terça-feira, julho 26, 2011

Pe. ZEZINHO ANALISA A TELEVISÃO BRASILEIRA

RZ :  Em 2002 a revista, Carta Capital de 06.03.02 fez uma reportagem de peso sobre a Televisão, dizendo que ela ia de mal a pior no Brasil.  Como o Sr. Avalia, hoje, o nível da televisão no Brasil?
Pe. Zezinho- Acho que a televisão brasileira é criativa, tem um bom desempenho tecnológico, é altamente intuitiva, faz muito depressa as adaptações necessárias nesse veículo tão ágil. Como um todo, ela é muito inteligente. Eu jamais poderia ser contra a televisão, porque ela é uma das maravilhas do mundo moderno. A minha objeção vai na linha do texto de Carta Capital, assinado por Mauricio Stycer, se não me engano.  Eu também li e mostrei aos meus alunos. É a certos tipos de programas e de programadores. Eu jamais combateria a televisão como se fosse algo do demônio. Não é. É algo de Deus. Mas lá dentro há programas e pessoas que transformaram a televisão num caça- níqueis  a qualquer preço moral, psicológico e social. Então deturparam o verdadeiro objetivo da televisão.
R.Z : Gosta do veículo, mas não de todos os seus condutores…
Pe Zezinho : Minha crítica é aos programadores e a alguns dos programas, não todos. Há programas de altíssimo nível na televisão brasileira e eu tiro o chapéu para esses repórteres e programadores. A gente pode se sentir orgulhoso desses programas, mas também podemos sentir vergonha de outros. Como um todo eu daria uma nota boa para a televisão brasileira, descontando esses programas.

R Z- Muitos religiosos acusam a televisão, dizendo que ela tornou-se vulgar…
Pe. Zezinho-    Não só os religiosos. Há jornalistas, psicólogos, advogados e juízes dizendo a mesma coisa. E, o importante, pais e mães de família que sabem o que tais cenas causam nos seus filhos. De repente é chocante uma mãe te que discutir com a filha de 16 anos porque esta insiste em dançar na varanda da casa aos olhos de quem passa como Carla Peres e em usar na rua um shortinho como o da dançarina super aplaudida na mídia. As mães não querem as filhas fazendo aqueles gestos lascivos, Quem ensinou isso? A TV.

RZ: Mesmo assim, a TV é uma boa escola ?
Pe Zezinho :  Há bons programas . Infelizmente temos que nos policiar, porque ela não se policia. Criticar tudo é errado, mas apoiar essas vulgaridades é abdicar do papel de pregador da fé. Por isso elogio no que devo e critico no que devo, como cidadão e como sacerdote e evito aceitar convites para programas onde se ridiculariza a pessoa humana, onde se expõe sem razão alguma a nudez humana e o erotismo e se mostra com leviandade a violência. Não tenho medo de ser chamado de conservador por isso. Prefiro ser progressista do meu jeito, no que realmente entendo como progresso. Acho que explorar a nudez, a violência ou a dor humana é retrocesso. Como cidadão, escolho aonde quero ir e que programas quero ver. Não estou julgando ninguém. Estou apenas usando meu direito de ir e vir e de ir ou não ir. Não sou obrigado a ir à televisão. Nenhum contrato me obriga a isso. Irei se quiser. Ligo, se quiser.

RZ: O que responde quando alguém como o Ratinho no ar o censura por não querer ir lá?
Pe Zezinho :  Soube ele fez isso anos atrás quando outros padres iam lá. Acho que foi uma só vez. Estava no seu papel. Almoçaria tranqüilamente com o sr. Carlos Massa, mas não iria ao programa do seu personagem Ratinho. Ele sabe disso. Esses dias (13.12.04) ele pegou um pênis eletrônico e o levou às mulheres presentes no auditório para que o tocassem. O programa, como está arquitetado, não servia e ainda não serve para mim, que hoje não daria mais ibope, como naqueles dias. Ir lá seria o mesmo de dizer que concordo com aquele esquema. Poderia fazer o mesmo bem que ele diz que faz para os pobres, sem falar o que fala, do jeito que fala e com aqueles gestos absurdos que incluem atos como aquele que descrevi.

Acho que tenho o direito de escolher meu púlpito. Corro o risco de não ter ninguém para me ver, enquanto quem vai lá tem milhões de pessoas. Mas tenho 38 anos de viagens ininterruptas pelo mundo. Acabo de voltar da China  e a perspectiva de falar a pouca gente não me assusta.  Já fiz isso. Também já falei para milhões.  O que não acho certo é ir aonde não me derem condições de dizer o que penso.

RZ: Não seria o caso de a Igreja valorizar os programas populares, mesmo com alguns exageros?
Pe Zezinho :  Se fossem só alguns eu iria, mas são freqüentes e são muitos. Jogam com isso! Faço uma distinção entre divulgar, popularizar e vulgarizar.  A linha que separa essas práticas é tênue. Na televisão  brasileira observa-se isso com clareza.  O vulgar tomou o lugar do popular em muitos programas populares. Vulgus em latim seria o povão, as pessoas anônimas. Popularizar seria tornar algo acessível aos que não tiveram acesso a certo grau de ensino e  de cultura. Mas não é porque o povo não estudou, que tem que agüentar a falta de arte ou a baixaria de certos programas, que repetem o tempo todo as mesmas piadas grosseiras os mesmo chavões, os mesmos requebros, as mesmas danças e as mesmas pessoas repetindo vinte palavras iguais o tempo todo.

De tanto mostrarem e divulgarem seus corpos seminus,  muitas mulheres caíram no vulgar: Vulgarizaram o que é bonito e é sempre especial. A vulgarização venceu a divulgação e a popularização. Mostra-se muita coisa sem nenhum intuito cultural. É o que muita gente está chamando de cultura do lixo. Nem sequer tomam o cuidado de reciclar.
R Z-   Alguns programas de televisão exageram na vulgaridade?
Pe. Zezinho-  Sem dúvida. Isso, porque ‘aparecer’ tornou-se uma palavra importante no mundo, depois que aconteceu a televisão. Estão chamando a isso de “evasão de privacidade” . Muita gente vai lá sem ter o que mostrar ou o que dizer. Vai para aparecer e ser vista, porque, ganhando visibilidade talvez cheguem aonde querem. Há cantoras e atrizes que jogam com isso. Estão sempre na mídia, porque estão sempre trocando de namorado e sendo vistas em situação de desafio.   Algumas cantoras e cantores, para ganhar visibilidade, escolhem uma dança erótica ou a nudez. Não hesitam em provocar escândalo, desde que isso venda seu disco. Eu disse alguns porque há os que cantam com enorme dignidade e grande amor pela arte. Mas é próprio da vulgaridade aparecer, mesmo sem ter o que dizer ou mostrar. Isso também pode acontecer na religião. Há um jeito popular e um jeito vulgar de pregar a palavra de Deus. Infelizmente há!

R Z- O sr. é a favor de algum tipo de censura à televisão?
Pe. Zezinho- Sou a favor de que as escolas, as famílias e as igrejas promovam uma censura a partir do povo e mentalizar as pessoas para desligarem aquele botão, ou procurar outro canal. Sou a favor de criar a mentalidade de não aceitar lixo na porta da nossa casa. Eu acho que a TV não é culpada de produzir o lixo. O lixo já existe fora dela. Mas a televisão se comporta como um caminhoneiro que foi incumbido de transportar algumas coisas atravessando a cidade. O que era aproveitável e bom, deveria levar ao destino certo, os dejetos ele deveria despejar diretamente no lixão. Só que o caminhoneiro  inverteu as coisas. Jogou o lixo nas portas das casas e acabou dando pouca importância às coisas boas. Eu penso que às vezes a TV age mais como lixeiro que enlouqueceu. Quando a televisão não distingue mais entre lixo e produto de primeira qualidade, já perdeu sua função de divertir e informar.

RZ:  Mas não há igrejas jogando com o mesmo vale-tudo e o mesmo sensacionalismo?
Pe Zezinho  : Vulgarizar a fé com milagres falsos e ameaças de diabo e inferno também é lixo. Dizer que dor de cabeça, vômito e resfriado é coisa do demônio é lixo. E quando o povo não sabe escolher entre o que é bom e o que é lixo, é sinal de que não foi preparado para fazer a opção. Não estamos, no Brasil, educando o telespectador para controlar a televisão. O telespectador precisa entender que nós é que temos o controle: não eles. Para sobreviver, eles precisam dos institutos de pesquisa tipo Vox Populi ou Ibope e, se nós deixássemos de assistir a esses programas, eles nos obedeceriam. Inverteu-se a ordem: quem deveria mandar na televisão era o povo, mas é a televisão que está mandando no povo.

R Z-  E o conteúdo das  novelas? É raro um sacerdote que opine em favor .
Pe. Zezinho-  Nem tudo é ruim. Mas é verdade que há novelas que atentam contra a moral cristã. Começo citando uma novela que fez muito sucesso, Terra Nostra. Deveria ter se chamado ‘Troca-Troca Nostro’ (risos), porque lá todo mundo ficou com todo mundo. O que também é uma inverdade, porque, no início do século, a moral era muito rígida e essas coisas não aconteciam com tanta freqüência. Portanto, a novela pintou um quadro moral errado da época e estava impingindo às pessoas uma falsa cultura, porque não traduzia como foi, de fato, a vida dos primeiros imigrantes italianos, seja em São Paulo, seja nas colônias. Eles tinham uma moral muito rígida. E a impressão que davam, no ‘Troca-Troca Nostro’, é que a moral era totalmente devassa. Portanto está prestando um desserviço à história e aos primeiros italianos que aqui vieram. Diga-se o mesmo de A Padroeira e O Quinto dos Infernos. O povo simples acaba pensando que naquele tempo era tudo dissoluto e devasso.

RZ: Fizeram isso para ter mais audiência ou porque querem pregar uma nova moral ?
Pe Zezinho : Isso eu não saberia dizer . Teríamos que perguntar aos autores.  A televisão, as novelas, de um modo geral, transmitem uma mensagem subliminar que influencia. Vimos há poucos anos todas as adolescentes dançarem como Carla Perez, ou com o “É o Tchan”, vestirem-se como suas atrizes preferidas e decidirem qual é o ator mais bonito do momento. Adolescentes de 15 anos eram expostos à dança e aos movimentos eróticos de uma atriz de mais de 20 anos como Tiazinha e Feiticeira, como prêmio por terem acertado uma pergunta. Isso está longe de tudo o que se entende por pedagogia. É a mais crassa inversão de valores que há. Eu me pergunto se há algum outro país onde isso acontece. Como prêmio por saber uma verdade o adolescente podia ver as nádegas de uma professorinha.  Querem convencer a quem de que isso não influencia os adolescentes? A campanha contra a baixaria na televisão começou muito tarde. Deveria ter vindo há 20 anos atrás.
RZ: No seu entender há programas que criam  costumes errados.
Pe Zezinho :  Isso. Por mais que digam que não e que apenas retratam , eles criam. As escolas não fazem isso que a TV faz. Oferecer como naquele tempo uma Feiticeira e uma Tiazinha como prêmio não é retratar, muito menos ensinar. É criar comportamento errado. Cria expectativa, faz a cabeça, faz o sentimento e, às vezes, cria modismos. Essa estória de dizer que a televisão apenas reflete a realidade não é verdade. Ela cria. E é culpada sim. Voltemos à estória do lixo. Ela não faz o lixo, mas distribui. Tem tanta culpa como quem fez. Ela cria emoções falsas, cria necessidades falsas e leva ao pecado intencionalmente. Torno a dizer: nem todos os programas. A televisão tem um pouco de santo e outro de diabo.

R Z- As novelas retratam com fidelidade a figura do padre?
Pe. Zezinho-  A novela traduz o ideário dos seus escritores. A maioria deles raramente teve convivência com o clero. Se teve, às vezes foi negativa. Então eles jogam para o cenário nacional o conceito que eles têm do padre. Não é o conceito que o povo tem do padre. Mas, com o tempo, acaba pegando. Acontece o mesmo com os pastores ou com os muçulmanos. Há sempre os dois elementos o bom e o mau.  De repente passam a idéia de que pastor corre atrás de dinheiro e de que padre corre atrás de mulheres; ou, ainda, que é um indefinido, um sujeito confuso que não é totalmente homem e que não é totalmente pecador. A idéia que passam é que não existem valores. Passam a idéia de que o  valor supremo é a mudança, é o desafio. Realmente a proposta básica da maioria das novelas é atéia e amoral, mesmo que tenha alguns personagens que falam de Deus. E é claro que não podemos aceitar isso.

RZ: Ela desafia a família ?
Pe Zezinho : A seqüência de novelas dos últimos anos mostra que sim. Ela destrói sistematicamente os valores cristãos sobre família e sobre sexualidade. Os casais desajustados são sempre em maior número do que os casais felizes. Você imagine os males que a televisão causa fazendo isso durante 40 anos. O púlpito deslocou-se da igreja para aquela câmera de televisão e os pregadores não são mais os padres; são os artistas. Os formadores de opinião não são mais os teólogos; são os escritores de novela. O evangelista de ontem é o novelista de hoje. Mas o novelista de hoje não anuncia um novo reino, nem Jesus e, sim uma nova liberdade. A Televisão está virando uma espécie de religião no Brasil. Ela decide que tipo de padre mostrar e que tipo de fé retratar.  Já falamos disso!

domingo, julho 24, 2011

SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO COBRA O ÓBVIO E ESQUECE O ESSENCIAL

Excelente comentário da Jornalista Anna Ruth sobre mais uma declaração autoritária da secretária de educação do Rio Grande do Norte.

terça-feira, julho 19, 2011

IGREJA: SINAL DE SALVAÇÃO

Por ANTÔNIO MESQUITA GALVÃO, Doutor em Teologia Moral

A Igreja continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo  e as consolações de Deus (Santo Agostinho).
Até hoje existe muita gente que possui dúvidas a respeito do que é Igreja, como ela acontece e se organiza na história. A Igreja é aquele lugar onde o plano de Deus se realiza em sua integridade. Como instituição humano-divina, ela não é a salvação em si, mas um sinal desta. Sendo a espiritualidade uma experiência que sempre nos traz uma percepção sobre Jesus sob a ótica da fé, o elemento significativo dessa crença aponta e incorpora um entendimento específico de Deus, e de sua revelação em Jesus de Nazaré. Como sinal de salvação a Igreja é o lugar e a instância onde o cristão vive e desenvolve sua espiritualidade. É salutar que se saiba que o sinal de salvação está na Igreja-comunidade e não na igreja-templo.
O entendimento das coisas do Alto é vivido e sustentado em uma comunidade de fé que tem o nome de ecclesia (reunião de convidados, igreja). Neste tópico vamos refletir sobre a Igreja, mais como um dom de Deus do que como lugar de ritos, templo de pedra. Nessa atividade ela é a aquela instância que concorre para a salvação da humanidade. Mais adiante vamos abordar outra dimensão eclesial: a comunidade.
Há uma gnoma temática atribuída a São Cipriano († 258) que afirma que "Fora da Igreja não há Salvação. Esta frase, que para muita gente pode parecer algo meio arrogante, é uma realidade, e uma realidade profunda. Fora da Igreja não há nem pode haver Salvação porque a Igreja é o Corpo de Cristo, é Jesus continuado na história e é só por ele que podemos ser salvos. Ninguém é salvo por alguma pessoa, padre esse ou padre aquele. Estes podem, no máximo, ajudar as pessoas a chegar mais perto da Igreja, logo a chegar mais perto de Cristo. A Igreja é, portanto, a visibilidade de Cristo no mundo.
A Igreja tem, séculos afora, recebido uma série de definições, cujo valor conceitual varia de época, confissão e até de ideologia. Referimos ao templo como igreja (com i minúsculo) e à comunidade, dom de Deus como Igreja (com i maiúsculo). As definições formam um corpo doutrinário capaz de nos ajudar a entender essa realidade que é, ao mesmo tempo, graça e mistério. Assim temos:
·Povo de Deus (LG 9.17; DV 14; AG 2)
· Corpo Místico de Cristo (cf. Rm 8,17; 1Cor 12,12; Ef 4,7);
· A noiva e esposa do Cordeiro (cf. Ef 5,25; Ap 21,2; 22,17);
· O próprio Cristo continuado e presente na história.

Dentre os mistérios da Divina Providência, já ensinava Pio XII em 1943, impenetráveis à nossa inteligência, Deus quis um como que tocável pela mão: o mistério visível da Igreja imorredoura no meio do mundo. A Igreja é o grande mistério visível. Por sua natureza globalizante o mistério é particularmente objeto da experiência da fé, conforme ensina L. Boff (in: E a Igreja se fez povo. Ed. Vozes, 1991).
Freqüentemente, quando falo a auditórios cristãos, em conferências, cursos e retiros espirituais, escuto algumas perguntas, como "Quem fundou a Igreja?” ou "A Igreja existe desde quando?”. Embora a resposta pareça simples, ela traz consigo algumas implicações histórico-teológico-exegéticas que precisam ser bem esmiuçadas com vistas a uma boa compreensão dos fiéis. Por causa do mistério, a idéia de Igreja não se esgota em simples definições.
Primeiro, a Igreja tem origem nas qahal, assembléias que os hebreus realizavam no deserto, no tempo do êxodo. Tais reuniões, com o tempo passaram das tendas ao templo e daí às sinagogas. Com o advento do cristianismo, vemos Jesus Cristo idealizando o agrupamento dos seus seguidores emcomum-unidade, sempre empregando verbos no tempo futuro ("edificarei minha Igreja...”). Hoje, é voz corrente e teoria aceita que a Igreja foi fundada em Pentecostes, pelo Espírito Santo, que a rege e preside. Há também idéias mais místicas que apontam para uma fundação a partir do sangue derramado pelo coração de Jesus ou, no dizer de Santo Agostinho, "a água e o sangue fundaram e nutrem a Igreja...”.
A verdade é que a interioridade de Deus é uma "Igreja” no sentido de graça, acolhida e benevolência. Quando estamos em união espiritual com o Pai, vivemos o mistério eclesial da comunhão e da participação. É um erro a visão de certas pessoas, ou grupos, que associam a idéia de Igreja com um simples templo material. O edifício não é Igreja; Igreja são os fiéis. O prédio é templo, e templo até certo modo, pois o verdadeiro templo do Espírito de Deus é o coração dos que crêem e se abrem ao assédio da graça (cf. 1Cor 3,16; 6,9). Mais adiante, poderemos ver, para fins ilustrativos, o que não é Igreja. No Concílio Vaticano II os Bispos do mundo inteiro, sucessores legítimos dos Apóstolos, ensinaram que:
A Igreja é, unida a Cristo, como que um sacramento, isto é, um sinal e instrumento da íntima união com Deus e de todo o gênero humano (LG 1).
Isto quer dizer que a Igreja vive de/em Cristo. Na sua ressurreição, ele derramou sobre sua Igreja o seu Espírito Santo – o mesmo Espírito com o qual o Pai o ressuscitou dos mortos. Assim, a Igreja vive do Espírito de Cristo e no Espírito de Cristo... como o corpo que vive da vida da cabeça, como os ramos que vivem da seiva do tronco:
Ele é a Cabeça da Igreja, que é seu corpo (Cl 1,18).
O Pai o pôs acima de tudo, como cabeça da Igreja, que é seu corpo (Ef 1,22).
Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor. Eu sou a videira e vocês são os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada (Jo 15,1.5).
Estes textos são importantes porque nos mostram que há uma união real, concreta, verdadeira, entre Cristo e a comunidade de seus discípulos, que é a Igreja. Não pode haver um ecclesia sensum (um sentido de Igreja) sem uma estreita ligação com as dores do mundo. Em 1981, há portanto trinta anos, o teólogo Leonardo Boff afirmou (in: Igreja, carisma e poder, Ed. Vozes) que
A Igreja em sua reflexão e prática (pelo menos na América Latina) está sendo contemporânea a estas exigências (de evangélica solidariedade). Não chega atrasada com modelos inadequados. Está conseguindo estar a altura dos desafios. A sociedade futura latino-americana terá uma presença estrutural dos elementos cristãos e evangélicos, graças à Igreja que está ajudando a gestar o futuro. Esta verdade é tão forte que analistas já ponderam: uma sociedade latino-americana que não incluir em seu processo, em grau elevado, elementos cristãos, estará se revelando antipopular. A matriz do povo é cristã; esta matriz está sendo expressa dentro de uma codificação que responde às demandas históricas. É a chance de mostrar todo o seu vigor e sua verdade. É nessa direção que caminha a esperança e se define o futuro mais promissor da Igreja da América Latina.
A mensagem libertadora de Jesus, que delineou o itinerário a ser seguido pelos apóstolos, com vistas à instauração da ekklesia tou kyriou, seria iluminada mais tarde com as luzes do Espírito Santo. Nesse particular, a festa de Pentecostes não comemora apenas a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e a Virgem Maria, mas, sobretudo celebra a fundação da Igreja, a qual é presidida pela Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Desde aí, a Igreja de Cristo, apesar das divisões e vacilações, fenômenos tipicamente humanos, tem sido uma presença constante e efetiva entre povos e nações. Sua trajetória pode ser analisada dentro de coordenadas históricas e culturais, onde ela faz parte da história da civilização e desempenha importante papel em todas as épocas da caminhada da humanidade.
Quando o Império Romano desapareceu como estrutura política e cultural, a Igreja foi sua sucessora, buscando resguardar, sob a bandeira do cristianismo, a unidade do mundo ocidental da época, bem como numerosos elementos da cultura greco-romana, que assimilou e cristianizou. Se de um lado é verdade que a Igreja é uma instituição que possui uma administração regida por um conjunto de normas, e é operada pelo que se convencionou chamar de hierarquia, de outro lado é bem verdade que a Igreja é, antes de tudo, o conjunto do povo de Deus, os batizados (in: A. M. GALVÃO. Curso Básico de Teologia. Ed. Pão & Vinho, 2002).
Assim, no terreno conceitual podemos definir a Igreja, de acordo com o que preconiza o Concílio Vaticano II (LG 20) como:
Comunidade dos que crêem em Cristo, confortados pelos sacramentos e assistidos pelo Espírito Santo, que peregrinam pelo mundo, juntamente com seus pastores, continuando a obra da salvação.
A palavra igreja não tem origem religiosa desde o princípio. Ela possui sua origem no grego, onde evvkklhsi,a (ekklesía) significava uma "assembléia” ou uma "reunião de convidados”, já que o verbo ek-kalem, raiz de ekklesía, tem sentido de convidar ou chamar quem está de fora. Do grego o verbete chegou ao latim como ecclésia, já com sentido religioso de uma comunidade.
O verbete igreja aponta, portanto, para o sentido de uma convocaçãoou reunião de convidados, e designa historicamente as "assembléias do povo” (cf. At 19,39). Dando a si mesma o nome de ekklesía, a primeira comunidade dos que seguiam a Jesus se reconhece herdeira das qahaldo deserto. Nela Deus convoca, há séculos, o seu povo desde os confins da terra (CIC 751).
A missão da Igreja será completa quando a aurora do Reino plenamente realizado, surgir no horizonte: então a grande luta travada no tempo atingirá sua conclusão e a vitória de Deus, Senhor de todas as coisas, resplandecerá nos novos céus e na nova Jerusalém Celeste (In: B. FORTE. Exercícios Espirituais no Vaticano. Ed. Vozes, 2005.
É a partir da Igreja que vamos descobrir Jesus como sinal (sacramento) do Pai, e é justamente naquela que é "sinal de salvação” que estabeleceremos nossa união com Cristo. Ela é aquela assembléia visível e – ao mesmo tempo –a comunidade espiritual, instituição terrena e celeste, que mostra o caminho da salvação, ultima o resgate e proclama os direitos do homem. O papa Bento XVI, cardeal Joseph Ratzinger, um dos mais insignes teólogos do nosso tempo, nos ensina a respeito dessa união através de um texto deveras revelador:
A "mística” do Sacramento que se funda no abaixamento de Deus até nós, é de um alcance muito diverso e conduz muito mais alto do que qualquer mística elevação que o homem poderia realizar [...]. A união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros aos quais Ele se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; posso pertencer-lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram ou se tornarão Seus. A comunhão tira-me para fora de mim mesmo projetando-me para Ele e, deste modo, também para a união com todos os cristãos. Tornamo-nos "um só corpo”, fundidos todos numa única existência. O amor a Deus e o amor ao próximo estão agora verdadeiramente juntos: o Deus encarnado nos atrai todos a si (Bento XVI. DCE 16).
Inserida no grande projeto de salvação, a Igreja tem uma missão insubstituível e indelegável que éevangelizar e batizar (cf. Mt 28,19s; Mc 16,16). Evangelizar é anunciar a Verdade de Jesus, santificar o mundo segundo Deus, renovar a humanidade a partir de dentro, iluminar o mundo com a mensagem libertadora de Cristo, promover a dignidade, individual e social das pessoas e – por fim – colocar-se a serviço, especialmente dos mais fracos, dos que sofrem, dos excluídos e dos que clamam por justiça e paz.
Tudo na Igreja vem do amor do Deus Três Vezes Santo: o coração pulsante da Igreja é o agápe, o amor que vem do alto e tende a voltar para o alto. O agápeé a regra de vida dos discípulos de Jesus, que por força de sua revelação acreditam no amor infinito do Pai. O kathós nos faz compreender que a Igreja vive do dinamismo fundamental de deixar-se amar pelo Pai, por Cristo, no Espírito Santo, a fim de amar o Pai, por Cristo e no mesmo Espírito. Amados pelo Amado, somos amados para amar (B. Forte. Idem).
Okathós a que Bruno Forte, o pregador de retiros do Vaticano, se refere, deriva-se do verbo kathassiôo(kaqasio,w), santificar-se, purificar-se no sofrimento. No aspecto das características, podemos enxergar a Igreja divina e a Igreja humana, a qual foram atribuídas quatro notasuna,santacatólica (universal) eapostólica. Antes do Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja era vista como uma instituição perfeita. Hoje, depois de séculos de controvérsias e questões, se diz que a Igreja é santa e pecadora, isto é tem santidade porque vem de Deus e a ele conduz, e é pecadora porque é feita de homens.
A Igreja, como povo reunido e instituição, tem vocação profética. Deve ter fé no caminho de Jesus, confiando na força de Deus e de seu Reino, para poder anunciar uma mensagem de liberdade (J. COMBLIN. O Caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus. Ed. Paulinas, 2004).
Ressaltada a característica libertária da Igreja, é preciso enxergar nela aquela sociedade destinada a promover a salvação dos homens. Santo Agostinho diz que é impossível mantermos o Deus-Trindade em nosso sacrário interior, se não tivermos amor por sua Igreja.
O Espírito Santo que temos corresponde ao amor que temos pela Igreja de Cristo.
A salvação do Cristo presente na sua Igreja é um mistério que eclode no ser humano e revela sua condição de filho de Deus, iluminado pelo Espírito Santo e remido pelo sangue redentor de Cristo. Definir perfeitamente a Igreja está fora do alcance das pessoas. Ela é graça e mistério e essas duas grandezas são indecifráveis, tornando-se apenas dignas de louvor e adoração. A Igreja é mistério porque vindo de Deus e estando a serviço de seu projeto, é sinal e instrumento de salvação. É graça porque ocorre de graça, expressando a gratuidade dos dons de Deus que é rico em misericórdia.
A comparação da Igreja com o corpo de Cristo projeta um raio de luz sobre a íntima relação entre a Igreja e Cristo. Não está somente reunida em tornoa ele: está sempre unificada nele, em seu Corpo. Três aspectos da Igreja "corpo de Cristo” se deve ressaltar mais especificamente: a unidade de todos os membros entre si, por sua união com Cristo; Cristo cabeça do Corpo: a Igreja esposa de Cristo (CIC 789).
Fiel à Igreja e ciente da profundidade da sua missão, São João Crisóstomo († 407) ressalta a importância do ser humano participar dela em todas as instâncias da vida, preparando o caminho que leva ao céu.
Não te separes da Igreja! Nenhuma potência tem a força dela. Tua esperança é a Igreja. Tua salvação é a Igreja. Teu refúgio é a Igreja. Esta é maior que o céu e maior que a terra. Ela nunca envelhece: sua juventude é eterna!
Por se tratar de uma sociedade composta de homens, a Igreja – por causa de sua dimensão humana – traz consigo todos os problemas inerentes a essa condição. Por isto se diz que ela é santa e pecadora. Santa porque vem de Deus e para ele converge e encaminha; pecadora por causa de sua condição humana, frágil, vacilante, vinculada ao barro de Adão. Por conta dessa limitação, os teólogos modernos não cansam de alertar que a Igreja sempre carece de conversão (cf. LG 8: GS 21).
É esta a Igreja-comunidade que existe na vida prática, a qual por conta da sua dimensão humana, não devemos idealizar. Reunida em Puebla, no México, em 1979, a Igreja reconheceu, através de seus teólogos e bispos, essa necessidade de conversão às opções de caridade, cujas exigências dimanam na fé que se coloca a serviço:
Afirmamos a necessidade de conversão de toda a Igreja... Para viver e anunciar a exigência da pobreza cristã. a Igreja deve rever suas estruturas e a vida de seus membros [...] com vistas a uma conversão efetiva (P 1134; 1157).
Assim convertida às exigências da solidariedade e do amor ao próximo, a Igreja poderá tornar-se o grande sinal do amor de Cristo pela humanidade. Essa conversão traz consigo a exigência de um estilo de vida austero e crescente, no campo da espiritualidade, da moral e vida pastoral. Para essa mudança a Igreja sabe que pode e precisa contar com a graça de Deus. No entanto, teologia e espiritualidade que se desviam da idéia da cruz salvadora, não terão muita coisa a dizer sobre a real presença de Jesus nos sofrimentos, fracassos e pecados da humanidade.
Deste modo, é preciso distinguir aquela porção de santidade que existe na Igreja, e que justamente é o dom que Deus dá para a salvação de todos os homens e mulheres que deixam triunfar em si a fé, o amor, a esperança, o perdão e a partilha. A santidade da Igreja significa a presença de Deus em seu seio, através da ação santificadora do Espírito Santo.
O Espírito Santo não se limita a santificar e a dirigir o povo de Deus por meio dos Sacramentos e dos mistérios ordenados, e a orná-los com as virtudes, mas também nos fiéis de todas as classes, "distribui individualmente e a cada um, conforme entende, os seus dons” (1Cor 12,11) e as graças especiais que os tornam aptos e disponíveis para assumir os diversos cargos e ofícios úteis e à renovação e mais incremento da Igreja (LG 12).
No mistério amoroso presente na Igreja, nos deparamos com uma realidade na qual Deus adquiriu para si um povo que antes não tinha nenhum valor, mas que pela intervenção redentora do Filho, tornou-seraça eleitasacerdócio real e nação santa (cf. 1Pd 2,9). Por isto ela é unasanta,universal (católica) eapostólica. Sob essas características a Igreja se constitui, como instituição, a partir dos humildes, convidados pobres, que se espalharam ao redor do Mar Mediterrâneo, e que se foram nucleando pela Palestina, Ásia Menor, Grécia, Norte da África e Roma.
Mesmo assim, depois de conquistar o Império e inaugurar a era constantiniana, a Igreja nunca esqueceu suas raízes pobres. Em toda a rudez de um processo civilizatório que então se iniciava, ela se reservou (pelo menos em muitos lugares) o cuidado dos pobres, para cuja assistência revelou uma impressionante habilidade criativa (in: P. BIGO et alli. Fé cristã e Compromisso Social. Ed. Paulinas, 1981).
A partir do delineamento de sua missão, a Igreja carece um despertar, um vigor missionário, capaz de levar aos povos a boa notícia da salvação. A espiritualidade missionária não pode, em nenhuma hipótese, ser desencarnada, impessoal nem muito menos anacrônica. Estar com Jesus e com os homens é o binômio referencial de uma Igreja que se propõe a ser sinal de salvação.
A ação missionária é um ato de espiritualidade e do amor, em que o crente procura imitar o Mestre. No múnus da missão, como comunidade salvífica, a Igreja se torna peregrina no mundo, na busca de difundir o evangelho e testemunhar a verdade. Como diz Santo Agostinho
A Igreja continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus (In: Civ. Dei. XVIII, PL 41,614).
Assim como a Igreja não é a salvação em si, mas um sinal e indicativo dela, igualmente ela não é o Reino, como afirmavam alguns no passado, mas igualmente um sinal deste. Em face, ressalta-se a figura da Igreja como comunidade dos filhos de Deus para, através dos séculos, realizar a dimensão terrena, aquela que prepara a instauração do Reino dos céus. Por esta razão se diz que a Igreja, mistério da graça, é já na terra o germe e o princípio do Reino. Esse germe deve nascer na história sob o influxo do Espírito Santo, até o dia em que "Deus seja tudo em todos” (cf. 1Cor 15,28). Até então, alerta o documento conciliar, "a Igreja permanece perfectível sob muitos aspectos, necessitada de permanente auto-evangelização, de maior conversão e purificação”.
Jesus não veio ao mundo apenas para nos manifestar sua divindade, ou para nos revelar os grandes problemas da existência humana. Ele veio – e os evangelhos são claros – para que tivéssemos a vida abundante (cf. Jo 10,10), para resgatar o que tinha perecido (cf. Lc 19,10). Este é o verdadeiro objetivo da encarnação do Filho de Deus: oferecer a salvação, isto é, a vida plena, aquela felicidade que o ser humano perdeu desde a expulsão do Paraíso, plenitude que anseia sem conseguir encontrá-la nas coisas do mundo.
Jesus veio para nos dar vida, não individualmente, mas em comunidade. Para tal, constituiu um povo que tem um nome especial: a Igreja, comunidade de salvação e, ao mesmo tempo depositária dos meios para consegui-la (in: D. GRASSO. O Problema de Cristo. Ed. Loyola, 1967).
A Igreja, como povo de Deus em marcha é uma realidade dotada de um dinamismo particular e de uma fé inquebrantável. Trata-se de um corpo de pessoas chamadas a uma vocação especial, geradas misteriosamente para a vida divina, incorporados a Cristo, animados pelo Espírito Santo e tornados capazes de viver uma forma de espiritualidade agradável a Deus. Esta é como uma radiografiada Igreja.
De outro lado, às vezes muitos de nós chegam a confundir a figura da Igreja como uma instituição burocrática, como são algumas "paróquias”, ignorando seu verdadeiro significado e adotando por norma aquilo que "não é Igreja”. Esta questão, de um rico espírito crítico, porém real, está muito bem enunciada em Esquema de Meditações e Rollos, do Secretariado Nacional de Cursilhos de Cristandade do Brasil. São Paulo, 1982,

·um templo de pedra material, edifício feito por mãos de homem;
·uma simples sociedade religiosa;
·somente uma hierarquia que manda (em alguns casos tiraniza) organizada quase militarmente;
·espécie de "poder legislativo” que regulamenta a vida religiosa dos fiéis; ou – pior – um "poder executivo”;
·instituição fora de moda; anacrônica;
·sociedade de seguros eternos;
·lugar de ritos mágicos, tais como Sacramentos, Missas, bênçãos, etc.

Como um itinerário da Igreja, sinal de Salvação, há que se observar a trajetória da graça de Deus na história, onde Jesus, pelo evangelho, pelos sacramentos que ele deixou e por ele próprio (ele que é a salvação de Javé) nos lega pelo poder do Espírito Santo, a Igreja, operadora de graça, com vistas à salvação da humanidade que crê:
Criação→ Povo escolhido → Profetas → Cristo → Espírito Santo → Igreja
Qual a visão que temos da Igreja? Como mestres, o que ensinamos e que características destacamos em nossas pregações e aulas? Cremos naquilo que ensinamos? Há toda uma missão de resgatar a verdadeira doutrina sobre a Igreja, rejeitando as falsas teorias do adversários e inimigos de Cristo.
Na conclusão deste tema, é salutar que compreendamos que a Igreja é um sinal de salvação no mundo, sinal esse que ocorre pela gratuidade da graça da fé e do amor (LG 2.5.9.14; GS 32.40). A salvação, para que não nos gloriemos, não vem das obras humanas, mas do poder e da misericórdia de Deus, valores esses manifestos na Igreja de Cristo.
Ela (a Igreja) encontra força no poder do Senhor ressuscitado, para vencer na paciência e na caridade, as próprias aflições e dificuldades internas e exteriores e, para revelar ao mundo, com fidelidade, embora entre sombras, o mistério de Cristo, até que por fim ele se manifeste em luz total (LG 8).
A Igreja, de acordo com a doutrina paulina, é o Corpo de Cristo, também conhecido como corpo místico de Cristo,onde ele é a cabeça e nós os seus membros. Esta composição é eminentemente mergulhada em um mistério, razão pela qual é chamada de mística.
E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos (Ef 1,22s).

[Excerto da aula inaugural proferida pelo autor em abril/2009 em um Centro de Estudos Superiores de Teologia (Mestrado) em Minas Gerais].

quinta-feira, julho 07, 2011

BÊNÇÃO PELA MÍDIA

Não é incomum ver pregadores católicos, evangélicos e pentecostais abençoarem através da mídia. Nada mais natural, pois a benção não está restrita a lugar. Percebe-se, com freqüência, que alguns deles, abençoam copos de água e o bebem e sugerem a quem pôs o copo de água diante da televisão e do rádio, que também o beba. Atribuem poder de benção sobre objetos à distância. Isso também está na Bíblia. Mas, daí a concluir que a benção dada pelo pastor ou padre, pelo padre ou pastor, através da televisão é mais forte do que a benção dada pelo seu pároco é um passo ousado. Equivale a dizer que a benção de perto, dada pelo padre em carne e osso, vale menos do que a benção de longe dada pelo pregador famoso. Aí confunde-se a fama do pregador com o poder de benção que ele tem. O que não é a mesma coisa!
Se é para receber a benção de uma Igreja, qualquer pregador daquela Igreja, por ela autorizado, deve dá-la. Pode-se recebê-la pelo rádio, ou pessoalmente, lá na Igreja matriz com o pároco. Não é porque um padre famoso fez o sinal da cruz a dois mil quilômetros e a benção veio televisão que, de repente, a benção do padre a quinhentos metros daquela casa valerá menos! Mas é o que tem acontecido! Foi a história a mim contada por um pároco de cidade do interior de Minas Gerais, que ouviu da fiel, que morava a menos de um quilômetro da sua Igreja, que ela não ia perder tempo de andar um quilômetro para ir receber uma benção, se ela poderia recebê-la na casa dela, sentada, pela televisão, por um padre que tinha mais poder do que ele, porque abençoava mais gente do que ele.
O pároco se calou, diante do marido dela, estupefato ele com a dureza da esposa. Mais tarde o marido foi ao padre pedir desculpas. Ele, o esposo não pensava daquele jeito. Disse: – “Minha mulher se deixou influenciar por alguns pregadores de televisão. Porque eles estão mais lá em casa do que o senhor, concluiu que os pastores dela são aqueles que falam pela televisão. Para ele é mais fácil porque podem estar em milhões de casas ao mesmo tempo, para o senhor eu sei que é difícil, porque uma coisa é pregador de mídia e outra é pregador de paróquia. Minha mulher ainda não entendeu isso. Ela foi convencida pela mídia e pelo marketing e ainda não conseguiu estabelecer a diferença. Para ela, padre de mídia tem mais autoridade do que o bispo e o pároco. Mil perdões por minha esposa. Não há santo que a convença que pregador famoso não é o mesmo que pregador preparado”.
Embora com a língua a coçar, o pároco nunca falou do fato na paróquia. Limitou-se a me pedir que, na entrevista que eu daria na emissora de rádio, eu transmitisse essa catequese, coisa que eu fiz com muito prazer, porque acredito que padre de mídia não pode substituir padre de paróquia, de hospital e de colégio e por achar que o dízimo primeiro deve ser dado à paróquia e só depois alguma contribuição para o movimento ou para a televisão. No máximo somos humildes colaboradores. Nunca podemos usurpar. Cabe a nós que trabalhamos na mídia dizer com clareza: – “Minha benção vale menos ou tanto quanto outras bênçãos. Não atribua a mim uma santidade ou um poder que eu não tenho só porque estou na mídia. Seu padre aí pertinho da sua casa, tem muito mais direito do que eu até porque tem mais deveres junto a você.” É o que digo, falo e faço.
Sei dos limites de trabalhar na mídia, sei também do valor de um bispo e de um sacerdote que se desgastam no seu cotidiano pelo bem do povo de Deus a ele confiado. Trabalhar na mídia pode até ser mais sensacional, mas não é nem deve ser mais importante. Registre-se esta observação de quem já tem 45 anos de mídia!…

Pe. Zezinho, scj.

REFLEXÃO PARA O 4º DOMINGO DA PÁSCOA – JOÃO 10,11-18 (ANO B)

O evangelho do quarto domingo da páscoa é sempre tirado do capítulo décimo do Evangelho de João, no qual Jesus se auto apresenta como o ún...