quinta-feira, setembro 08, 2011

UM DEUS ARRECADADOR

Que um pregador da fé arrecade dinheiro deixando claro que é para seu grupo entende-se. A objeção começa quando ele diz que Deus pediu aquele dinheiro e o transforma num Deus arrecadador. Pregadores com conceito errado de Igreja e de Deus às vezes escravizam seus fiéis ao dízimo, em nome da justiça para com Deus e para com sua Igreja de resultados. Pintam um Deus que não perdoa o dízimo, porque o dinheiro de Deus é sagrado. E citam as passagens que lhes interessa citar, ante os olhos atônitos dos fiéis que não lêem toda a Bíblia. É um dos abusos da Teologia da Prosperidade. “Pague seu dízimo em dia que Deus abrilhantará os seus dias…” A frase é bonita, mas não se sustenta. Deus não age desta forma!
Este conceito de um Deus que exige a sua parte acontece com freqüência nos lábios de pregadores unidirecionados. Dia 23 de fevereiro p. passado, um famoso pregador, respondendo sobre a obrigatoriedade do dízimo usou de perigoso sofisma. A fiel perguntou-lhe se, no caso de grave doença em casa, ela poderia não dar o dízimo para Igreja e usar também os 10% para cuidar do familiar enfermo. Ele respondeu com um sorriso irônico, perguntando se o Governo aceitaria que ela não pagasse o imposto, por conta de um filho doente! Se tem que dar para o Governo o dízimo do país, tem que dar para a Igreja o dízimo de Deus…
Argumento errado e tendencioso! Um bom advogado lhe aconselharia a nunca mais usar este argumento, porque é falso! O Governo brasileiro é misericordioso para com os doentes. Ignorante ou mal assessorado, o pregador mostrou o Governo brasileiro mais compassivo do que Jesus… Nosso Governo, com vários ateus a legislar no Congresso, dá à igreja dele uma lição de misericórdia através da lei 14.260 de 2003 da Receita Estadual. Em diversas outras leis dá isenção de IPVA, ICMS, IOS e IPI. A Lei Federal 10.182 de 2001; a lei 690 de 2003, a lei 10574 de 2003 permitem isenções. A portaria 349/ 96 também libera de imposto. Em caso de doença genética, insuficiência cardíaca cardiomiopatia, doença pulmonar crônica obstrutiva, enfisema, tuberculose, hepatite crônica ativa, o paciente tem isenções.
Para câncer de pulmão, o paciente tem direito a medicamento gratuito. Artrite invalidante, lúpus, paraplegia, doença do neuromotor, miastenia grave e doença desmielizante, tudo tem ajuda do Governo que dá isenção de imposto de renda. Um acidentado pode comprar carro com isenção de IR. Alguém com doença grave pode levantar o seguro de vida e recebê-lo em vida, pode quitar casa própria na CEF e pode levantar o FGTS inteirinho. Além disso, há uma instrução normativa 375 e 2003 que isenta do IPI os remédios importados.
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O pregador, com ironia e um sorriso plácido de quem sabe das coisas, ao insistir no dízimo devido a Deus através da sua igreja, deu a entender que Deus não tem a mesma misericórdia que o Governo, num caso de enfermidade em casa! Se ele tivesse lido melhor sua Bíblia que explica tão bem, acharia centenas de versículos que mostram o Deus que perdoa e leva em conta a aflição dos seus filhos.
O próprio Jesus diz que era permitido comer espigas em dia de sábado e que o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado. (Mt 12,1) A lei tinha que ser flexível quando uma ovelha caísse no poço. (Mt 12,11) E recriminou os fariseus pela sua dureza de coração. Ridicularizou o fariseu que disse que pagava o dízimo em dia, mas se achava melhor do que o pecador lá atrás no templo… Sua fala tinha endereço certo.
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É bem verdade que Abrão deu o dízimo de tudo, mas quando caiu na tentação de dar mais do que o dizimo, ao sacrificar o filho Isaac, Deus interferiu. A oferta tem limites! Malaquias 3,8 fala dos que roubam a Deus quando lhe negam o dízimo. Citá-lo sem citar outras passagens não é justo, nem honesto. No “Pai Nosso” Jesus manda orar pelo perdão de nossas dívidas, assim como nós prometemos perdoar nossos devedores. Dízimo também é dívida perdoável! Em Mt 18,27-32 um senhor movido de compaixão perdoou a dívida de um servo. Este, porém não perdoou a do colega que lhe devia bem menos e o pôs na prisão… Foi punido! Os fiéis deveriam ouvir também estas histórias e aplicá-las ao dízimo.
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Se o Governo perdoa impostos e dívidas de quem está com graves problemas em casa, as igrejas deveriam fazer o mesmo. Revelam-se mais cruéis do que o Governo, cujos impostos são altíssimos. Um advogado presente naquela hora deveria ter levantado a mão e explicado ao pregador que, sim, o Governo perdoa os impostos. Algum teólogo ou biblista deveria ter acrescentado: e Deus também, milhares de anos antes, fez a mesma coisa!
Andam pintando um Deus arrecadador que não perdoa. Este não é o Deus nem do Antigo nem do Novo Testamento. Nosso Deus tem dó da multidão com fome…(Mt 9,36; 15,32) e condena quem cobra o que a pessoa não tem como pagar. (Mt 18,25-32) Circulem também este folheto entre os fiéis! Generosos para com Deus e para com suas igrejas, sim! Medrosos e encurralados por um dízimo que oprime, não! Se houver doença grave em família, o pregador tem a mesma obrigação que tem o Governo. Pega mal quando o Governador perdoa e o sacerdote não!

Pe. Zezinho, scj, Cantor, compositor e escritor.

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