Jesus se auto apresenta como o ún...