segunda-feira, março 20, 2017

REFLEXÃO PARA O III DOMINGO DA QUARESMA – JOÃO 4,5-42 (ANO A)


(AINDA EM CONSTRUÇÃO)

No Terceiro, Quarto e Quinto Domingo da Quaresma, deixamos de lado o Evangelho segundo Mateus para nos dedicarmos ao Quarto Evangelho, ou seja, João. Neste Terceiro, o texto proposto é Jo 4,5-42, o célebre episódio do encontro de Jesus com a mulher Samaritana, uma verdadeira obra prima de João. Antes de tudo, se trata de um texto catequético, usado desde os primórdios da Igreja na preparação para o batismo dos catecúmenos. Porém, reduzi-lo a essa função é menosprezar a ampla riqueza que o texto possui.

Esse é um episódio exclusivo do Evangelho de João e faz parte de uma série de acontecimentos importantes da vida de Jesus, desde as bodas de Caná (Jo 2,1-12), incluindo o desmascaramento do templo (Jo 2,13-22). Além, de complexo teologicamente, esse é um texto bastante longo, o que nos impossibilita de analisa-lo versículo por versículo; diante disso, procuramos apresentar apenas seus aspectos principais.

Como sempre, é imprescindível conhecermos o contexto do tempo para que possamos compreendê-lo de modo mais profundo; para isso, é necessário recordar os primeiros versículos deste capítulo 4 de João: Jesus encontrava-se na Judéia e, como sua fama já tinha se espalhado, aquele território tornava-se perigoso para Ele (vv. 1-2), ainda mais depois da confusão por Ele criada ao desmascarar os detentores do poder religioso no templo (cf. Jo 2,13-22). Diante de tudo isso, Ele deveria retornar para a Galileia, sua terra (v. 3). Eis que no seu itinerário estava a Samaria, região central entre a Judeia e a Galileia, por onde deveria passar (v. 4).

Embora fosse uma necessidade frequente, atravessar a Samaria era sempre motivo de tensão, tendo em vista a hostilidade histórica que reinava entre os praticantes do verdadeiro judaísmo e os habitantes daquela região. A rivalidade entre judeus e samaritanos tem sua origem no cisma que dividiu o único Reino de Israel em dois. Para competir com o culto do templo de Jerusalém, Jeroboão I, rei do Norte, cuja capital era Samaria, construiu diversos santuários em seu reino, proibindo que sua população fosse até Jerusalém para participar das liturgias no grande templo. O culto praticado nestes santuários era, obviamente, considerado ilegítimo pelos judeus.

A ilegitimidade do culto no reino do Norte se acentua ainda mais após a invasão assíria em 722 a.C.. Além de deportar a população local, a Assíria trouxe as populações de suas outras colônias para repovoar a Samaria e todo o reino do Norte, constituindo um povo mestiço e plural. As populações estrangeiras levaram seus costumes e tradições para a Samaria, juntamente com suas diversas práticas cultuais (2 Rs 17,24-28). Isso tudo levou o povo da Judéia a considerar os habitantes do Norte como impuros e heréticos e, portanto, desprezíveis. Assim, na mentalidade judaica o povo puro, eleito, raça santa, estava no Sul, ou seja, na Judeia, e o povo herege e impuro estava no Norte.

Aos poucos, o povo da Galileia, extremo Norte, recuperou sua condição de raça eleita, embora de segunda categoria, já que a pureza genuína estava com os habitantes da Judeia, e o rótulo de impuro ficou exclusividade dos habitantes da região central, a Samaria. É claro que foi a religião judaica que criou e alimentou todas essas diferenças. É a partir desse contexto que devemos ler o episódio de hoje.

O propósito de João ao narrar esse episódio é muito claro: apresentar Jesus como aquele que elimina as barreiras e quebra os preconceitos de raça e religião. Disso, evidenciamos que a “mulher samaritana” é uma personalidade corporativa, ou seja, não se trata de uma síngula pessoa, mas de uma comunidade por ela representada; é na verdade, o povo samaritano que é chamado por Jesus a reintegrar a comunidade dos eleitos, uma vez que, de agora em diante, não há mais distinção nem rótulos, mas todos e todas fazem parte de um único povo, uma única família. Para fazer parte dessa família, a humanidade renovada, basta adora em Espírito e Verdade (v. 24).


Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues

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