terça-feira, julho 26, 2011

Pe. ZEZINHO ANALISA A TELEVISÃO BRASILEIRA

RZ :  Em 2002 a revista, Carta Capital de 06.03.02 fez uma reportagem de peso sobre a Televisão, dizendo que ela ia de mal a pior no Brasil.  Como o Sr. Avalia, hoje, o nível da televisão no Brasil?
Pe. Zezinho- Acho que a televisão brasileira é criativa, tem um bom desempenho tecnológico, é altamente intuitiva, faz muito depressa as adaptações necessárias nesse veículo tão ágil. Como um todo, ela é muito inteligente. Eu jamais poderia ser contra a televisão, porque ela é uma das maravilhas do mundo moderno. A minha objeção vai na linha do texto de Carta Capital, assinado por Mauricio Stycer, se não me engano.  Eu também li e mostrei aos meus alunos. É a certos tipos de programas e de programadores. Eu jamais combateria a televisão como se fosse algo do demônio. Não é. É algo de Deus. Mas lá dentro há programas e pessoas que transformaram a televisão num caça- níqueis  a qualquer preço moral, psicológico e social. Então deturparam o verdadeiro objetivo da televisão.
R.Z : Gosta do veículo, mas não de todos os seus condutores…
Pe Zezinho : Minha crítica é aos programadores e a alguns dos programas, não todos. Há programas de altíssimo nível na televisão brasileira e eu tiro o chapéu para esses repórteres e programadores. A gente pode se sentir orgulhoso desses programas, mas também podemos sentir vergonha de outros. Como um todo eu daria uma nota boa para a televisão brasileira, descontando esses programas.

R Z- Muitos religiosos acusam a televisão, dizendo que ela tornou-se vulgar…
Pe. Zezinho-    Não só os religiosos. Há jornalistas, psicólogos, advogados e juízes dizendo a mesma coisa. E, o importante, pais e mães de família que sabem o que tais cenas causam nos seus filhos. De repente é chocante uma mãe te que discutir com a filha de 16 anos porque esta insiste em dançar na varanda da casa aos olhos de quem passa como Carla Peres e em usar na rua um shortinho como o da dançarina super aplaudida na mídia. As mães não querem as filhas fazendo aqueles gestos lascivos, Quem ensinou isso? A TV.

RZ: Mesmo assim, a TV é uma boa escola ?
Pe Zezinho :  Há bons programas . Infelizmente temos que nos policiar, porque ela não se policia. Criticar tudo é errado, mas apoiar essas vulgaridades é abdicar do papel de pregador da fé. Por isso elogio no que devo e critico no que devo, como cidadão e como sacerdote e evito aceitar convites para programas onde se ridiculariza a pessoa humana, onde se expõe sem razão alguma a nudez humana e o erotismo e se mostra com leviandade a violência. Não tenho medo de ser chamado de conservador por isso. Prefiro ser progressista do meu jeito, no que realmente entendo como progresso. Acho que explorar a nudez, a violência ou a dor humana é retrocesso. Como cidadão, escolho aonde quero ir e que programas quero ver. Não estou julgando ninguém. Estou apenas usando meu direito de ir e vir e de ir ou não ir. Não sou obrigado a ir à televisão. Nenhum contrato me obriga a isso. Irei se quiser. Ligo, se quiser.

RZ: O que responde quando alguém como o Ratinho no ar o censura por não querer ir lá?
Pe Zezinho :  Soube ele fez isso anos atrás quando outros padres iam lá. Acho que foi uma só vez. Estava no seu papel. Almoçaria tranqüilamente com o sr. Carlos Massa, mas não iria ao programa do seu personagem Ratinho. Ele sabe disso. Esses dias (13.12.04) ele pegou um pênis eletrônico e o levou às mulheres presentes no auditório para que o tocassem. O programa, como está arquitetado, não servia e ainda não serve para mim, que hoje não daria mais ibope, como naqueles dias. Ir lá seria o mesmo de dizer que concordo com aquele esquema. Poderia fazer o mesmo bem que ele diz que faz para os pobres, sem falar o que fala, do jeito que fala e com aqueles gestos absurdos que incluem atos como aquele que descrevi.

Acho que tenho o direito de escolher meu púlpito. Corro o risco de não ter ninguém para me ver, enquanto quem vai lá tem milhões de pessoas. Mas tenho 38 anos de viagens ininterruptas pelo mundo. Acabo de voltar da China  e a perspectiva de falar a pouca gente não me assusta.  Já fiz isso. Também já falei para milhões.  O que não acho certo é ir aonde não me derem condições de dizer o que penso.

RZ: Não seria o caso de a Igreja valorizar os programas populares, mesmo com alguns exageros?
Pe Zezinho :  Se fossem só alguns eu iria, mas são freqüentes e são muitos. Jogam com isso! Faço uma distinção entre divulgar, popularizar e vulgarizar.  A linha que separa essas práticas é tênue. Na televisão  brasileira observa-se isso com clareza.  O vulgar tomou o lugar do popular em muitos programas populares. Vulgus em latim seria o povão, as pessoas anônimas. Popularizar seria tornar algo acessível aos que não tiveram acesso a certo grau de ensino e  de cultura. Mas não é porque o povo não estudou, que tem que agüentar a falta de arte ou a baixaria de certos programas, que repetem o tempo todo as mesmas piadas grosseiras os mesmo chavões, os mesmos requebros, as mesmas danças e as mesmas pessoas repetindo vinte palavras iguais o tempo todo.

De tanto mostrarem e divulgarem seus corpos seminus,  muitas mulheres caíram no vulgar: Vulgarizaram o que é bonito e é sempre especial. A vulgarização venceu a divulgação e a popularização. Mostra-se muita coisa sem nenhum intuito cultural. É o que muita gente está chamando de cultura do lixo. Nem sequer tomam o cuidado de reciclar.
R Z-   Alguns programas de televisão exageram na vulgaridade?
Pe. Zezinho-  Sem dúvida. Isso, porque ‘aparecer’ tornou-se uma palavra importante no mundo, depois que aconteceu a televisão. Estão chamando a isso de “evasão de privacidade” . Muita gente vai lá sem ter o que mostrar ou o que dizer. Vai para aparecer e ser vista, porque, ganhando visibilidade talvez cheguem aonde querem. Há cantoras e atrizes que jogam com isso. Estão sempre na mídia, porque estão sempre trocando de namorado e sendo vistas em situação de desafio.   Algumas cantoras e cantores, para ganhar visibilidade, escolhem uma dança erótica ou a nudez. Não hesitam em provocar escândalo, desde que isso venda seu disco. Eu disse alguns porque há os que cantam com enorme dignidade e grande amor pela arte. Mas é próprio da vulgaridade aparecer, mesmo sem ter o que dizer ou mostrar. Isso também pode acontecer na religião. Há um jeito popular e um jeito vulgar de pregar a palavra de Deus. Infelizmente há!

R Z- O sr. é a favor de algum tipo de censura à televisão?
Pe. Zezinho- Sou a favor de que as escolas, as famílias e as igrejas promovam uma censura a partir do povo e mentalizar as pessoas para desligarem aquele botão, ou procurar outro canal. Sou a favor de criar a mentalidade de não aceitar lixo na porta da nossa casa. Eu acho que a TV não é culpada de produzir o lixo. O lixo já existe fora dela. Mas a televisão se comporta como um caminhoneiro que foi incumbido de transportar algumas coisas atravessando a cidade. O que era aproveitável e bom, deveria levar ao destino certo, os dejetos ele deveria despejar diretamente no lixão. Só que o caminhoneiro  inverteu as coisas. Jogou o lixo nas portas das casas e acabou dando pouca importância às coisas boas. Eu penso que às vezes a TV age mais como lixeiro que enlouqueceu. Quando a televisão não distingue mais entre lixo e produto de primeira qualidade, já perdeu sua função de divertir e informar.

RZ:  Mas não há igrejas jogando com o mesmo vale-tudo e o mesmo sensacionalismo?
Pe Zezinho  : Vulgarizar a fé com milagres falsos e ameaças de diabo e inferno também é lixo. Dizer que dor de cabeça, vômito e resfriado é coisa do demônio é lixo. E quando o povo não sabe escolher entre o que é bom e o que é lixo, é sinal de que não foi preparado para fazer a opção. Não estamos, no Brasil, educando o telespectador para controlar a televisão. O telespectador precisa entender que nós é que temos o controle: não eles. Para sobreviver, eles precisam dos institutos de pesquisa tipo Vox Populi ou Ibope e, se nós deixássemos de assistir a esses programas, eles nos obedeceriam. Inverteu-se a ordem: quem deveria mandar na televisão era o povo, mas é a televisão que está mandando no povo.

R Z-  E o conteúdo das  novelas? É raro um sacerdote que opine em favor .
Pe. Zezinho-  Nem tudo é ruim. Mas é verdade que há novelas que atentam contra a moral cristã. Começo citando uma novela que fez muito sucesso, Terra Nostra. Deveria ter se chamado ‘Troca-Troca Nostro’ (risos), porque lá todo mundo ficou com todo mundo. O que também é uma inverdade, porque, no início do século, a moral era muito rígida e essas coisas não aconteciam com tanta freqüência. Portanto, a novela pintou um quadro moral errado da época e estava impingindo às pessoas uma falsa cultura, porque não traduzia como foi, de fato, a vida dos primeiros imigrantes italianos, seja em São Paulo, seja nas colônias. Eles tinham uma moral muito rígida. E a impressão que davam, no ‘Troca-Troca Nostro’, é que a moral era totalmente devassa. Portanto está prestando um desserviço à história e aos primeiros italianos que aqui vieram. Diga-se o mesmo de A Padroeira e O Quinto dos Infernos. O povo simples acaba pensando que naquele tempo era tudo dissoluto e devasso.

RZ: Fizeram isso para ter mais audiência ou porque querem pregar uma nova moral ?
Pe Zezinho : Isso eu não saberia dizer . Teríamos que perguntar aos autores.  A televisão, as novelas, de um modo geral, transmitem uma mensagem subliminar que influencia. Vimos há poucos anos todas as adolescentes dançarem como Carla Perez, ou com o “É o Tchan”, vestirem-se como suas atrizes preferidas e decidirem qual é o ator mais bonito do momento. Adolescentes de 15 anos eram expostos à dança e aos movimentos eróticos de uma atriz de mais de 20 anos como Tiazinha e Feiticeira, como prêmio por terem acertado uma pergunta. Isso está longe de tudo o que se entende por pedagogia. É a mais crassa inversão de valores que há. Eu me pergunto se há algum outro país onde isso acontece. Como prêmio por saber uma verdade o adolescente podia ver as nádegas de uma professorinha.  Querem convencer a quem de que isso não influencia os adolescentes? A campanha contra a baixaria na televisão começou muito tarde. Deveria ter vindo há 20 anos atrás.
RZ: No seu entender há programas que criam  costumes errados.
Pe Zezinho :  Isso. Por mais que digam que não e que apenas retratam , eles criam. As escolas não fazem isso que a TV faz. Oferecer como naquele tempo uma Feiticeira e uma Tiazinha como prêmio não é retratar, muito menos ensinar. É criar comportamento errado. Cria expectativa, faz a cabeça, faz o sentimento e, às vezes, cria modismos. Essa estória de dizer que a televisão apenas reflete a realidade não é verdade. Ela cria. E é culpada sim. Voltemos à estória do lixo. Ela não faz o lixo, mas distribui. Tem tanta culpa como quem fez. Ela cria emoções falsas, cria necessidades falsas e leva ao pecado intencionalmente. Torno a dizer: nem todos os programas. A televisão tem um pouco de santo e outro de diabo.

R Z- As novelas retratam com fidelidade a figura do padre?
Pe. Zezinho-  A novela traduz o ideário dos seus escritores. A maioria deles raramente teve convivência com o clero. Se teve, às vezes foi negativa. Então eles jogam para o cenário nacional o conceito que eles têm do padre. Não é o conceito que o povo tem do padre. Mas, com o tempo, acaba pegando. Acontece o mesmo com os pastores ou com os muçulmanos. Há sempre os dois elementos o bom e o mau.  De repente passam a idéia de que pastor corre atrás de dinheiro e de que padre corre atrás de mulheres; ou, ainda, que é um indefinido, um sujeito confuso que não é totalmente homem e que não é totalmente pecador. A idéia que passam é que não existem valores. Passam a idéia de que o  valor supremo é a mudança, é o desafio. Realmente a proposta básica da maioria das novelas é atéia e amoral, mesmo que tenha alguns personagens que falam de Deus. E é claro que não podemos aceitar isso.

RZ: Ela desafia a família ?
Pe Zezinho : A seqüência de novelas dos últimos anos mostra que sim. Ela destrói sistematicamente os valores cristãos sobre família e sobre sexualidade. Os casais desajustados são sempre em maior número do que os casais felizes. Você imagine os males que a televisão causa fazendo isso durante 40 anos. O púlpito deslocou-se da igreja para aquela câmera de televisão e os pregadores não são mais os padres; são os artistas. Os formadores de opinião não são mais os teólogos; são os escritores de novela. O evangelista de ontem é o novelista de hoje. Mas o novelista de hoje não anuncia um novo reino, nem Jesus e, sim uma nova liberdade. A Televisão está virando uma espécie de religião no Brasil. Ela decide que tipo de padre mostrar e que tipo de fé retratar.  Já falamos disso!

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