Com o Evangelho deste sexto domingo da páscoa (Jo 14,23-29),
continuamos a contemplar Jesus com seus discípulos na última ceia, segundo o evangelista João. É o ápice do ensinamento de Jesus aos seus, quando lhes dá o
seu testamento, o qual apresenta o amor como palavra-chave.
Antes de nos determos ao texto proposto, é indispensável recordar o
versículo que o precede (v. 22): “Judas – não o Iscariotes – perguntou-lhe: Senhor, por
que te manifestarás a nós e não ao mundo? ”. Portanto, o que Jesus diz a partir
do versículo 23 é a sua resposta à pergunta de Judas.
Jesus continuava o testamento e falava exatamente da sua identidade
com o Pai. Antes, tinha falado da identidade do discípulo com Ele mesmo, apresentando
o amor como o instrumento único de medida. Assim, a pergunta de Judas (não o
traidor!) revela o medo e a fraqueza da comunidade dos discípulos: se ele
questiona porque Jesus se revela somente a eles e não ao mundo, é porque não se
sente capaz de amar à maneira de Jesus, como exigia o novo mandamento, a ponto de ele mesmo é ser revelação de Jesus ao mundo.
Ora, Jesus se revela aos discípulos esperando que estes dêem, perante
o mundo, um testemunho capaz de tornar conhecido o seu próprio amor (cf. Jo
13,35). Em outras palavras, Jesus quer que o mundo o reconheça pelo testemunho
dos seus discípulos. É pela vivência do seu amor pelos discípulos que Jesus
quer se tornar conhecido.
Jesus responde ao discípulo dizendo que Ele e o Pai se revelam
naquele que o ama, e quem o ama guarda a sua palavra (v. 23). A sua palavra,
aqui, é o seu mandamento, aquele do amor (cf. Jo 13,35). Assim, não apenas Ele,
mas também o Pai se manifestará, porque os dois, Jesus e o Pai, vem fazer
morada no discípulo (v. 23).
Os discípulos queriam manifestações extraordinárias, coisas
mirabolantes e espetaculares, como milagres e curas. A resposta de Jesus mostra
a distância que há entre a sua proposta e a expectativa dos discípulos. Seu
canal de manifestação é apenas o amor. Quem ama de verdade se torna morada de
Jesus e do Pai.
Percebendo a incompreensão e incapacidade dos discípulos viverem
verdadeiramente o amor, Jesus assegura-lhes que sua partida do meio deles não significa
ausência. Continuará presente junto com o Pai naqueles que guardarem sua
palavra (v. 23). Assim como ele está sendo acusado pelo mundo (condenado), por
ter amado verdadeiramente, também seus discípulos serão, caso amem como ele
mandou.
Por isso mesmo, ele enviará o Espírito Santo com a função de advogado: para + klhtoj =
paracletoj. Somente João usa essa palavra. Trata-se de uma palavra grega composta: para (junto a) + klhtoj (chamado), cujo
significado literal é “chamado a estar junto”. Como Jesus está sendo processado, seus
discípulos também serão e, por isso, necessitarão de alguém perto para
defendê-los das acusações. Este será o Espírito Santo, o qual os instruirá e os
recordará constantemente (v. 26), sobretudo quando estes esquecerem o
essencial: o amor.
Jesus se despede desejando-lhes a paz (v. 27). Trata-se de uma saudação
comum entre os judeus. Tanto se desejava paz ao chegar quanto ao sair. Era uma
forma de comprimento. Mas, Ele não quer apenas repetir uma formula. Na verdade
Ele amplia enriquece seu signficado, dando um novo sentido. Por isso, Ele não a
dá como o mundo. Com essa expressão, Ele faz uma dupla crítica: aos judeus e
aos romanos. A crítica aos judeus consiste em tornar a paz uma realidade capaz
de superar as perturbações do coração e o medo (v. 27), e não um mero
formalismo. Aos romanos ele dirige uma crítica irônica, uma vez que no seu
tempo vigorava a famosa ‘pax romana’, uma farsa do império para ofuscar
qualquer movimento libertador.
A paz de Jesus é única! Não há uma ‘paz’ para saída e outra para chegada,
mas uma paz permanente, porque Ele vai para o Pai (v. 28), mas permanece junto
com o Pai naqueles que guardam suas palavras, ou seja, naqueles que amam!
Francisco Cornelio Freire Rodrigues
Maravilhoso!uma verdadeira aula enriquecedora.
ResponderExcluirMaravilhoso!uma verdadeira aula enriquecedora.
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